O Encontro Entre Dois Mundos

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A viagem até o sítio

Subimos no automóvel, fechamos a porta e em questão de segundos ele parte. Como a viagem era até certo ponto longa começamos a conversar entre si a fim de nos distrairmos. Falamos um pouco de tudo transcrito em alguns trechos abaixo:

—E como você passou, garoto, este período em que estávamos separados? Estudou muito? (O vidente)

—Levei a vida na minha rotina normal: O trabalho com a guardiã e seus ensinamentos no intuito de te ajudar nas aventuras, o estudo diário na escola de Mimoso, as saídas com os amigos e as namoradas. Mas em todo tempo pensei em ti. Eu já estava com saudades das nossas peripécias. E você? (Indagou ele)

—Eu também cumpri minha rotina que inclui trabalho no setor público, os contatos sociais, a evolução espiritual, novos aprendizados da vida, conhecer novas pessoas, mas também já estava com saudades da minha vida de escritor, de vidente. Obrigado pelo interesse e sua ajuda. Sem você não teria conseguido muita coisa. Já em relação ás namoradas, você não é muito jovem para pensar nisso? Não concorda, Geronimo? (Divinha)

—Tem toda razão, seu vidente. Meninos devem brincar de bola em vez de ficarem se esfregando nas meninas. É muita responsabilidade para quem não tem a mente bem formada. Pode acontecer algum acidente. (Observou Geronimo)

—Deixem de ser caretas, não sou tão menino assim e posso provar. Já tenho barba, pelos nas axilas e em alguns outros lugares que o pudor não me permite mencionar. Além do mais, não é nada sério, só são alguns esfregões. (Protestou Renato)

—Está bem. Vou fingir que acredito. Como se eu não te conhecesse,menino. Mas, mudando de assunto, vocês viram no noticiário em que precariedade está nossa saúde? Filas e mais filas nos hospitais públicos e pessoas precisando de atendimento urgente na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) dos hospitais e não tem vaga? O que vocês me dizem? (O filho de Deus)

—Eu vi sim, seu vidente, e é uma vergonha para nosso país e nossos governantes. Todos os atendimentos estão devendo, mas parece que o povo está mais consciente e protesta a todo o momento. Precisamos valer nossos direitos porque pagamos impostos, trabalhamos quatro meses para ter serviços públicos de qualidade e não temos. Esta realidade não é só da saúde, temos problemas latentes na educação, transportes, saneamento, indústria, etc. Acredito que só a sociedade pode mudar esta realidade e uma saída para isto é protestando pacificamente, elegendo dirigentes mais justos e dignos e fazendo sua parte ajudando o próximo sem pensar em receber alguma coisa em troca. (Geronimo)

—Mas muita coisa já melhorou. Sou jovem, mas me disseram que o Brasil tinha uma inflação galopante e que na década de noventa criaram um plano econômico que freou este processo. Tudo a partir daí melhorou. Com a estabilidade nos preços, a economia cresceu, houve geração de emprego e renda e já estamos entre os países emergentes. Mas concordo que temos muito a melhorar na qualidade de vida de nossa população que merece muito pois é um povo muito esforçado e cheio de sonhos. Ser um brasileiro para mim é um orgulho. Ainda seremos o número um do mundo em todos os sentidos. (Renato)

—Tomara, Renato e que nosso futebol ganhe a copa e tenha uma boa participação nas olimpíadas para alegrar nossa população sofrida. (O vidente)

—E que meu time ganhe o campeonato brasileiro. (Completou Geronimo)

—Qual o seu time? (Indagou Renato)

—Segredinho. Não quero desagradar meus mais novos amigos. (Geronimo)

—Eu torço por Pernambuco. É meu estado e por ele batalharei. Em especial farei isso através da literatura. Quero que todos tenham orgulho de mim. (O vidente)

—Você escreve? Interessante. Sobre o que você escreve? Como surgiu este dom? (Indaga Geronimo)

