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Agora e Para Sempre

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Aus der Reihe: A Pousada em Sunset Harbor #1
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AGORA E PARA SEMPRE

(A POUSADA EM SUNSET HARBOR — LIVRO 1)

S O P H I E L O V E

Sophie Love

Fã de longa data de romances, Sophie Love está muito feliz em publicar sua primeira série de livros: AGORA E PARA SEMPRE (A POUSADA EM SUNSET HARBOR – LIVRO 1). Sophie adoraria ouvir seus comentários, então, visite www.sophieloveauthor.com se quiser enviar-lhe um e-mail, receber eBooks de graça, saber das novidades e manter contato!

Copyright © 2016 por Sophie Love. Todos os direitos reservados. Exceto como permitido pelo Ato de Direitos Autorais dos EUA, publicado em 1976, nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida em qualquer formato ou por qualquer meio, ou armazenada num banco de dados ou sistema de recuperação, sem permissão prévia da autora. Este eBook está licenciado apenas para uso pessoal. Este eBook não pode ser revendido ou doado a outras pesoas. Se você quiser compartilhar este eBook com outra pessoa, por favor, compre uma cópia adicional para cada indivíduo. Se você está lendo este livro sem tê-lo comprado, ou se não foi adquirido apenas para seu uso, por favor, devolva-o e compre seu próprio exemplar. Obrigado por respeitar o trabalho da autora. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e incidentes são produto da imaginação da autora ou usados de forma fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência. Foto da capa: STILLFX, totos os direitos reservados. Usada sob licença da Shutterstock.com.

SUMÁRIO

CAPÍTULO UM

CAPÍTULO DOIS

CAPÍTULO TRÊS

CAPÍTULO QUATRO

CAPÍTULO CINCO

CAPÍTULO SEIS

CAPÍTULO SETE

CAPÍTULO OITO

CAPÍTULO NOVE

CAPÍTULO DEZ

CAPÍTULO ONZE

CAPÍTULO DOZE

CAPÍTULO TREZE

CAPÍTULO CATORZE

CAPÍTULO QUINZE

CAPÍTULO DEZESSEIS

CAPÍTULO DEZESSETE

CAPÍTULO DEZOITO

CAPÍTULO DEZENOVE

CAPÍTULO VINTE

Capítulo Um

De novo, Emily passou as mãos pelo tecido acetinado do vestido para desamassá-lo, provavelmente pela centésima vez naquela noite.

“Você parece nervosa”, Ben disse. “Não comeu quase nada”.

Ela olhou para o frango praticamente intocado no prato e, então, voltou-se para Ben, sentado à sua frente na mesa lindamente arrumada, o rosto iluminado pela luz da vela. Para o aniversário de sete anos deles, seu namorado havia escolhido o restaurante mais romântico de Nova York.

É claro que ela estava nervosa.

Sobretudo desde que notou que a pequena caixa da Tiffany escondida na gaveta de meias dele, que ela havia encontrado há poucas semanas, não estava lá quando foi checar naquela noite. Tinha certeza de que esta era a noite em que ele finalmente a pediria em casamento.

Esse pensamento fez seu coração bater mais rápido, com a expectativa.

“Não estou com tanta fome”, respondeu.

“Ah”, Ben falou, parecendo um pouco perturbado com a resposta. “Isso significa que você não vai querer sobremesa? Estou de olho na mousse de caramelo com flor de sal”.

Certamente, ela não ia querer sobremesa, mas teve um súbito temor de que talvez Ben tivesse escondido o anel na mousse. Seria uma forma meio brega de pedir sua mão, mas, àquela altura, ela não se importava. Dizer que Ben tinha medo de compromisso era pouco. Levou dois anos de namoro antes que ele lhe permitisse deixar sua escova de dente no apartamento dele – e quatro anos para finalmente decidir que poderiam morar juntos.

Quando ela apenas mencionava a palavra filhos, ele ficava pálido como uma parede.

“Por favor, peça a mousse, se quiser”, ela disse. “Ainda estou terminando meu vinho”.

