Buch lesen: «Revelando O Rei Feérico», Seite 2

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– Mãe – gritou enquanto o estômago revirava com o que via. O chá que bebeu mais cedo subiu correndo por sua garganta e logo saiu pela boca e pelo nariz. Maurelle tentou ver se o peito da mãe subia e descia, mas foi arrastada pela porta antes de poder tomar uma decisão.

– Procurem o papai – gritou para as irmãs, enquanto era arrastada pelas escadas. O brilho forte do sol zombava do pesar que irrompia por seu peito enquanto o feérico a jogava em uma caçamba. Com ela de bruços, o macho pressionou um disco atrás das correntes, e elas caíram com um estalo. Precisava de uma daquelas chaves para algemas.

Rápida, ela lutou para ficar de pé e tentou passar por ele correndo, para que pudesse procurar o pai. Enquanto a porta batia às suas costas, Maurelle olhou para trás e viu as irmãs abraçadas na portaria do complexo de apartamentos que eles chamavam de lar. Aquilo não podia estar acontecendo, disse a si mesma.

Enquanto o coração se partia em um milhão de pedaços, ela chutou as barras que a mantinham afastada das irmãs. Não estaria lá para confortar o pai ou para ajudar a acalmar Nyx e Erlina.

Os dedos rodearam as barras e ela gritou para quem quisesse ouvir que ela estava sendo levada à força. Pela primeira vez desde que seus poderes se manifestaram, ela não foi arrastada para uma visão.

A vida real se agarrava com força à sua alma estilhaçada e ela se recusava a soltar. Eles mataram sua mãe de forma cruel porque ela não queria que Maurelle fosse para aquele conservatório maldito. Como poderia seguir em frente quando sua mãe gentil e amorosa não estava mais lá? Nem sequer seria capaz de se despedir dela e de ajudar a enviar o espírito dela para o além.

Não deveria ficar surpresa, não depois da tortura que testemunhou na sua última visão. Qualquer um que permitia uma coisa daquelas acontecer não dava a mínima para quem eles machucavam em sua sede por poder e dominação.

CAPÍTULO TRÊS


A dor agonizante disparou pelo ombro de Ryker enquanto ele repassava as imagens brilhando na mesa a sua frente. Não podia erguer o braço machucado sem sentir uma dor significativa. Depois de recuperar a consciência na enfermaria do conservatório, a vida tinha sido melhor do que esperara.

Foi meio que um alívio ver que, desde que tomaram o poder, os humanos não tinham dado início a um esquema maligno ali no conservatório. Para dizer a verdade, ficou surpreso pelo tanto que o lugar lhe pareceu normal. As crianças feéricas frequentavam a escola por muitos anos para aprenderem a ler e escrever e essas coisas.

Historicamente falando, o Conservatório de Bramble’s Edge servia para ajudar os feéricos a controlar os poderes à medida que se tornavam jovens adultos. O foco ali não era a educação formal, mas o controle das habilidades. Talvez, fosse apenas isso que acontecia lá.

Nada suspeito ou nefasto ocorreu desde a sua chegada e isso fez Ryker questionar toda a sua infância. Especificamente, como a mãe não parava de dizer o quanto os humanos eram criaturas malignas que mantinham o controle sobre o reino deles.

Será possível que um feérico que não se simpatizava com humanos administrasse a escola? Tinha que pensar que era bem provável, dada a forma como tinha sido tratado. A curandeira passou uns dois dias trabalhando no reparo da sua asa, centímetro por centímetro, para que ele pudesse voltar a voar em algum momento.

Alguém que o quisesse sob controle, que ele agisse como um escravo, não tomaria tanto cuidado ao tratar do seu ferimento. Imaginou a mãe dizendo que ele não deveria confiar em ninguém. Que precisava ficar na dele e permanecer fora dos holofotes.