—Sim, escrevo. Minha história começou em 2010 quando num impulso viajei a uma montanha que prometia ser sagrada em busca de encontrar meu destino. Escalei sua íngreme trilha e, ao chegar no seu topo, tive um encontro que mudou a minha vida. Conheci a guardiã, um ser ancestral detentor de muitos mistérios que me orientou e me ajudou a realizar desafios dificílimos culminando em minha aprovação nas etapas. Então tive a permissão de chegar ao meu objetivo: Enfrentar a gruta do desespero, um local em que me poderia tornar um escritor ou qualquer outro sonho que tivesse. Mesmo tomado pelo medo pois o fracasso me custaria a vida, entrei, driblei armadilhas, avancei cenários e em dado momento cheguei à câmara secreta. Ao entrar na mesma, desenvolvi parcialmente meus dons e me transformei no vidente, um ser superdotado. Com meus novos poderes, pude realizar minha primeira viagem no tempo e em trinta dias vivi em Mimoso junto com meu fiel parceiro Renato aventuras incríveis. No final, reuni as forças opostas, resolvi conflitos e injustiças e ajudei alguém a se encontrar. Tudo o que vivi foi documentado no meu primeiro livro que publiquei em 2011 nomeado “Forças opostas”. Depois desta primeira vitória, passei um tempo me dedicando a terminar a faculdade e resolvendo problemas pessoais. Ao sentir-me preparado, voltei a montanha em busca duma nova aventura. Encontrei novamente a guardiã, conheci o hindu e fui preparado para começar a compreender um período difícil da minha vida que denominei de “Noite escura da alma”, onde me esqueci de Deus e dos meus princípios. Fiz uma viagem pelos pecados capitais, os dominei e no momento certo, fiz uma nova viagem a uma ilha perdida em busca da sacerdotisa, uma mestra da noite, do reino dos anjos e do Eldorado, um lugar de encontro do mundo espiritual e carnal. Também fui aprovado nesta etapa e com a minha experiência escrevi meu segundo romance intitulado sugestivamente de “A noite escura da alma”. Por enquanto é isto. Quero aprender mais e descobrir um pouco mais do meu destino.

—Sem esquecer que em todos os momentos eu estava presente ajudando-lhe. (Completou Renato)

—Que história interessante. Cara, devo te confessar que sou seu fã só pelo seu esforço em batalhar por um sonho. Muitas pessoas desistem na primeira dificuldade. Muita sorte e sucesso em seu caminho. (Elogiou Geronimo)

—Obrigado. Aumente a velocidade que estou ansioso por chegar ao sítio fundão e viver novas experiências. (O vidente)

—Eu também. (Renato)

—Tudo bem. Segurem nos cintos. (Geronimo)

O automóvel acelerou e ultrapassamos rapidamente, através da Rodovia BR 232,O sítio Rosário, o povoado Novo Cajueiro,O sítio Riacho fundo,o Povoado Ipanema,entre outros. Neste ponto, já estávamos bem próximos da sede do município, Pesqueira.Até que repentinamente ouvimos um estrondo e o carro desgovernou-se um pouco. Gritamos com muito medo, mas Geronimo era um motorista bem experiente e soube controlar a situação. Conseguiu parar em segurança no acostamento. Descemos do carro a fim de verificar o ocorrido e Geronimo nos acalmou, se abaixou, tirou a camisa e trocou o pneu que tinha furado. Esta manobra durou cerca de trinta minutos e aproveitamos para nos hidratar. Quando tudo estava resolvido, entramos no carro novamente, partimos mais lentamente, chegamos a Pesqueira e pegamos um desvio numa estrada de terra. Esta estrada nos levaria ao destino. Esta parte da viagem durou cerca de trinta minutos entre conversas, descobertas e muita ansiedade da nossa parte. Ao chegar ao sítio, nos movimentamos um pouco em círculos até encontrar alguém que nos orientasse e depois de muito vaivém chegamos a casinha de sapê onde Angel morava. Pagamos a passagem, descemos do carro com as malas, nos despedimos de Geronimo, ele vai embora e nós nos aproximamos da casa. Um pouco sem graça, avançamos ainda mais e batemos na porta que estava entreaberta. Cinco minutos depois, uma figura dum ancião magro e esquelético se apresentou com um semblante sorridente, mas um pouco fechado. A que devo a honra da visita de dois jovens tão bonitos? Pergunta ele depois de abrir a porta.

