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Aus der Reihe: Memórias de um Vampiro #1
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Capítulo Oito

Caitlin acordou com uma dor ardente. Sua pele parecia estar queimando e, quando ela tentou abrir os olhos, uma pontada a forçou a fechá-los. A dor explodia em seu crânio.

Ele manteve os olhos fechados, e usou as mãos para tatear. Ela estava deitada sobre alguma coisa. Parecia macio, mas firme. Irregular. Não podia ser um colchão. Ela passou seus dedos pela superfície. Parecia plástico.

Caitlin abriu seus olhos, mais lentamente desta vez, e espiou por entre as mãos. Plástico. Plástico preto. E aquele cheiro. O que era? Ela virou um pouco a cabeça, abriu os olhos um pouco mais e então entendeu. Ela estava deitada sobre uma pilha de sacos de lixo. Ela esticou o pescoço. Ela estava dentro de uma lixeira.

Ela sentou rapidamente. A dor explodiu, seu pescoço e cabeça tomados pela dor. O fedor era insuportável. Ela olhou ao seu redor, os olhos bem abertos agora, e ficou horrorizada. Como diabos ela foi parar aqui?

Ela esfregou a testa, tentando juntar os eventos que a trouxeram aqui. Ela teve um branco. Ela tentou lembrar da noite passada. Ela usou toda a sua força de vontade para que as lembranças voltassem. Lentamente, elas chegaram …

A briga com sua mãe. O metrô. Encontrar Jonah. O Carnegie Hall. O concerto. Então… então...

A fome. O desejo. Sim, o desejo. Deixar Jonah. Sair correndo. Percorrer os corredores. Então... Branco. Nada.

Para onde ela havia ido? O que ela tinha feito? E como ela foi parar ali? Será que Jonah a tinha drogado? Feito o que queria com ela e a depositado ali?

Ela não acreditava nisso. Ela não podia imaginar que ele fosse desse tipo. Em sua última memória, caminhando pelos corredores, ela estava sozinha, Ela o havia deixado para trás. Não. Não podia ter sido ele.

Então, o quê?

Caitlin se ajoelhou lentamente sobre o lixo, um de seus pés escorregando entre dois sacos, enquanto ela afundava cada vez mais para dentro do poço. Ela puxou o pé para fora rapidamente e encontrou algo sólido para pisar, garrafas de plástico barulhentas.

Ela olhou para cima e viu que a tampa de metal da lixeira estava aberta. Ela tinha aberto a tampa na noite passada e entrado ali? Por que ela teria feito isso? Ela esticou a mão e mal conseguiu segurar a barra de metal no topo. Ela não sabia se teria força suficiente para sair dali.

Mas ela tentou, e ficou surpresa em descobrir que conseguiu sair facilmente: um movimento gracioso, e ela jogou as pernas para o outro lado, caiu alguns metros e pousou no cimento. Para sua surpresa, ela caiu com muita agilidade, o choque quase não a machucou. O que estava acontecendo com ela?

Justamente quando Caitlin pousou na calçada da cidade de Nova York, um casal bem vestido estava passando. Ela os assustou. Eles se viraram e a encararam, mortificados, sem conseguir entender por que uma garota adolescente pularia de repente de dentro de uma enorme lixeira. Eles a deram um olhar estranho e dobraram o passo, se apressando para ficar o mais longe dela quanto possível.

Caitlin não os culpava. Ela provavelmente teria feito o mesmo. Ela olhou para si mesma, ainda vestida com o traje da noite anterior, suas roupas totalmente sujas e cobertas de lixo. Ela fedia. Ela tentou limpar suas roupas o máximo que pôde.

Enquanto o fazia, ela passou as mãos rapidamente sobre seu corpo e bolsos. Sem telefone. Sua mente voou, enquanto ela tentava lembrar se o havia levado do apartamento.

Não. Ela o deixou no apartamento, em seu quarto, no canto de sua mesa. Ela pretendia pegá-lo, mas estava tão perturbada por sua mãe que deixou o telefone para trás. Merda. Ela também havia deixado o seu diário. Ela precisava dos dois. E precisava de um banho e de uma troca de roupas.

Caitlin olhou para o pulso, mas seu relógio não estava lá. Ela devia tê-lo perdido em algum lugar durante a noite. Ela saiu do beco e caminhou pela calçada cheia, com a luz do sol diretamente em seu rosto. A dor irradiou pela sua testa.