Era como planejava agir no conservatório. Teria que cumprir seu tempo ali sem chamar atenção para si mesmo. Não seria difícil fazer a prova que o ajudaria a descobrir quais eram as suas habilidades, assim como onde sua afinidade estava enraizada. Um dos companheiros de dormitório era um feérico de terra e o outro, da água. E o terceiro mostrou afinidade com dois elementos.

Aquilo nunca tinha acontecido, até onde Ryker sabia. Muitos poucos eram alinhados com mais de um elemento, e quando acontecia, normalmente os elementos eram complementares. Parte dele queria ter mais de um, e ele não tinha ideia do porquê.

Não era como se soubesse o que significaria para ele. Pelo que Sol lhe dissera, havia aulas e treinamentos extras. Ryker gostava de ter tempo para jogar bola no arco, e tempo era algo que Sol não tinha naquele momento.

Depois de fazer suas escolhas, Ryker se virou e examinou o refeitório. Nunca tinha visto um lugar como o Bramble’s Edge Academy. Os dormitórios eram tão grandes quanto o apartamento no qual morava com a mãe, e o refeitório era enorme com inúmeras mesas e bancos preenchendo o local. Os feéricos não tinham acesso à tecnologia, então ficou surpreso pelo pedido de comida ser feito a partir de imagens sobre a mesa, e o botão ainda dava uma tremidinha quando apertado.

Os colegas de dormitório explicaram que o que escolhiam era trazido logo depois que pressionavam o botão com o símbolo da escola. Ryker sempre amou o símbolo do conservatório. Algo nas letras ‘BE’ rodeadas pelos espinhos das amoreiras se conectava com a sua alma. Havia várias coisas na Edge e muitas outras que mexiam com as suas emoções.

Depois de a mãe o encorajar a fugir antes de ele ser coletado, Ryker esperou odiar tudo ali no conservatório, mas não odiou. Na verdade, gostava de muita coisa. As paredes dos prédios mais antigos foram erguidas com magia feérica, e pareciam recebê-lo com alegria. Sim, percebeu que era meio louco pensar daquele jeito, mas era como se sentia.

As salas e as áreas de treino eram tão diferentes das da sua antiga escola. Havia muito lugar para treinar e aprender o que não aprendera antes. Quando criança, foi para uma escolinha que atendia somente os prédios da rua onde morava. As salas da escola primária ficavam no segundo andar de uma padaria e eles almoçavam na própria sala de aula.

A comida no conservatório também estava à altura da da sua mãe. Não que ela fosse a melhor cozinheira da Edge, pensou, mas chegava perto. Havia muitas opções e sempre tinha algum tipo de ensopado, o que caía muito bem no clima mais frio.

O clima em Mag Mell quase nunca era quente, e chovia com frequência, então Ryker preferia as refeições mais robustas. Na Edge era difícil encontrar frutas e legumes frescos, mas o conservatório não parecia sofrer do mesmo problema.

Da primeira vez que pôde sair da enfermaria, Ryker não tinha certeza do que esperar das refeições naquele lugar. Não tinha imaginado as dezenas de opções que teria, já que recebera refeições insossas enquanto estava na área hospitalar.

Pela forma com que a mãe descrevia os horrores do conservatório, pensou que seriam alimentados com coisas desconhecidas, e que não teriam escolha. Muito naquele ambiente não se encaixava com suas imagens preconcebidas do lugar.

Plantas de verdade preenchiam os cantos do salão, e janelas do chão ao teto dava a eles uma vista do oceano à distância. A vista em si era muito serena.

Como um lugar tão mágico seria o lugar errado para ele?

Ryker olhou para cima quando Sol e Brokk se aproximaram da mesa. O terceiro colega de dormitório, Daine, já estava ali com ele.

– Já recebeu notícias sobre a sua avaliação? – perguntou Sol.

Ryker sacudiu a cabeça e agradeceu à fadinha que trouxe a comida.