—Meu nome é Aldivan, mas pode me chamar também de filho de Deus ou de vidente, meus outros nomes. Este que me acompanha se chama Renato e é meu companheiro de aventura. Juntos viemos aprender com o senhor se assim nos permitir. (Declarei)

—Ahan! Eu já ouvi falar de vocês dois. A fama de vocês ultrapassou fronteiras. É uma honra tê-los comigo. Ajudarei em que for preciso. Em qual tema querem se aprofundar? (Respondeu o ancião)

—A guardiã nos informou que você domina os seis primeiros dons do espírito santo e precisamos entendê-los para evoluir mais. (Informou Renato)

—Precisamos criar uma linha de conexão dos dons com a minha mediunidade e clarividência pouco desenvolvida para entender presente, passado e futuro que nos cerca e não entendemos. (Complementei)

—Tem certeza do que estão falando? Desenvolver os dons do espírito santo é uma atitude sadia, mas se relacionados com a mediunidade podem criar um desequilíbrio cósmico entre os dois mundos e fazê-los encontrar-se ocasionando até a loucura. É muito perigoso o que estão me pedindo e uma pessoa no passado sofreu muito com suas escolhas. E se voltar a se repetir? (O velho)

—Não sabíamos que o risco era tão grande, mas não suporto mais meus estigmas e a linha de contato espiritual. É um martírio muito grande. Preciso de ajuda urgente. (Supliquei)

—Calma. Abaixe a cabeça. (ordenou Angel)

Obedeci prontamente. Fiquei imóvel e mãos suaves deslizaram na minha cabeça. Senti raios de energia penetrarem na minha mente atormentada e que me deram um pouco de alívio. Fechei os olhos, fiz uma oração e me senti ainda melhor. Em dado momento, Angel retirou as mãos e se afastou um pouco e ficou a refletir, de costas para nós. Quando se virou, o seu olhar traduzia um pouco de mistério misturado com tristeza.

 

—Sabe, filho de Deus, você me fez lembrar alguém que amei muito no passado. Se chamava Vitor e era um homem espiritualmente muito desenvolvido. Comparando vocês dois, ele era mais experiente e mais decidido, rude, o típico homem sertanejo enquanto você é inocente, puro, sensível, uma pessoa bem legal. Neste caso, isto é desvantagem para você neste mundo porque a vida é bonita, mas cruel e desafiadora. Isto torna o que você quer fazer mais complicado ainda. Mas há uma chance se quiser correr os riscos, sofrer e ir até o fim. Está preparado? (Indagou o mestre)

—Sim. Não viajei até aqui só para conversar. Eu costumo enfrentar os desafios mesmo que gigantescos. Farei tudo o que mandares. Só a cargo de informação, Vitor era da minha família. (Divinha)

—Confie nele, Angel e em mim. Seguiremos seus conselhos e não decepcionaremos. (Complementou Renato)

—Muito bem. Gostei Renato do seu tom decidido e Aldivan você é também da família Torres? Entendo porque você é assim. É de família. Mas sabe mesmo um pouco da história de Vitor? (Angel)

—Sim, um pouco. Todos o chamavam de sábio. Ouvi falar que conhecia vários segredos espirituais e dominava um pouco a magia. Será que tenho potencial como ele? (O filho de Deus)

—Sim, seu potencial é imenso pois você possui uma mente muito poderosa. Mas não se engane. Seu caminho não é o mesmo de Vitor. Você é outra pessoa, livre de vícios, pura, cheio de luz, com uma aura linda e não permitiria a você manchar isto. Deus quer que permaneça assim pois o trata como filho. Vou ajudá-lo a desenvolver seus dons, a controlar seus desejos e entender melhor o plano espiritual. Você precisa apenas de orientação para não cair em armadilhas ou na “Noite escura da alma “novamente. No entanto, tudo tem o seu preço e você está disposto a pagar? (Angel)

—Claro. Qual é o preço? (o vidente)

—No momento certo, saberás. Por enquanto, siga-me e seu companheiro também. (o mestre)

Angel entrou na casa, o acompanhamos e acomodamos as nossas coisas perto da parede direita do vão único da casa. Ele nos mandou deitar. Eu numa cama de capim e Renato na rede. Mandou nos acalmar e descansar da viagem. O que aconteceria daí por diante? Continue acompanhando, leitor.

A descoberta do encontro de dois mundos

Obedecemos ao nosso atual mestre, Angel.Deitamos e tentamos esquecer nossas preocupações. Com muito custo, conseguimos relaxar pouco a pouco e em dado momento fui perdendo os sentidos. No momento em que adormeci, meu espírito desprendeu-se da minha carne e comecei a realizar uma viagem astral inusitada. Transportei-me do plano material e passei rapidamente por trevas, luz e um plano intermediário chamada cidade dos homens. Fiquei encantado com a experiência, mas não tive permissão de permanecer por muito tempo nestes lugares.