Ela voltou rapidamente para a sombra. Ela não conseguia entender o que estava acontecendo. Felizmente, já era quase noite. Ela esperava que esta ressaca, ou o que quer que fosse aquilo, passasse logo.

Ela tentou pensar. Para onde ela poderia ir? Ela queria ligar para Jonah. Era loucura, por que ela mal o conhecia. E depois da noite passada, seja lá o que ela tenha feito, ela tinha certeza de que ele não iria querer vê-la nunca mais. Mas, mesmo assim, ele foi a primeira pessoa que veio à mente dela. Ela queria ouvir a sua voz novamente, estar com ele. Pelo menos, ela precisava dele para entender o que havia acontecido. Ela queria desesperadamente falar com ele. Ela precisava do seu telefone.

Ela iria para casa uma última vez, pegar seu telefone e seu diário e sair. Ela rezava para que sua mãe não estivesse em casa. Talvez, pelo menos desta vez, a sorte estaria do seu lado.

*

Caitlin parou do lado de fora de seu prédio e olhou para cima, apreensiva. O sol estava se pondo e a luz não a incomodava tanto. Na verdade, conforme a noite se aproximava, ela se sentia mais forte com cada hora que passava.

Ela subiu os cinco andares de escadas com a velocidade de um raio, surpreendendo a si mesma. Ela subiu três degraus por vez e suas pernas não estavam nem um pouco cansadas. Ela não conseguia imaginar o que estava acontecendo com seu corpo. Seja lá o que fosse, ela estava adorando.

Seu bom humor diminuiu quando ela se aproximou da porta do apartamento. Seu coração começou a bater forte quando ela se perguntou se sua mãe estava em casa. Como ela reagiria?

Mas quando ela tocou na maçaneta, ficou surpresa de ver que a porta já estava destrancada, entreaberta. Sua preocupação aumentou. Por que a porta estaria aberta?

Caitlin caminhou hesitante para dentro do apartamento, a madeira rangendo sob seus pés. Ela caminhou lentamente até a sala de estar.

Quando entrou, ela virou a cabeça—e de repente, levou as mãos até a boca, em choque. Uma terrível onda de náusea a atingiu. Ela virou e vomitou.

Era a sua mãe. Deitada lá, caída no chão, com os olhos abertos. Morta. Sua mãe. Morta. Mas como?

Sangue escorria de seu pescoço e caía em uma pequena poça no chão. Ela não teria como ter feito aquilo a si mesma. Ela tinha sido morta. Assassinada. Mas como? Por quem? Mesmo que odiasse a sua mãe, ela nunca teria desejado que ela terminasse assim.

O sangue ainda estava fresco, e Caitlin percebeu de repente que aquilo deveria ter acabado de acontecer. A porta entreaberta. Alguém havia arrombado o apartamento?

De repente, ela se virou, olhando ao seu redor, sentindo os pelos em sua nuca ficarem em pé. Havia alguém mais no apartamento?

Como se para responder a sua pergunta silenciosa, naquele momento, três pessoas vestidas de preto da cabeça aos pés surgiram vindas do outro quarto. Elas entraram calmamente na sala de estar, indo na direção de Caitlin. Três homens. Era difícil dizer a idade deles—eles pareciam eternos—talvez quase 30. Todos tinham corpos definidos. Musculosos. Nem uma grama de gordura neles. Bem arrumados. E muito, muito pálidos.

Um deles deu um passo à frente.

Caitlin deu um passo para trás, com medo. Uma nova sensação estava dominando-a, uma sensação de pavor. Ela não entendia como, mas ela podia sentir a energia daquela pessoa. E era muito, muito ruim.

“Então,” o líder disse em uma voz sombria e sinistra. “A galinha volta ao poleiro.”

“Quem é você?” Caitlin perguntou, recuando. Ela examinou a sala, procurando por uma arma de algum tipo. Talvez um cano, ou um bastão. Ela começou a pensar em pontos de saída. A janela atrás dela. Ela levava à uma saída de incêndio?

“Exatamente a pergunta que queríamos fazer a você,” o líder disse. “A sua amiga humana não tinha respostas,” ele disse, apontando para o corpo de sua mãe. “Eu espero que você tenha.”

Humana? Do que esta pessoa estava falando?

