O Escritor E A Realizadora

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O Escritor E A Realizadora
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Manu Bodin

O escritor e a realizadora

Novela

Traduzido do francês por Andreia Frazão

1  O escritor e a realizadora

2  Do mesmo autor

O escritor e a realizadora

Em determinados domingos à tarde, gosto de ir matar o tempo a um bar do bairro, que não fica muito longe de minha casa. Observo as pessoas na rua e escrevo. Escrevo um pouco sobre tudo, mas principalmente sobre as relações humanas. Inspiro-me nos fragmentos das vidas dos indivíduos que ouço falar; tomo nota dos gestos, bem como dos tiques deles. Também retiro elementos dramatúrgicos das vidas dos meus amigos ou de experiências que vivi. Nos últimos anos, escrever tornou-se-me indispensável. Um dia, sem aviso prévio, a escrita apresentou-se-me como uma escapatória à esterilidade que reconhecia na nossa sociedade contemporânea – que tomarei a liberdade de caracterizar como ansiogénica e doente – que, de vez em quando, só me dava uma inefável vontade de fugir para o outro lado do mundo, para me esconder algures por lá, longe de tudo, ao abrigo de constrangimentos e de contradições, de pessoas simples que estão satisfeitas com uma vida humilde e modesta.

Ao entrar no bar, reparei numa boneca de cabelo loiro fulvo, que estava sentada a um canto. Muitos tipos pareciam estar a olhar lascivamente na direção dela. À frente dela, estava uma mesa, que fixei imediatamente, para me sentar lá.

Passei pela garina, contemplando-a durante algum tempo, e segui em frente, admirando de passagem o seu decote generoso. Estava absorvida pelo telemóvel, a enviar mensagens sobre não sei o quê a não sei quem. Sobre a mesa, repousava, entreaberta, uma grande mala de mão de um amarelo berrante. Conseguia ver a confusão que estava no interior da mesma. Ao lado da referida mala, estava um copo de vinho branco e várias faturas respeitantes ao consumo no bar, que estavam à espera de ser liquidadas, e que se amontoavam sob um cinzeiro metálico. A menina bonita parecia ter feito muitos pedidos. Quando pus o meu casaco nas costas da cadeira, que estava diante dela, deitou-me um olhar furtivo; tinha um ar distraído e de quem não faz caso de nenhum aspeto da minha presença; depois, voltou a mergulhar a cabeça no smartphone, e agitou novamente os dois polegares, um após o outro, sobre o ecrã tátil.

Sentei-me de costas para ela. Tirei da mochila um bloco de notas de formato A4 e uma esferográfica. De onde eu estava sentado, conseguia contemplar a multidão de transeuntes que circulava na rua – a matéria-prima para os meus textos.

Tive uma inspiração e comecei a alinhar algumas palavras. As frases foram-se formando pouco a pouco, os parágrafos foram-se sucedendo, as páginas em branco foram enegrecendo. Estava com um bom embalo; tinha de reconhecer que nem sempre era assim.

Após algum tempo, num desses momentos de reflexão que são intrínsecos a qualquer escritor, ouvi um «ei!» procedente do lugar de trás. Recuperei a consciência, afastei os meus pensamentos – por uns instantes, pelo menos – e virei a cabeça.

«O que é que estás a escrever? És escritor?», perguntou-me a bela loira em quem eu tinha reparado quando cheguei.

Desta vez, estava a olhar fixamente para mim, diretamente nos olhos, e tencionava meter conversa.

Respondi-lhe com um sim fraquinho, perturbado pela sua aura deslumbrante. Tinha acabado de me enfeitiçar com os seus olhos verdes esmeralda.

«Sim, o quê? És escritor, é isso?», perguntou-me ela com um tom veemente.

Para conseguir encará-la melhor, virei-me ainda mais, encostado às costas da cadeira em que estava sentado.

«Sim, é isso. Estou a trabalhar num romance.»