– Não avisaram nada ainda. Talvez estejam me dando mais tempo para me recuperar.

Brokk lançou um olhar para Sol, um que Ryker não conseguiu entender.

– Como está a sua asa?

Ryker tensionou o músculo que a controlava e ela saltou sobre o seu ombro. Não foi capaz de reprimir o tremor causado pelo movimento.

– Ainda está curando. É melhor agradecer ao curandeiro.

– Ainda não consigo acreditar que você saiu voando com grilhões nas mãos – murmurou Sol, balançando a cabeça com tristeza. – Por que faria uma coisa assim? Odeia a escola a esse ponto?

A pele de Ryker formigou. Aquele era primeiro sinal de que algo não estava muito certo. Era uma pergunta bastante inocente, mas cada feérico da Edge sabia sobre o Conservatório e ninguém queria ir para lá.

A crença popular era de que eles faziam lavagem cerebral e os moldava para servir de escravos para os humanos. Lembrou-se dos amigos contando histórias que tinham ouvido sobre os horrores que se passavam por trás dos portões de ferro que isolavam a escola.

Ryker tinha certeza de que a conversa de a magia dos feéricos ser sugada de seus corpos e engarrafadas para consumo humano era falsa. Tinha certeza de que os prédios seriam desprovidos de vida. E de que os indivíduos naquele refeitório não estariam conversando, mas sentados com os rostos inexpressivos.

Se o que quer que fizesse de Ryker um feérico tivesse sido removido de seu corpo, ele não imaginava que teria mais qualquer força. A pergunta que girava por sua cabeça era até que ponto poderia confiar naqueles machos? Fazia muito pouco tempo que estava ali para que os conhecesse bem.

Não havia como prever o que aconteceria se confessasse a verdade para Sol. Ryker não arriscaria a segurança da mãe, de jeito nenhum. Felizmente, ela manteve a boca fechada depois que os guardas chegaram, então ela não teve envolvimento na sua tentativa de fuga.

– Tira a mão, caralho – a voz de uma fêmea ecoou pelo refeitório, fazendo todo mundo olhar para as portas duplas abertas do outro lado do recinto.

Ryker olhou boquiaberto para a figura ágil se remexendo nos braços de um macho. Não estava lá há tempo o bastante para saber o nome do macho ou o papel que ele tinha na escola. A fêmea tinha cabelos rosas e emaranhados e se contorcia nos braços dele, tentando se libertar.

Foi tudo o que pôde ver de primeira. Quando ela virou o rosto, Ryker notou que as bochechas dela estavam coradas, mas não era de vergonha. Ela estava puta. Olhar para ela era como olhar para uma tempestade no oceano. O fogo desafiador que queimava naqueles olhos cinzentos chegava a brilhar. Mas detectou algo sob aquela fúria.

Não pôde deixar de imaginar qual seria a história dela. Ao contrário de qualquer outro estudante, ela chegou refeitório vestindo calças largas de algodão e uma camiseta amarrotada. Inclinando a cabeça, Ryker notou que ela também estava descalça. Aquela era nova.

Em uma fração de segundo, a fêmea chutou o macho à direita. Ryker se encolheu e segurou a virilha quando o pé dela foi direto para o meio das pernas do guarda. Todo macho na sala se segurou sentindo a dor dele. Bastava um único golpe naquela área para saber a dor que causava.

Ela estava em movimento no instante seguinte, os dedos em riste percorrendo o rosto do outro homem.

– Maurelle – ladrou uma fêmea mais velha.

Quando a fêmea furiosa parou e olhou para cima, ele percebeu que cabelo-rosa se chamava Maurelle. Não pôde deixar de notar que o peito dela estava arfante, e as lágrimas se empoçavam nos olhos enquanto ela parava e olhava feio para a feérica mais velha.