Ben encolheu um pouco os ombros, e então chamou o garçom, que removeu rapidamente o prato vazio dele e o frango semi-intacto dela.

Ben estendeu os braços e envolveu a mão dela nas suas.

“Já disse que você está linda?”, perguntou.

“Ainda não”, ela disse, sorrindo.

Ele sorriu de volta. “Então, direi agora: você está linda”.

Em seguida, levou a mão ao bolso.

O coração de Emily pareceu parar de bater. Era agora. Estava realmente acontecendo. Todos aqueles anos de angústia, de paciência-de-monge-budista, estavam prestes a, finalmente, dar retorno. Ela ia mostrar a sua mãe que ela estava errada, sua mãe, que parecia sentir prazer em dizer a Emily que ela nunca conseguiria casar com um homem como Ben. Sem falar na sua melhor amiga, Amy, que recentemente desenvolveu a tendência, após beber algumas taças de vinho a mais, de implorar a Emily para não desperdiçar mais tempo com Ben, porque 35 anos, definitivamente, não era “velha demais para encontrar o verdadeiro amor”.

Ela tentou disfarçar o nó na garganta quando Ben tirou a caixa da Tiffany do bolso e a deslizou sobre a mesa, em sua direção.

“O que é isto?” Ela conseguiu dizer.

“Abra”, ele respondeu, com um sorriso.

Ele não estava ajoelhado, Emily percebeu, mas tudo bem. Não tinha que ser da maneira tradicional. Ela só precisava de um anel. Qualquer um serviria.

Emily pegou a caixa, abriu – e então franziu a testa.

“Que... diabos...?”, balbuciou.

Ela ficou olhando em choque. Era uma miniatura de perfume.

Ben sorriu, parecendo muito animado pelo seu achado.

“Eu também não sabia que eles vendiam perfumes. Achei que só vendiam joias absurdamente caras. Quer que passe um pouco em você?”

De repente, incapaz de conter as emoções, Emily começou a chorar. Todas as suas esperanças desmoronaram ao seu redor. Ela se sentiu como uma idiota por imaginar que ele a pediria em casamento naquela noite.

“Por que está chorando?” Ben disse, franzindo o cenho, sentindo-se subitamente ofendido. “As pessoas estão olhando”.

“Pensei...” Emily balbuciou, enxugando os olhos com a toalha da mesa, “... que por causa do restaurante, e porque hoje é nosso aniversário...” Ela mal conseguia falar.

“Sim”, Ben disse, friamente. “É nosso aniversário e comprei um presente para você. Sinto muito se não é bom o bastante, mas você não comprou nenhum para mim”.

“Pensei que você me pediria em casamento!” Emily finalmente gritou, jogando seu guardanapo na mesa.

O burburinho das conversas no salão do restaurante desapareceu e as pessoas pararam de comer, virando-se para olhar para ele. Emily nem ligava mais.

Os olhos de Ben se arregalaram de medo. Ele parecia ainda mais assustado do que quando ela mencionou a possibilidade de começar uma família.

“Para que você quer se casar?” ele perguntou.

Emily teve um momento de clareza. Olhou para o namorado como se o visse pela primeira vez. Ben nunca mudaria. Ele nunca se comprometeria. Sua mãe, Amy, as duas estavam certas. Ela havia passado anos esperando por algo que obviamente nunca ia acontecer, e este frasco de perfume em miniatura era a gota d'água.

“Acabou”, disse Emily, sem fôlego e, subitamente, sem lágrimas. “Acabou mesmo”.

“Está bêbada?” Ben falou, sem acreditar. “Primeiro, você quer se casar – e agora quer acabar o namoro?”

“Não”, disse Emily. “É só que não estou mais cega. Isto – você, eu – nunca foi certo”. Ela ficou de pé, colocando seu guardanapo sobre a cadeira. “Vou me mudar”, ela disse. “Dormirei na casa de Amy hoje, e pego minhas coisas amanhã”.