Detalhadamente, explicarei minha experiência. Nas trevas, andei pelo abismo e posso descrever que era um lugar tenebroso, repleto de larvas de vulcões espalhados por toda a superfície e pessoas e anjos maus sendo castigados nele, traduzindo-se em criaturas horríveis e muito sofredoras. Meu objetivo de visita era avisar que aquele reino estava chegando ao fim e bradei isso aos quatro ventos. No entanto, não intimidei e como resposta fui agarrado por uma criatura que me encarou e disse:-Saia daqui, você não pertence a este lugar. Não nos atormente antes do tempo.Repliquei,com outra resposta: Você sabe com quem está falando? A Criatura não se impressionou e disse:-Eu sei muito bem quem você é. Mas aqui é meu reino e eu nasci para governar. Depois dessa resposta, uma força nos afastou e desta feita me aproximei da luz. Entrei rapidamente no paraíso, conheci irmãos bem aventurados, repletos de luz fazendo parte duma sociedade bem organizada trabalhando para o sucesso da nossa além da proteção espiritual.À medida que ia avançando nesta realidade espiritual e me aproximando do palácio real,me sentia cada vez melhor e mais feliz. Foi me dado permissão para entrar na morada de Deus e contemplar sua glória. Ao entrar, é difícil descrever em palavras a grandeza do mesmo. Posso dizer apenas que vim uma grande claridade e dela saíam raios de luz que envolviam meu ser numa completa comunhão, como se fôssemos um só, interligados completamente. Senti um misto de paz,libertação,amor e felicidades juntas nunca antes experimentada por um mortal. Depois da experiência com Deus e meu pai, meu espírito novamente se afastou e aproximou-se do plano espiritual mais próximo da terra, a cidade dos homens. Fui bem recebido, e eles moram em cidades espirituais semelhantes a nossas. Nesta ocasião, pude ver muitos irmãos mas não pude me aproximar deles por conta do meu desenvolvimento. Mas, pelo pouco que vi , eles são como nós, espíritos intermediários, muito amados por Deus e que tem as mesmas necessidades de que quando estavam vivos seja em relação ao alimento, ao amor ,ao sexo ,com sentimentos e que devem sempre ser respeitados. Foi permitido que algum deles me acompanhassem a fim de me proteger dos meus inimigos e me dar conselhos quando fosse mais necessário.Depois dum breve momento, saí do plano espiritual, viajei velozmente no caminho e ,quando cheguei ao plano terra , me concentrei em mim mesmo. Repentinamente, fui envolvido por uma fumaça branca e que fez meu corpo espiritual ganhar velocidade, entrar num túnel que me faz passar pelo passado, presente e futuro, mas sem visualizá-lo. Quando ia chegando ao final do túnel, senti um toque muito forte. No mesmo instante, despertei com um cansaço enorme depois de viver tantas experiências espirituais intensas. Ao meu lado, estava Angel, com um sorriso no rosto.

—E aí? Sonhou com os anjos? (Angel)

—Acabo de ter um sonho estranho, uma viagem astral sem limites. Fui ao inferno, ao céu, à cidade dos homens e passei por toda a minha história. Mas ainda não entendi o porquê de tudo isso. (Divinha)

—É normal. Você testou alguns de seus limites e quando se desenvolver completamente terá acesso total a estes lugares. O conhecimento o fará único na terra. Mas não se precipite nem tire conclusões agora. Deixe o destino se mostrar por completo. (Aconselhou Angel)

—Entendi. Qual o primeiro passo? (Aldivan)

—Levante-se e vamos passear no sítio. Quero mostrar um pouco do meu mundo e do seu antepassado, Vítor.Talvez isto desperte um pouco sua sensibilidade. (O ancião)

—Tudo bem. (O vidente)

Levantei-me da cama, nos aproximamos de Renato, o despertamos e ele saiu da rede.Juntos,nós três nos encaminhamos a saída, com Angel servindo de guia. O que nos esperava? Conseguiríamos nos desenvolver completamente? Continue acompanhando, leitor.