– Quem é aquela? – sussurrou Ryker, não querendo chamar atenção para si, mas ansioso para saber por que a fêmea tinha parado de lutar. Havia uma leve pungência no ar que fez Ryker trincar os dentes.

– Aquela é a diretora Gullvieg. Ela é a manipuladora de mente mais poderosa de Bramble’s Edge – respondeu Sol.

– Vai me matar também? – cuspiu Maurelle, e jogou os ombros para trás para tirar a mão que pousou ali.

A pergunta fez a tensão preencher o recinto. Ryker continuou esperando alguém impedir Maurelle de desafiar a autoridade de Gullvieg, mas nada aconteceu. A diretora estreitou os olhos e se aproximou da fêmea irritada.

– Estive esperando sua chegada para poder fazer meu discurso de boas-vindas. Todo o conservatório está esperando você pegar a sua comida e se acomodar – informou-a a diretora. O tom ríspido com que ela falou o nome de Maurelle há apenas um momento tinha desaparecido. Por tudo o que Ryker sabia, ela poderia muito bem estar falando sobre o tempo. Não havia qualquer sinal de que Maurelle a tivesse aborrecido.

Os dois machos parados um de cada lado de Maurelle fizeram-na enrijecer. Antes que Ryker percebesse, ele tinha ficado de pé. A mão de Brokk em seu antebraço o impediu de ir socorrer a fêmea.

Depois de praticamente fuzilar os machos com os olhos, Maurelle ergueu o queixo e entrou no refeitório. O olhar dela se prendeu no de Ryker e ele teve que se esforçar para não demonstrar qualquer reação.

Ela era linda, pensou. O rosto fino estava em total desacordo com o corpo voluptuoso. Ela era alta, mas não tinha o corpo reto que era típico dos feéricos. A camiseta estava esticada sobre os seios maiores que a média, e os quadris balançavam a cada passo que ela dava.

Sendo feérico, Ryker não era estranho ao sexo, mas Maurelle fez sua mente ir direto para o quarto. Imaginou o quanto aqueles lábios eram macios. No momento, eles estavam franzidos e nenhum pouco convidativos, mas aquilo não reduzia o apelo dela.

Ryker caiu no banco e observou enquanto ela cerrava os punhos e olhava feio para a diretora.

A fêmea ficou de pé por vários segundos até seguir para a mesa. O tempo todo com os olhos fixos em Ryker. As asas dela batiam inquietas nas costas. O brilho turquesa e rosa combinava com o que viu da personalidade dela. Ela era uma das fêmeas mais fortes que já vira.

O fato de ela não ter rolado e ficado parada feito uma boneca de trapos o atraiu ainda mais que a aparência dela. O fogo o atraiu para a feérica antes que pudesse vê-la melhor. Depois de pegar um pouco de pão e outras coisas, ela olhou ao redor da sala.

Quando a fêmea veio em sua direção, o coração começou a bater com força e ele quis se levantar para ir até ela. Seu estômago se contorceu e a testa começou a suar. Ele estava tendo dificuldade para ficar sentado ali sem fazer nada. Não era como se ela estivesse vindo para a mesa dele, havia ao menos mais outras dez mesas ao seu redor. A última coisa de que precisava era uma amizade com essa fêmea problemática. Já tinha irritado os poderosos do conservatório quando tentou escapar da coleta.

Forçando o olhar de volta para a comida, Ryker pegou o garfo e começou a comer. Era difícil não olhar para cima e ver onde ela tinha decidido se sentar. Quando uma mão delicada surgiu ao lado dele, a cabeça se ergueu feito um foguete.

Maurelle estava puxando a cadeira ao seu lado. Quando aquele olhar encontrou o dele, não pôde deixar de notar as olheiras dela. O que o fez pensar que ela tinha resistido tanto quanto ele.

– Oi – cumprimentou Brokk, acenando de seu lugar do outro lado da mesa. Maurelle ergueu os olhos e acenou para ele com a cabeça. – Eu sou o Brokk. Ouvi Gullvieg te chamar de Maurelle. É isso mesmo?