Caitlin recuou vários passos. Ela não tinha mais muito espaço. Ela estava quase rente à parede. Ela lembrou agora: a janela atrás dela levava à uma saída de incêndio. Ela lembrou de ficar sentada nela, em seu primeiro dia no apartamento. Ela estava enferrujada. E era instável. Mas parecia funcionar.

“Aquele foi um banquete e tanto no Carnegie Hall,” ele disse. Os três se aproximaram dela lentamente, cada um dando um passo à frente. “Bem dramático.”

Caitlin examinou suas memórias desesperadamente.

Banquete? Por mais que tentasse, ela não tinha absolutamente nenhuma ideia do que eles estavam falando.

“Por que o intervalo?” ele perguntou. “Que mensagem você estava tentando mandar?”

Ela estava contra a parede e não tinha mais para onde ir. Eles deram mais um passo à frente. Ela tinha certeza de que eles a matariam se ela não lhes dissesse o que eles queriam ouvir.

Ela pensou o máximo que pôde. Mensagem? Intervalo? Ela se lembrava de caminhar pelos corredores, os salões acarpetados, indo de sala à sala. Procurando. Sim, as memórias estavam voltando. Havia uma porta aberta. Um camarim. Um homem dentro dele. Ele havia olhado para ela. Havia medo nos olhos dele. E então…

“Você estava no nosso território,” ele disse, “e você conhece as regras. Você vai ter que responder por isso.”

Eles deram mais um passo.

Barulho.

Naquele momento, a porta do apartamento foi quebrada e vários policiais uniformizados correram para dentro, armas em punho.

“Pare, desgraçado!” um policial gritou.

Os três se viraram e encararam os policiais.

Então, eles caminharam lentamente na direção dos policiais, sem nenhum medo.

“Eu disse para PARAR!”

O líder continuou caminhando e o policial atirou. O barulho era ensurdecedor.

 

Mas, incrivelmente, o líder nem sequer parou. Ele deu um sorriso ainda mais largo, simplesmente esticou a sua mão e pegou a bala no ar. Caitlin ficou chocada em ver que ele havia parado a bala com sua palma. Ele levantou a mão, fechou o pulso lentamente e a destruiu. Ele abriu a mão e o pó caiu lentamente no chão.

Os policiais também observaram, chocados, com bocas abertas.

O líder sorriu ainda mais, esticou a mão e pegou a espingarda do policial. Ele a puxou, tensionou o corpo e atingiu o policial no rosto. Ele voou para trás, derrubando vários de seus homens.

Caitlin havia visto o suficiente.

Sem hesitar, ela se virou, abriu a janela e saiu por ela. Ela pulou na saída de incêndio e correu pelos degraus instáveis e enferrujados.

Ela correu o máximo que pôde, por todas as curvas. A velha saída de incêndio provavelmente não havia sido usada em anos, e quando ela fez uma curva, um dos degraus cedeu. Ela escorregou e gritou, mas conseguiu manter o equilíbrio. A escada inteira balançou, mas não cedeu completamente.

Ela havia descido três andares quando ouviu o barulho. Ela olhou para cima e viu os três pularem na saída de incêndio. Eles começaram a descer, incrivelmente rápido. Muito mais rápido do que ela. Ela acelerou o passo.

Ela chegou ao primeiro andar e viu que não havia para onde ir: era um pulo de cinco metros até a calçada. Ela levantou o pescoço e viu que eles estavam se aproximando. Ela olhou para baixo novamente. Não havia escolha. Ela pulou.

Caitlin se preparou para o impacto e esperava que ele fosse forte. Mas, para a sua surpresa, ela caiu graciosamente com os dois pés no chão, como um gato, sem praticamente nenhuma dor. Ela fugiu correndo, se sentindo confiante de que conseguiria deixar seus perseguidores, seja lá quem fossem, para trás.

Quando ela chegou ao fim da quadra, surpresa por sua incrível velocidade, ela olhou para trás, esperando vê-los distantes no horizonte.

Mas ela ficou chocada em ver que eles estavam a apenas alguns metros de distância dela. Como era possível?

Antes que ela pudesse concluir o pensamento, ela sentiu corpos em cima dela. Eles já estavam jogando-a no chão.