“Emily”, Ben disse, inclinando-se para ela. “Por favor, podemos falar sobre isto?”

“Pra quê?” ela disparou de volta. “Para que possa me convencer a esperar mais sete anos antes de comprarmos nossa casa? Mais uma década antes de termos uma conta conjunta? Dezessete anos antes que você possa chegar a pensar na ideia de termos um gato?”

“Por favor”, Ben falou em voz baixa, olhando para o garçom que se aproximava com a sobremesa. “Você está fazendo uma cena”.

Emily sabia que estava, mas não ligava. Ela não mudaria de ideia.

“Não há nada mais pra falar. Acabou. Aproveite sua mousse de caramelo e flor de sal!”

E com essas palavras finais, ela saiu furiosa do restaurante.

Capítulo Dois

Emily ficou olhando para seu teclado, querendo que os dedos se movessem, tentando fazer algo, qualquer coisa. Outro e-mail apareceu em sua caixa de entrada e ela olhou para a tela sem interesse. O burburinho do escritório ao redor entrava por um ouvido e saía pelo outro. Não conseguia se concentrar. Sentia-se num torpor. A falta total de sono depois de uma noite no desconfortável sofá de Amy também não havia ajudado muito.

 

Ela chegou no trabalho há uma hora, mas não tinha conseguido fazer mais do que ligar seu computador e beber uma xícara de café. Sua mente estava completamente tomada pelas lembranças da noite passada. A expressão de Ben continuava a aparecer em flashes em sua mente. Ela se sentia levemente em pânico toda vez que revivia aquela noite terrível.

Seu celular começou a piscar, e ela olhou para a pequena tela, vendo o nome de Ben aparecer pela zilionésima vez. Ele estava ligando, de novo. Ela não havia respondido a uma única ligação dele. O que poderiam ter ainda para conversar? Ele havia tido sete anos para refletir se queria estar com ela ou não – uma tentativa de última hora de salvar as coisas não adiantaria de nada.

Seu telefone do escritório começou a tocar e ela deu um salto.

“Alô?”

“Oi, Emily, é Stacey, do 15º andar. Consta aqui que você deveria ter participado da reunião hoje de manhã e queria saber por que não foi”.

“MERDA!” Emily gritou, batendo o telefone. Ela havia esquecido completamente a reunião.

Levantou-se subitamente de sua mesa e correu até o elevador. Seu estado frenético parecia divertir os colegas de trabalho, que começaram a cochichar como crianças. Quando chegou ao elevador, ela apertou o botão várias vezes, batendo nele com a palma da mão.

“Vamos, vamos, vamos!”

Levou um século, mas, finalmente, o elevador chegou. Quando as portas se abriram, Emily entrou apressada, esbarrando em alguém que estava saindo. Ao se afastar, sem fôlego, percebeu que a pessoa em quem havia esbarrado era sua chefe, Izelda.

“Mil desculpas”, Emily balbuciou.

Izelda olhou-a de cima a baixo. “Pelo que, exatamente? Por esbarrar em mim, ou por perder a reunião?”

“Por ambos”, Emily disse. “Eu estava indo para lá agora mesmo. Esqueci completamente.”

Ela podia sentir cada par de olhos no escritório queimando em suas costas. A última coisa de que precisava agora era de uma dose de humilhação pública, algo que Izelda tinha grande prazer em proporcionar.

“Você tem uma agenda com calendário?” Izelda disse friamente, cruzando os braços.

“Sim”.

“E você sabe como funciona? Como marcar compromissos nela?”

Atrás de si, Emily podia ouvir as pessoas abafando o riso. Seu primeiro instinto foi murchar como um flor. Ser feita de boba na frente de uma plateia era sua ideia perfeita de um pesadelo. Mas, assim como aconteceu no restaurante na noite passada, um estranho senso de clareza tomou conta dela. Izelda não era uma figura de autoridade que ela devia respeitar e nem precisava se curvar diante de qualquer capricho seu. Era apenas uma mulher amarga descontando sua raiva em qualquer um que pudesse. E aqueles colegas cochichando atrás dela não significavam nada para Emily.