Assim que acabei de dizer esta frase, vi as pupilas da miúda começarem a cintilar. Levantou-se de um salto, e pegou na bebida e na mala de mão. Com o movimento, a mala atingiu o cinzeiro, e as três faturas que estavam por pagar voaram para o chão. Pareceu-me que pensar em pagá-las era a menor das preocupações dela.

Deu alguns passos para se aproximar de mim e, neste momento, descobri uma bomba sexual de pequena estatura, com cerca de um metro e meio de altura. Os seus dois projéteis deviam flirtar o 95D, talvez um pouco mais. Depois de admirar a parte de cima, baixei a cabeça, para espreitar as coxas dela. A pequena saia azul pastel não ia além da zona do rabo. E que rabo! Um pedaço de mulher, com um rabo bem carnudo. Os longos cabelos loiros corriam-lhe até ao rabo. As pernas dela brilhavam. Exatamente o tipo de gaja com quem eu adoraria passar a noite.

«Adoro escritores. Têm tanta imaginação... Não te importas que me sente ao pé de ti? Estou aborrecida aqui sozinha. O meu ex está a chatear-me com SMS ridículas, nas quais se justifica por me ter deixado pendurada, e por não ter vindo ao nosso encontro. Que idiota! Juro-te, vocês, os homens... A sério, às vezes tenho dificuldade em perceber-vos. Enfim, não estou a falar de ti; nem sequer te conheço. Mas, em geral... Estamos a entender-nos, hã? Tu percebes.»

Estava hipnotizado, a ver a boazona a sentar-se à minha mesa, numa cadeira à minha frente, enquanto tagarelava uma torrente de palavras sem sentido. Não percebia nada do que me estava a acontecer.

O timbre da voz dela era agradável ao ouvido, tinha uma sonoridade muito suave, que contrastava com a energia com que esta mulher transbordava.

Então, conta-me tudo: estás a escrever sobre quê?»

A miúda loira estava a devorar-me com os seus grandes olhos verdes, como que fascinada. Os lábios dela brilhavam, e só pediam para ser beijados e chupados.

Sem sequer esperar que eu lhe explicasse do que se tratava a minha história, a miúda loira já estava inclinada por cima do meu ombro, a tentar decifrar o que eu tinha rabiscado na folha cheia de rasuras e setas em múltiplas direções, que serviam para ligar blocos de texto emoldurados e numerados.

«A tua folha está uma confusão, não é nada fácil de perceber...

– São sobretudo ideias e notas, às quais darei forma em casa, copiando-as e estruturando-as em parágrafos inteligíveis.

– Hum... Isso também não diz grande coisa. Na verdade, escreves uma série de descrições que estão misturadas com todo o tipo de pensamentos. Não gostas de coisas vivas?

– Prefiro a introspeção.

– Pois... Não me parece tão introspetivo quanto isso, e além do mais... constato que é um bocado porco... nas tuas passagens mais ou menos romanescas...»

Esta última frase ecoou docemente no interior do meu ouvido, num tom quase lascivo. Tinha acabado de me sussurrar estas palavras da mesma forma que uma mulher teria dito ao amado dela que o amava, que desejava que a possuísse e a levasse a uma explosão de prazer, ali mesmo, imediatamente, e não depois, sem que ninguém à volta dela suspeitasse. Estava certo de que tinha topado com uma miúda que precisava de um tipo para lhe acalmar os ardores transitórios. O encontro dela com o ex não devia ser mais do que uma rapidinha entre dois antigos amantes... Ainda assim, a meu ver, o ex dela foi um otário por ter faltado ao encontro. A voz sensual e o caloroso hálito dela despertaram imediatamente a concupiscência da minha terceira perna. De repente, senti-me menos à vontade. A minha pila estava torcida para a direita, no interior das calças; precisava de a pôr no centro dos boxers, ou de ficar mole à pressa, caso contrário, passaria um inferno desgraçado. Mas como é que eu podia ficar indiferente a esta torrente de erotismo que acabava de se introduzir no meu elemento?

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