Caitlin usou toda a sua nova força para lutar contra os seus agressores. Ela empurrou um deles e ficou feliz em ver que ele voou por vários metros. Encorajada, ela se virou e empurrou outro, e novamente ficou feliz e surpresa por vê-lo voar em outra direção.

O líder pulou em cima dela e começou a estrangulá-la. Ele era mais forte do que os outros. Ela olhou em seus olhos negros como carvão, e era como olhar nos olhos de um tubarão. Sem alma. Era o olhar da morte.

Caitlin usou toda a sua força, cada gota dela, e conseguiu rolar e tirá-lo de cima dela. Ela se levantou com um pulo, e voltou a correr.

Mas ela não havia ido muito longe e já foi jogada ao chão novamente, pelo líder. Como ele podia ser tão rápido? Ela havia acabado de jogá-lo longe.

Desta vez, antes que ela pudesse lutar, ela sentiu nós de dedos em sua bochecha e percebeu que ele havia acabado de lhe dar um tapa. Com força. O mundo girou. Ela recuperou a consciência rapidamente e se preparou para lutar, quando de repente, ela viu os outros dois ajoelhados ao lado dela, a segurando no chão. O líder extraiu um pedaço de pano de seu bolso. Antes que ela pudesse reagir, o pano estava sobre o seu nariz e boca.

Quando ela respirou profundamente pela última ver, o mundo girou e se tornou nebuloso.

Antes que o mundo se tornasse escuridão total, ela poderia ter jurado que ouviu uma voz sombria sussurrar em seu ouvido: “Você é nossa agora.”

Capítulo Nove

Caitlin se acordou em completa escuridão. Ela sentiu uma dor fria e metal em seus pulsos e tornozelos, e seus membros estavam doloridos. Ela percebeu que estava acorrentada. Em pé. Seus braços estavam esticados, ao seu lado, e ela tentou movê-los, mas eles não se mexeram. Seus pés também não. Ela ouviu um barulho ao tentar, e sentiu o metal frio e duro penetrar ainda mais em seus pulsos e tornozelos. Onde diabos ela estava?

Caitlin abriu mais seus olhos, o coração batendo forte, tentando perceber onde ela estava. Estava frio. Ela ainda estava vestida, mas descalça, e podia sentir a pedra fria sob seus pés. Ela também sentiu pedras em suas costas. Ela estava contra uma parede. Acorrentada à uma parede.

Ela observou o lugar atentamente e tentou identificar alguma coisa. Mas a escuridão era absoluta. Ela estava com frio. E com sede. Ela engoliu, e sua garganta estava seca.

Ela puxou com toda a sua força, mas mesmo com a sua nova força, as correntes não se moviam. Ela estava completamente presa.

Caitlin abriu a boca para gritar por socorro. A primeira tentativa não funcionou. A sua boca estava seca demais. Ela engoliu novamente.

“Socorro!” ela gritou, sua voz soando rouca. “SOCORRO!” ela gritou novamente, e desta vez, ganhou um volume real.

Nada. Ela ouviu atentamente. Ouviu um barulho fraco e rápido vindo de algum lugar distante. Mas de onde?

Ela tentou se lembrar. Onde havia estado por último?

Ela se lembrou de ter ido para casa. Seu apartamento. Ela franziu o rosto, lembrando da mãe. Morta. Ela lamentou profundamente, como se, de alguma forma, aquilo fosse sua culpa. E ela sentiu remorso. Ela desejou ter sido uma filha melhor, mesmo se a sua mãe não tivesse sido muito boa para ela. Mesmo que, como a sua mãe havia dito no dia anterior, ela não fosse realmente sua filha. Será que ela realmente falava sério? Ou era algo que ela havia dito em um momento de raiva?

E então... aquelas três pessoas. Vestidas de preto. Tão pálidas. Se aproximando dela. Então... A polícia. A bala. Como eles haviam parado a bala? O que eram aqueles homens? Por que eles haviam usado a palavra “humano”? Ela podia ter pensado que eles estavam delirando, se ela não tivesse os visto parar a bala em pleno ar.

Então... o beco. A perseguição.

E então…Escuridão.

Caitlin ouviu de repente o ranger de uma porta de metal. Ela apertou os olhos, quando uma luz apareceu à distância. Era uma tocha. Alguém estava vindo na direção dela, carregando uma tocha.

Quando ele chegou mais perto, o local se acendeu. Ela estava em um grande quarto cacofônico, totalmente entalhando na pedra. Parecia muito antigo.