– É – respondeu ela, então virou a cabeça para Ryker. – Você é novo, não é? Como está a sua asa?

O queixo caiu por um segundo então ele se recuperou do choque ao enfiar um pouco de comida na boca. Fez que sim enquanto mastigava e engolia.

– Eu sou o Ryker. E, a asa está melhorando. Os curandeiros fizeram um ótimo trabalho ao consertá-la. – Ele voltou a flexionar o músculo da asa, fazendo-a saltar sobre o ombro antes de baixá-la novamente. Não queria ser um idiota, então falou com ela, mas também não queria levar as coisas longe demais.

Já tinha chamado atenção o suficiente com a sua tentativa de fuga e não queria adicionar essa fêmea à sua lista de amigos próximos e acabar atraindo para si o intenso escrutínio de Gullvieg. Esperava ter dispersado quaisquer preocupações que a perversa diretora tivesse sobre ele.

Recostando-se na cadeira, ela ergueu a mão e a esticou como se fosse tocar a sua asa. Ryker ficou congelado por instinto. Provavelmente entendendo a razão por trás do movimento, ela abaixou a mão. Era melhor ficarem afastados um do outro, mesmo apesar da atração abrasadora que sentia por ela.

– Ao menos você ainda está vivo. Temi que também estivesse morto – disse ela, enquanto brincava com a comida no prato, franzindo o cenho.

A diretora ficou de pé e ergueu as mãos.

– Gostaria de dar as boas-vindas para todos em mais um ano aqui no Conservatório Bramble’s Edge Academy. Tenho orgulho por estar no comando desta instituição nos últimos trezentos anos. Vocês não receberão instrução melhor para poder controlar suas habilidades. Temos vários novos estudantes que serão avaliados depois de amanhã.

Ryker ouviu Gullvieg dizer onde as salas de aula estavam assim como sobre os campos de treino. Ele desligou o discurso e se concentrou em Maurelle. Como aquela fêmea tinha sabido da sua tentativa de fuga? Ela o vira tentar voar enquanto estava acorrentado? Os colegas pediram licença assim que o discurso de boas-vindas chegou ao fim, pois eles não precisavam ouvir o que estava sendo dito.

Puxando o assento para mais perto de Maurelle, ele se inclinou para ela e perguntou:

– Como soube o que aconteceu comigo?

Os olhos cinzentos estavam vermelhos nas bordas quando voltaram a focar nele, e o suor despontava na testa dela.

– Ah. O coletador que me capturou usou uma daquelas faixas mágicas…

– Grilhões – interrompeu-a, falando o nome das algemas.

Ela acenou em resposta.

– De qualquer forma, eu te vi tentando fugir e cair depois de bater na barreira no segundo em que toquei naquela coisa.

– Você é psicométrica – disse ele, enquanto pensava no que ela dizia. Não ficou surpreso por ela ter resistido a ser levada. Apesar da decisão de manter as coisas superficiais, temeu que ela não estivesse muito bem. – Você foi ferida quando eles te capturaram?

Os olhos da fêmea voltaram a se encher de lágrimas e ela abaixou a cabeça. A forma como os ombros se curvaram, e como ela perdeu cada grama do espírito combativo de antes, partiu o seu coração. Teve que xingar muito e se passar muitos sermões para ficar parado ali, tentando não confortá-la.

– Não. Eu não fui ferida, mas a minha mãe… ela foi… ela tentou me ajudar.

A voz da fêmea era tão baixa que ele teve que se inclinar para mais perto para ouvir o que ela dizia.

– Espero que sua mãe esteja bem. A minha não fez nada quando eu me atirei pela janela.

– Você tem sorte por ela ter ficado calada. Eles mataram a minha mãe – disse ela, entredentes.