Uma súbita onda de clareza tomou conta de Emily. Ben não era a única coisa de que ela não gostava em sua vida. Ela também odiava seu emprego. Estas pessoas, este escritório, Izelda. Havia ficado presa aqui por anos, assim como com Ben. E não iria mais tolerar aquilo.

“Izelda”, Emily disse, chamando sua chefe pelo nome pela primeira vez, “terei que ser sincera. Perdi a reunião, esqueci completamente. Não é a pior coisa do mundo”.

O rosto de Izelda se iluminou.

“Como ousa!” ela disparou. “Vou fazê-la trabalhar em sua mesa até meia-noite pelo próximo mês inteiro até aprender o valor de ser responsável!”

Izelda falou essas palavras enquanto passava por Emily, batendo em seu ombro, querendo sair dali e dar o assunto claramente como resolvido, na opinião dela.

Mas Emily não pensava assim.

Num impulso, foi até a chefe e agarrou seu ombro, fazendo-a parar.

Izelda se virou e sorriu de volta, afastando a mão de Emily como se tivesse sido picada por uma cobra.

Mas Emily não recuou.

“Eu não terminei”, continuou, mantendo a voz completamente calma. “A pior coisa do mundo é este lugar. É você. É este emprego estúpido, medíocre, que destrói a alma”.

“Como?” Izelda gritou, seu rosto ficando vermelho de raiva.

“Você me ouviu”, Emily respondeu. “Na verdade, tenho certeza de que todo mundo me ouviu”.

Emily olhou sobre o ombro para seus colegas, que a olharam de volta, pegos de surpresa. Ninguém esperava que a quieta e obediente Emily revidasse daquele jeito. Então, lembrou-se de Ben, avisando que ela estava “fazendo uma cena” na noite passada. E aqui estava Emily, fazendo outra. Só que, desta vez, ela estava gostando.

“Pode pegar seu emprego, Izelda”, Emily acrescentou, “e enfiar no rabo”.

Praticamente, dava para ouvir o sobressalto dos seus colegas atrás de si.

Ela passou rapidamente por Izelda até o elevador e então se virou. Apertou o botão do térreo pelo que, ela percebeu, com um alívio imenso, seria a última vez em sua vida, e então observou a cena de seus colegas atônitos olhando para ela enquanto as portas se fechavam, tirando-os de vista. Ela deu um grande suspiro, sentindo-se mais livre e leve do que nunca.

*

Emily subiu a escada para seu apartamento, percebendo que não era realmente seu – nunca havia sido. Ela sempre sentira como se estivesse vivendo no espaço de Ben, que ela precisava se tornar o mais invisível e discreta possível. Ela procurou suas chaves, grata por Ben estar no trabalho e ela não ter que lidar com ele.

Emily entrou e olhou para o lugar com novos olhos. Nada aqui era do seu gosto. Tudo parecia assumir um novo significado; o sofá horrível que ela e Ben compraram depois de uma discussão (que ele ganhou); a estúpida mesinha de centro da qual ela queria se desfazer porque uma das pernas era mais curta que as outras e, por isso, era bamba (mas Ben era apegado ao móvel por “razões sentimentais”, então, permaneceu); a TV imensa que havia sido cara demais e que ocupava muito espaço (mas que Ben insistiu que precisava para assistir a esportes, porque era a “única coisa” que evitava que ele enlouquecesse). Ela pegou alguns livros da estante, percebendo como seus romances haviam sido relegados às sombras das prateleiras de baixo (Ben sempre teve medo que seus amigos o achassem menos intelectual se vissem romances na estante – ele preferia textos acadêmicos e filosóficos, apesar de nunca lê-los).

Ela olhou para os porta-retratos sobre a lareira para ver se havia algum que valesse a pena levar, e percebeu como toda foto que a incluía era com a família de Ben. Lá estavam eles no aniversário da sobrinha dele, no casamento da irmã dele... Não havia uma única foto dela com sua mãe, a única pessoa em sua família, quanto mais de Ben passando algum tempo com as duas. Subitamente, ocorreu a Emily que ela vinha sendo uma estranha em sua própria vida. Vinha percorrendo o caminho de outra pessoa há vários anos, ao invés de forjar o seu próprio.