Quando o homem se aproximou, Caitlin pôde ver seu rosto. Ele segurou a tocha na altura do rosto. Ele a encarou como se ela fosse um inseto.

Este homem era grotesco. Seu rosto era distorcido, fazendo-o parecer um bruxo velho e enrugado. Ele riu, e revelou fileiras de dentes pequenos e amarelos. O seu hálito fedia. Ele ficou à alguns centímetros de distância dela e observou. Ele levantou uma mão até o rosto dela, e ela pôde sentir suas unhas curvadas e longas. Como garras. Ele as passou lentamente pelo rosto dela, não o suficiente para machucá-la, mas o suficiente para deixá-la enojada. Ele riu ainda mais.

“Quem é você?” Caitlin perguntou, apavorada. “Onde eu estou?”

Ele apenas aumentou o seu sorriso, como se examinasse sua presa. Ele olhou para a garganta dela e lambeu os lábios.

Naquele momento, Caitlin ouviu o som de outra porta de metal se abrindo, e viu várias tochas se aproximando.

“Deixe-a!” gritou uma voz à distância. O homem parado na frente de Caitlin se afastou rapidamente, dando vários passos para trás. Ele abaixou a cabeça, advertido.

Um grupo inteiro de tochas se aproximou e, quando chegaram mais perto, ela pôde ver o seu líder. O homem que a havia perseguido no beco.

Ela olhou para ele, oferecendo um sorriso com o calor do gelo. Este homem era lindo, eterno, mas aterrorizante. Maligno. Seus grandes olhos de carvão olhavam para ela.

Ele estava acompanhado por outros cinco homens, todos vestidos de preto como ele, mas nenhum tão grande ou belo como ele. Também existiam mulheres no grupo, que olhavam para ela com a mesma frieza.

“Por favor, perdoe o nosso assistente,” o homem disse, sua voz forte, fria e objetiva.

“Quem é você?” Caitlin perguntou. “Por que eu estou aqui?”

“Perdoe estas acomodações desagradáveis,” o homem disse, percorrendo a grossa corrente de metal que a prendia à parede com a mão. “Nós ficaremos perfeitamente felizes em deixar você ir,” ele disse, “mas apenas se você responder algumas perguntas.”

Ela olhou para baixo, sem saber o que dizer.

“Eu começarei. Meu nome é Kyle. Eu sou o Vice-Líder do Clã Blacktide,” ele pausou. “Sua vez.”

“Eu não sei o que você quer de mim,” Caitlin respondeu.

“Para começar, o seu clã. A quem você pertence?”

Caitlin forçou seu cérebro, tentando descobrir se ela havia ficado louca. Ela estava imaginando tudo isso? Ela imaginou que deveria estar presa em algum tipo de sonho terrível. Mas ela sentiu o aço verdadeiramente frio em seus pulsos e tornozelos, e soube que não estava sonhando. Ela não tinha ideia do que dizer para aquele homem. Do que ele estava falando? Clã? De…vampiros?

“Eu não pertenço a ninguém,” ela disse.

Ele a observou por um longo tempo, então balançou a cabeça lentamente.

“Como quiser. Nós já lidamos com vampiros solitários antes. É sempre a mesma coisa: eles vêm para nos testar. Para ver o quão seguro o nosso território é. Depois disso, outros chegam. É assim que as trocas de território começam.

“Mas o caso é que eles nunca conseguem o que querem. O nosso clã é o mais antigo e forte desta terra. Ninguém mata aqui e não é punido.

“Por isso, eu lhe pergunto mais uma vez: quem enviou você? Quando eles planejam invadir?”

Território? Invasões? Caitlin não conseguia entender como ela poderia estar acordada. Talvez alguém a tivesse drogado. Talvez Jonah tivesse colocado algo em sua bebida. Mas ela não bebia. E ela nunca havia usado drogas. Ela não estava sonhando. Aquilo era real. Horrivelmente, incrivelmente real.

Ela podia simplesmente tê-los ignorado como um grupo de pessoas completamente loucas, como algum tipo de culto ou sociedade estranha que estivesse totalmente delirante. Mas depois de tudo o que aconteceu nas últimas 48 horas, ela precisou pensar duas vezes. Sua própria força. Seu próprio comportamento. Como ela sentiu seu corpo mudar. Seria possível que os vampiros existissem? E ela era um deles? Ela teria caído no meio de algum tipo de guerra de vampiros? Com a sorte que ela tinha, era possível.