Ficou chocado demais para ficar feliz ao ter outro vislumbre daquele fogo interior.

– O quê? Como você está aqui agora? Eu sinto muito – apressou-se a dizer. O comentário foi completamente insensível. Nunca tinha ouvido qualquer história sobre alguém morrer durante uma coleta. O fato de aquela bela fêmea ter perdido a mãe o fazia querer atravessar a diretoria e fazer um estrago. O que aconteceu era inaceitável, porra.

Aquilo não era ser distante e desapegado, lembrou a si mesmo. A injustiça o atingiu na alma. Nenhum feérico deveria sofrer daquele jeito. Não tinha nada a ver com ela em particular, assegurou a si mesmo.

– Se eu tivesse escolha, teria ficado em casa com meu pai e minhas irmãs, enviando-a para o além. Essas pessoas são monstros.

Ele colocou a mão sobre o ombro dela oferecendo o pouco de conforto que podia dar. Nenhum sorriso brilhou nos olhos dela quando o olhou. Ele ergueu a mão, não querendo se aproximar mais, apesar de o luto dela estar à flor da pele e a cortando em pedaços. E foi então que ele percebeu que aquilo deveria ter acabado de acontecer.

Explicava por que ela vestia o que parecia ser um pijama em vez da roupa preta com o símbolo da escola. Como eles podiam ter tirado e vida da mãe dela e a forçado a ir a um banquete de boas-vindas, como se nada tivesse acontecido?

Ficou claro para ele, naquele momento, que os rumores sobre o conservatório, talvez não sobre o conservatório em si, mas sobre os humanos no poder, fossem verdadeiros. Afinal de contas, toda história de terror tinha um fundo de verdade.

Aquele podia ser um acontecimento isolado. Eles estavam mais do que preparados para fazer aquela fêmea se curvar aos seus desejos. Governar pelo medo mantinha as objeções no mínimo. Havia encantos que poderiam lançar e coisas que poderiam fazer para impedir Maurelle de falar, mas não iriam diminuir a dor que ela sentia.

A cena que ela causara quando entrou no refeitório chamou a atenção de todo mundo. Não havia dúvida de que vários estudantes ao redor tinham ouvido o que aconteceu. O rumor sobre a morte da mãe dela percorreria o campus em um instante.

– Você não está sozinha aqui – prometeu a ela. – Infelizmente, acredito que encontrará outra pessoa que possa se identificar com o que você passou. – A esperança que se acendeu nos olhos dela o fez adicionar a última parte para se assegurar de que ela entenderia que ele não estava falando de si mesmo.

– Sei que você está certo. É por isso que eu… ai – disse ela, enquanto se encolhia e levava a mão à cabeça. A palidez da pele dela assumiu um tom meio esverdeado.

– Você não parece estar muito bem. Já foi ver um curandeiro?

Ela moveu a cabeça de um lado para o outro, fazendo as madeixas rosadas flutuarem pelo ar.

– Estava doente quando eles foram me pegar. Acabei de chegar. Eles me fizeram vir aqui primeiro.

– Você está péssima. A enfermaria fica no segundo andar, na ala leste – ofereceu, enquanto ficava de pé. Era tudo o que podia fazer por ela. Não iria colocar um alvo ainda maior nas suas costas.

– Obrigada – murmurou ela, levantando-se.

Caminhou ao lado da fêmea desejando poder fazer alguma coisa para melhorar a situação. Nenhum deles disse nada enquanto andavam. Ele agiu como um idiota e sequer se despediu quando seguiram por caminhos diferentes e foi até o quarto andar, onde o seu dormitório estava localizado.

O ventre se contorceu ao mesmo tempo que a virilha pensou que seria uma boa ideia se entregar àquela atração. Parecia que um banho frio tinha acabado de virar uma prioridade. Faria isso logo depois que se esfolasse de dentro para fora por ter tratado Maurelle como se ela fosse uma inconveniência.

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