Ela se dirigiu rapidamente para o banheiro. Aqui estavam as únicas coisas que realmente importavam para ela – seus produtos de banho e maquiagem, todos de muito boa qualidade. Mas até isso era um problema para Ben. Ele reclamava constantemente que ela tinha produtos demais, dizendo que eram um desperdício de dinheiro.

“É meu dinheiro e eu gasto como quiser!” Emily gritou para seu reflexo no espelho enquanto jogava todos os seus pertences numa bolsa plástica.

Ela tinha consciência de que parecia uma louca, correndo pelo banheiro jogando frascos meio vazios de xampu em sua sacola, mas não ligava. Sua vida com Ben havia sido nada mais que uma mentira, e queria sair dela o mais rápido possível.

Em seguida, correu para o quarto e pegou a mala sob a cama. Rapidamente, colocou todas as suas roupas e sapatos dentro dela. Depois de empacotar suas coisas, ela arrastou tudo para fora. Então, como um gesto simbólico final, entrou novamente no apartamento e colocou sua chave sobre a mesa de centro com valor “sentimental” para Ben, e então foi embora, para nunca mais voltar.

Foi só quando ficou de pé na calçada que Emily realmente se deu conta do que havia feito. Em poucas horas, havia conseguido ficar sem emprego e sem casa. Estar solteira era uma coisa, mas jogar sua vida toda fora era outra bem diferente.

Leves ondas de pânico começaram a correr por seu corpo. Com mãos trêmulas, ela pegou seu celular e ligou para Amy.

“Oi, e aí?” Amy falou.

“Fiz uma loucura”, ela respondeu.

“Pode dizer...”

“Deixei meu emprego”.

Emily ouviu a amiga suspirar no outro lado da linha.

“Ai, graças a Deus”, falou Amy. “Pensei que você ia me dizer que havia reatado com Ben”.

“Não, não, muito pelo contrário. Eu empacotei minhas coisas e fui embora. Estou de pé na calçada, parecendo uma moradora de rua”.

Amy começou a rir. “Eu estou visualizando você agora”.

“Isso não tem graça!” Emily respondeu, seu pânico crescendo. “O que vou fazer agora? Estou desempregada. Não posso alugar um apartamento sem emprego!”

“Admita que é um pouquinho engraçado”, Amy replicou, rindo. “Traga tudo pra cá”, ela acrescentou, de maneira despreocupada. “Você sabe que pode ficar comigo até decidir o que fazer”.

Mas não era isso que Emily queria. Essencialmente, ela havia desperdiçado anos de sua vida vivendo no espaço de outra pessoa, sentindo-se como uma hóspede em sua própria casa, como se Ben estivesse lhe fazendo um favor apenas por deixá-la morar na casa dele. Ela não queria mais isso. Precisava forjar sua própria vida, sustentar-se com as próprias pernas.

“Agradeço muito”, Emily disse, “mas preciso ficar sozinha por um tempo”.

“Entendo”, Amy respondeu. “Então, e agora? Vai sair da cidade por alguns dias? Esfriar a cabeça?”

Isso fez Emily refletir. Seu pai tinha uma casa no Estado do Maine. Eles costumavam ir para lá no verão quando ela era criança, mas estava vazia desde que ele desaparecera, há vinte anos. Era uma casa velha, mas cheia de personalidade, e foi gloriosa em sua época de ouro, de um jeito meio histórico; sempre pareceu mais uma pousada descuidada, com a qual ele não sabia lidar, do que uma casa.

Na época, seu estado era apenas razoável, e Emily sabia que não estaria melhor depois de passar vinte anos abandonada; também não seria o mesmo vê-la vazia — ou agora que ela não era mais uma criança. Sem falar que o verão ainda ia demorar pra chegar. Estávamos em fevereiro!