Caitlin olhou para cima, pensando. Ela havia matado alguém? Ela não conseguia lembrar, mas tinha uma sensação horrível de que o que ele havia dito era verdade. Que ela havia matado alguém. Aquilo, mais do que qualquer coisa, a fez se sentir horrível. Ela sentiu um terrível sentimento de pena e arrependimento a inundar. Se aquilo era verdade, ela era uma assassina. Ela nunca conseguiria superar aquilo.

Ela olhou para ele novamente.

“Eu não fui enviada por ninguém,” ela disse, finalmente. “Eu não me lembro exatamente do que fiz. Mas seja lá o que for, eu fiz sozinha. Eu não sei por que eu fiz aquilo. Estou muito arrependida do que quer que eu tenha feito,” ela disse. “Eu não tinha a intenção de fazê-lo.”

Kyle se virou e olhou para os outros. Eles olharam para ele. Ele balançou a cabeça e se virou para ela novamente. O olhar dele se tornou frio e duro.

“Então, você pensa que eu sou um tolo. Isso não é sensato.”

Kyle gesticulou para seus subordinados e eles foram rapidamente até ela e removeram as correntes de seus pulsos. Ela sentiu seus braços caírem, e estava aliviada por sentir o sangue voltar aos seus pulsos. Depois, eles retiraram as correntes de seus tornozelos. Quatro deles, dois de cada lado, a seguravam firmemente pelos braços e ombros.

“Se você não vai responder a mim,” Kyle disse, “você vai responder para a Assembleia. E lembre-se, você escolheu isso. Eles não irão ter piedade, como eu poderia ter.”

Enquanto eles a levavam, Kyle adicionou, “Não se engane, você será morta de qualquer jeito. Mas o meu jeito teria sido rápido e sem dor. Agora, você verá o que é sofrer.”

Caitlin tentou resistir enquanto eles a arrastavam para frente. Mas era inútil. Eles a estavam levando para algum lugar, e não havia nada que ela pudesse fazer, a não ser aceitar o seu destino.

E rezar.

*

Quando eles abriram a porta de carvalho, Caitlin não pôde acreditar em seus próprios olhos. O salão era enorme. Na forma de um grande círculo, ele era contornado por colunas de pedra de 30 metros, elaboradamente decoradas. Ele era bem iluminado, com tochas colocadas a cada 1,5 metro, por todo o salão. Parecia o Panteão. Parecia muito antigo.

 

Quando ela entrou, a próxima coisa que percebeu foi o barulho. Ela olhou em sua volta e viu centenas, se não milhares, de homens e mulheres vestidos de preto, se movendo rapidamente pelo salão. Havia algo de estranho na maneira como eles se moviam: era tão rápida, tão aleatória, tão… monstruosa.

Ela ouviu um som rápido e olhou para cima. Dúzias destas pessoas pulavam, ou voavam, pelo salão, indo do chão ao teto, do teto para as sacadas, das colunas para o parapeito. Aquele era o barulho sibilante que ela havia ouvido. Era como se ela tivesse entrado em uma caverna cheia de morcegos.

Ela absorveu tudo aquilo e ficou completamente, totalmente chocada. Vampiros existiam. Ela era um deles?

Eles a levaram para o centro do salão, correntes batendo, seus pés descalços na pedra fria. Eles a levaram à um ponto no centro do salão, identificado por um grande círculo de ladrilhos.

Quando ela chegou ao centro, o barulho gradualmente diminuiu. O movimento ficou mais lento. Centenas de vampiros se posicionaram em um enorme anfiteatro de pedra na frente dela. Aquilo parecia uma assembleia política, como nas fotos que ela havia visto do discurso do estado da união—porém, ao invés de centenas de políticos, eles eram centenas de vampiros, todos olhando para ela. A sua ordem e disciplina era impressionante. Dentro de segundos, eles estavam todos sentados, completamente quietos. O salão ficou silencioso.

Quando ela parou no centro do salão, mantida no lugar pelos assistentes, Kyle deu um passo para o lado, cruzou as mãos e baixou a cabeça em reverência.

Em frente à assembleia, estava uma enorme cadeira de pedra. Ela parecia com um trono. Caitlin olhou para cima e viu que, sentado nela, estava um vampiro que parecia ser mais velho do que os outros. Ela conseguia perceber que ele era extremamente antigo. Havia algo em seus olhos frios e azuis. Eles olhavam para ela como se houvessem visto 10 mil anos. Ela odiou a sensação dos olhos dele nela. Eles eram o próprio mal.

“Então,” ele disse, sua voz soando como um ronco baixo. “Esta é aquela que violou o nosso território,” ele disse. Sua voz era rouca e não tinha nenhum calor. Ela ecoava na enorme câmara.

“Quem é o líder do seu clã?” ele perguntou.

Caitlin olhou para ele, se perguntando como responder. Ela não tinha ideia do que dizer.

“Eu não tenho um líder,” ela disse. “E eu não pertenço à nenhum clã. Estou aqui sozinha.”

“Você sabe qual é a punição por invasão,” ele declarou, um sorriso crescendo no canto de sua boca. “Se existe algo pior do que a imortalidade,” ele continuou, “é a imortalidade com dor.”

Ele olhou para ela.

“Esta é a sua última chance,” ele disse.

Ela olhou para ele, sem nenhuma ideia do que dizer. Pelo canto do seu olho, ela examinou o salão procurando por uma saída, se perguntando se havia alguma. Ela não viu nenhuma.

“Como quiser,” ele disse, e acenou levemente com a cabeça.

Uma porta lateral se abriu, e dela saiu um vampiro acorrentado, arrastado por dois assistentes. Ele foi arrastado para o centro do salão, apenas alguns centímetros de onde Caitlin estava. Ela observava aterrorizada, sem saber o que estava acontecendo.

“Este vampiro quebrou a regra de acasalamento,” o líder disse. “Uma violação não tão severa quanto a sua. Mesmo assim, uma violação que precisa ser punida.”

O líder acenou novamente, e um assistente deu um passo à frente com um pequeno frasco contendo um líquido. Ele esticou o braço e jogou o líquido no vampiro acorrentado.

O vampiro acorrentado começou a gritar. Caitlin viu a pele dele se encher de bolhas por todo o seu braço, como se tivesse sido queimado. Seus gritos eram terríveis.

“Isto não é apenas água benta,” o líder disse, olhando para Caitlin, “é água especialmente carregada. Do vaticano. Eu lhe garanto que ela irá queimar toda a pele, e que a dor será terrível. Pior do que ácido.”

Ele encarou Caitlin por um longo tempo. O salão estava completamente silencioso.

“Diga-nos de onde você é e você será poupada de uma morte horrível.”

Caitlin engoliu em seco, sem querer sentir aquela água em sua pele. Parecia terrível. No entanto, se ela não fosse realmente uma vampira, a água não a machucaria. Mas essa não era uma experiência que ela queria fazer.

Ela puxou suas correntes novamente, mas elas não cederam.

Ela podia sentir seu coração batendo forte, e o suor aumentando em sua testa. O que ela poderia dizer a ele?

Ele a observou, julgando-a.

“Você é corajosa. Eu admiro a sua lealdade ao seu clã. Mas o seu tempo acabou.”

Ele acenou com a cabeça, e ela ouviu o som de correntes. Ela viu dois assistentes içarem um enorme caldeirão. Com cada puxada, eles o levantavam muitos metros. Quando ele estava no alto, a cerca de 5 metros do chão, eles o moveram, para que ficasse diretamente sobre a cabeça dela.

“Apenas alguns mililitros de água benta foram jogados naquele vampiro,” o líder disse. “Em cima de você, estão litros. Quando ela cair sobre o seu corpo, você sentirá a dor mais terrível que pode imaginar. Você sentirá essa dor para sempre. Mas você ainda estará viva, imóvel, indefesa. Lembre-se, você escolheu isso.”

O homem acenou, e Caitlin sentiu seu coração bater dez vezes mais rápido do que o normal. Os assistentes ao seu lado engancharam as correntes na pedra e correram, se apressando para ficar o mais longe possível dela.

Quando Caitlin olhou para cima, ela viu o caldeirão balançar e o líquido começar a cair. Ela olhou novamente para baixo e fechou os olhos.

Por favor, Deus. Me ajude!

“Não!” ela gritou, seu grito ecoando por toda a câmara.

E então, ela estava imersa.