Ainda assim, a ideia de passar alguns dias sentada na varanda, olhando para o mar, num lugar que era dela (mais ou menos), pareceu, subitamente, muito romântica. Sair de Nova York no final de semana seria uma boa maneira de limpar sua mente e tentar pensar no que fazer com sua vida.

“Tenho que ir”, Emily disse.

“Espere”, Amy respondeu. “Primeiro, diga-me para onde está indo!”

Emily respirou fundo.

“Estou indo para Maine”.

Capítulo Três

Emily teve que pegar vários metrôs para chegar ao estacionamento de longa permanência em Long Island City, onde seu carro velho, surrado e abandonado estava. Fazia anos que ela não o dirigia, já que Ben sempre assumiu essa responsabilidade para exibir seu precioso Lexus, e enquanto ela caminhava pelo imenso estacionamento escuro, arrastando sua mala, ela se perguntava se ainda poderia dirigir. Era mais uma coisa que havia deixado escapar ao longo de seu relacionamento.

Só a viagem para chegar até aqui – a este estacionamento na periferia da cidade – parecia não acabar nunca. Enquanto caminhava até o carro, seus passos ecoando no estacionamento frio como gelo, ela quase se sentiu cansada demais para continuar.

Estava cometendo um erro? Ela se perguntou. Devia voltar?

“Aqui está ele”.

Emily se virou e viu o atendente do estacionamento sorrindo para seu carro surrado, como se demonstrasse simpatia por ela. Ele lhe estendeu as chaves.

A ideia de ainda ter que dirigir por oito horas pareceu esmagadora, impossível. Ela já estava exausta, física e emocionalmente.

“Você vai pegar as chaves?” ele perguntou, por fim.

Emily piscou, surpresa, sem perceber que havia passado alguns instantes pensando.

 

Parada ali, sabia que aquele era um momento decisivo, de certa forma. Ela iria colapsar, correndo de volta para sua antiga vida?

Ou seria forte o bastante para seguir em frente?

Finalmente, Emily afastou os pensamentos sombrios e se obrigou a ser forte. Pelo menos por ora.

Ela pegou as chaves e caminhou triunfante para seu carro, tentando demonstrar coragem e confiança enquanto se afastava, mas secretamente com medo de que não conseguiria nem mesmo ligá-lo – e, se conseguisse, que ela nem lembraria como dirigir.

Entrou no carro gelado, fechou os olhos e pôs a chave na ignição. Se o motor ligasse, ela disse a si mesma, era um sinal. Se estivesse morto, ela podia voltar atrás.

Emily odiava admitir isso para si mesma, mas secretamente tinha esperança de que estaria morto.

Ela girou a chave.

O carro ligou.

*

Foi surpreendente e reconfortante para Emily notar que, apesar de ser uma motorista meio errática, ela ainda sabia o básico do que estava fazendo. Tudo o que precisava fazer era pisar no acelerador e dirigir.

Era libertador observar o mundo passar voando por ela e, lentamente, ela sentiu seu humor melhorar. Até ligou o rádio, lembrando que tinha um.

Com o rádio no volume máximo, os vidros das janelas abaixados, Emily segurou bem o volante com as duas mãos. Em sua mente, ela parecia uma sereia glamorosa dos anos 40 num filme em preto e branco, com o vento desalinhando seu penteado perfeito. Na verdade, o ar gelado de fevereiro deixou seu nariz vermelho como uma cereja e bagunçou seu cabelo todo.

Em pouco tempo, ela saiu da cidade, e quanto mais se aproximava do norte, mais as estradas se tornavam margeadas por pinheiros. Ela admirava sua beleza enquanto passava voando por eles. Com que facilidade ficara presa na agitação do estilo de vida da cidade, pensava. Quantos anos ela havia deixado passar sem reservar tempo para contemplar a natureza?

Logo, as estradas se tornaram mais largas, o número de faixas aumentou e, então, ela chegou à rodovia. Acelerou ainda mais, fazendo seu carro surrado ir mais rápido, sentindo-se viva e animada com a velocidade. Todas essas pessoas em seus carros embarcando em aventuras para algum lugar, e ela, Emily, finalmente era uma delas. A excitação pulsava através de seu corpo enquanto fazia o carro ir mais rápido, aumentando sua velocidade até onde sua ousadia lhe permitisse.

Sua confiança aumentava à medida em que os pneus do carro planavam sobre a estrada. Quando passou pela fronteira estadual para entrar em Connecticut, realmente caiu a ficha de que ela estava, de fato, indo embora. Seu emprego, Ben, ela havia finalmente jogado fora toda aquela tralha.

Quanto mais se aproximava do norte, mais frio ficava, e Emily finalmente teve que admitir que estava frio demais para manter as janelas abertas. Ela as fechou e esfregou as mãos, lamentando por não estar vestindo algo um pouco mais apropriado para o clima. Ela havia saído de Nova York em seu desconfortável terno de trabalho, e em mais um momento de impulsividade, havia atirado a jaqueta sob medida e os sapatos de salto stiletto pela janela. Agora, vestia apenas uma blusa fina, e os dedos de seus pés descalços pareciam ter se tornado blocos de gelo. A imagem da estrela de cinema dos anos 40 se despedaçou em sua mente quando ela viu seu reflexo no retrovisor. Ela parecia uma estátua de cera. Mas não ligava para isso. Estava livre, e era só o que importava.

Horas se passaram, e antes que percebesse, havia deixado Connecticut para trás, uma lembrança distante, apenas um lugar pelo qual passara em seu caminho para um futuro melhor. A paisagem de Massachusetts era mais aberta. Ao invés da folhagem verde-escura dos pinheiros, as árvores daqui haviam perdido suas folhas de verão e erguiam-se como longos, compridos esqueletos nos dois lados da estrada, revelando traços de neve e de gelo no chão duro sob elas. Acima de Emily, o céu começava a mudar de cor, de um azul claro para um cinza macilento, lembrando a ela que chegaria a Maine quando já estivesse escuro.

Ela dirigiu por Worcester, onde muitas das casas eram altas, revestidas de madeira, e pintadas em vários tons pastéis. Emily imaginou que tipo de pessoas viviam aqui, divagando sobre suas vidas e experiências. Ela estava apenas há algumas horas de casa, mas tudo já parecia estranho para ela – todas as possibilidades, todos os diferentes lugares para viver, estar e visitar. Ela havia passado sete anos vivendo apenas uma versão da vida, seguindo a rotina antiga, familiar, repetindo o mesmo dia várias vezes, esperando, esperando, esperando por algo mais. Todo aquele tempo esperando Ben pedi-la em casamento, para que ela então pudesse começar o próximo capítulo da sua vida. Mas, o tempo todo, ela tinha o poder de ser a mola, a força propulsora de sua própria história.

Emily se viu dirigindo sobre uma ponte, seguindo a Rota 290 até ela se tornar a Rota 495. Foram-se as maravilhosas árvores, agora substituídas por paredes rochosas íngremes. Seu estômago começou a roncar, lembrando-a de que a hora do almoço havia passado e ela não fizera nada a respeito. Pensou em parar num posto de gasolina, mas a compulsão para chegar em Maine era grande demais. Ela podia comer quando chegasse lá.

Mais horas se passaram, e ela cruzou a fronteira estadual, entrando em New Hampshire. O céu se abriu, as estradas se tornaram largas e numerosas, as planícies se estendendo em todas as direções, até onde seus olhos alcançavam. Emily não pôde deixar de pensar sobre como o mundo era grande, sobre quantas pessoas ele continha.

Seu senso de otimismo a carregou o caminho todo, passando por Portsmouth, onde aviões precipitavam-se ruidosos sobre ela, seus motores roncando enquanto se aproximavam da pista para aterrissar. Ela acelerou, passando da próxima cidade, onde o gelo cobria os bancos nos dois lados da rodovia, e então seguiu em frente através de Portland, em que a estrada seguia ao longo dos trilhos de trem. Emily absorveu cada detalhe, sentindo-se impressionada pelo tamanho do mundo.

Ela acelerou sobre a ponte que cruzava a fronteira final de Portland, querendo desesperadamente parar o carro para admirar a vista do oceano. Mas o céu estava cada vez mais escuro e ela sabia que tinha que pisar fundo se quisesse chegar a Sunset Harbor antes da meia-noite. Seriam, pelo menos, mais três horas de estrada, e o relógio em seu painel já indicava que eram nove horas da noite. Seu estômago protestou novamente, repreendendo-a por ter ignorado o jantar e o almoço.

Havia várias coisas que Emily queria fazer quando chegasse, mas dormir a noite toda era a principal. A fadiga estava começando a se instalar; o sofá de Amy não era exatamente confortável, sem mencionar o turbilhão emocional em que Emily havia estado durante toda a noite. Mas, esperando por ela na casa em Sunset Harbor estava a linda cama de carvalho escuro com dossel do quarto principal, a que seus pais dividiram nos bons tempos. A ideia de tê-la toda para si era muito interessante.

Apesar da ameaça de neve, Emily decidiu não seguir pela rodovia até Sunset Harbor. Seu pai gostava de dirigir pelo caminho menos movimentado – uma série de pontes que se estendia sobre a miríade de rios correndo para o oceano, por toda aquela parte do Maine.

Ela saiu da rodovia, aliviada por pelo menos diminuir a velocidade. As estradas pareciam mais traiçoeiras, mas a paisagem era incrível. Emily levantou os olhos e viu as estrelas brilhando sobre a água clara, prateada.

Ela permaneceu na Rota 1 margeando a costa, absorvendo a beleza a seu dispor. O céu passou de cinza para preto, a água refletindo seu reflexo. Parecia que ela estava dirigindo pelo espaço, em direção ao infinito.

Indo em direção ao começo do resto de sua vida.

*

Cansada por causa da viagem sem fim, lutando para manter seus olhos exaustos abertos, ela se animou quando seus faróis finalmente iluminaram uma placa que lhe dizia que estava entrando em Sunset Harbor. Seu coração bateu mais rápido, com o alívio e a antecipação.

Ela passou pelo pequeno aeroporto e dirigiu até a ponte que a levaria para a Ilha Mount Desert, lembrando-se, com uma pontada de nostalgia, de estar no carro da família enquanto corria sobre esta mesma ponte. Ela sabia que a casa estava a apenas 16 km, que não levaria mais de vinte minutos para chegar ao seu destino. Seu coração começou a bater forte com a excitação. Sua fome e seu cansaço pareceram desaparecer.

Ela viu a pequena placa de madeira que lhe dava as boas-vindas a Sunset Habor e sorriu. Árvores altas margeavam os dois lados da estrada, e Emily se sentiu bem ao notar que eram as mesmas árvores que ela havia visto quando criança enquanto seu pai dirigia ao longo desta mesma estrada.

Alguns minutos mais tarde, ela passou sobre uma ponte em que se lembrava de passar quando criança, numa bela tarde de outono, com folhas vermelhas estalando sob seus pés. A lembrança era tão vívida que ela até mesmo podia ver as luvas roxas de lã que estava usando enquanto andava de mãos dadas com seu pai. Ela não podia ter mais de cinco anos na época, mas a lembrança lhe veio tão clara como se tivesse sido ontem.

Mais lembranças surgiram em sua mente enquanto passava por outros lugares – o restaurante que servia panquecas incríveis, o acampamento, que estaria cheio de grupos de escoteiros durante todo o verão, o caminho de mão-única que levava até Salisbury Cove. Quando ela alcançou o letreiro do Parque Nacional Acadia, sorriu, sabendo que estava a apenas três quilômetros de seu destino final. Parecia que ela chegaria na casa bem na hora; a neve estava começando a cair e seu carro surrado provavelmente não teria forças para enfrentar uma nevasca.