Conhecendo o sítio

Ao sairmos da casinha de sapê, Angel escolheu uma trilha em direção ao norte e o acompanhamos sem replicar. Caminhamos lentamente o que nos faz ter a oportunidade dum contato com a natureza e clima sertanejos. Achamos tudo maravilhoso, diferente e desconhecido. Enquanto caminhamos, Angel quebra o silencio e começa a contar um pouco da sua história:

—Renato e Aldivan, há cento e treze anos exatamente vivo. Boa parte deste período aqui neste sítio e para mim este é o melhor local do mundo. Foi aqui que obtive conhecimento sobre a natureza, Deus e as pessoas. Amei, sofri, chorei como qualquer pessoa normal e o conselho que dou é que se entregue as experiências sem medo. É melhor arrepender-se do que fez do que nunca ter feito. Em suma, fui feliz e quando eu morrer estarei satisfeito.

—Que interessante. Também vivi muitas experiências apesar de ter menos de um terço de sua idade. Estou em busca do meu caminho e quero cumprir mais esta aventura. Já reuni as” forças opostas”, entendi a complexa “Noite escura da alma” e agora estou em busca de desenvolver meus dons. Mas tenho que confessar que ainda não aproveitei a vida como deveria por causa dos meus próprios preconceitos. (Eu,o vidente)

—Tenho catorze anos e minha experiência resume-se a convivência numa família complicada onde meu pai me obrigava a trabalhar continuamente e não podia nem sequer estudar. Depois de tanto sofrer, resolvi fugir e a guardiã me adotou. Pude então estudar e brincar como qualquer criança normal e fui escolhido para ajudar um jovem sonhador em seu objetivo de conquistar o mundo. Agora, aqui estou junto dele em uma nova aventura. (Renato)

—Muito bem. Vocês fazem uma dupla perfeita. Eu também tinha um companheiro quando jovem e desbravamos os sertões em busca de justiça, paz, desenvolvimento espiritual em uma sociedade cheia de preconceitos. Não conseguimos conquistar tudo porque aqueles tempos eram difíceis. Mas confesso que fui feliz mesmo assim.(Angel)

—Que bom. Espero também ser feliz e me realizar profissionalmente. Renato, obrigado pelo apoio. (Eu, o vidente)

—De nada. Faço apenas minha obrigação. (Renato)

A conversa instantaneamente para, o silêncio reina e continuamos a caminhar. Dobramos a direita, a esquerda em vários lugares e em dado momento chegamos a uma árvore frondosa e gigantesca. Angel para e pede que façamos o mesmo. Ele se abraça na mesma mas não consegue abarcá-la. Fica emocionado, chora, ri, enfim vive uma explosão de sentimentos em questão de segundos. Depois, senta e nós o acompanhamos.

—Sabe o que isto significa para mim? Representa um símbolo de amor, amizade e companheirismo. Por favor, abracem esta árvore de olhos fechados e sintam.

Obedecemos ao mestre e no mesmo instante, sinto uma tonteira muito forte, o sangue ferve, o mundo gira, e parece que estou de frente com a pessoa amada. É muito forte o que sinto e esqueço todos os entraves, as culpas, os problemas e sinto que vale a pena mesmo amar mesmo que a outra pessoa não reconheça. Encho-me de coragem, grito o nome da pessoa e digo:Amo-te. Não preciso me preocupar com nada pois do meu lado estão pessoas da minha inteira confiança. Depois do êxtase, sento e choro um pouco. Renato, também senta e chora, mas ele nos conta sua experiência mais pura que guardamos em segredo a fim de preservá-lo.

Conversamos mais um pouco, refletimos e combinamos de continuar o passeio. Seguimos agora em outra trilha rumo ao sul.O começo da nova caminhada é um pouco desgastante pois tínhamos vividos emoções intensas anteriormente mas não deixava de ser desafiadora e instigante. A cada passo dado, encontrávamos um novo mundo onde viveram nossos antepassados e criaram história e agora cabia a nós transformar o mundo. Pensando nisso, avançamos velozmente e paramos algumas vezes a fim de nos hidratar. Em dado instante, a trilha se abre e nos mostra uma extensa planície rochosa. Então, Angel nos convida a nos aproximar mais. Ele pede que sentemos, nós obedecemos e nos conta um pouco da história daquele lugar.

—Este foi o local combinado de encontro entre o nosso grupo de justiceiros do sertão e os famosos cangaceiros do bando de Virgulino.Aqui nos reunimos e tratamos de nossa ação contra as elites daquela época. Bons tempos aqueles. Éramos considerados heróis pelo povo em geral. Contudo, na verdade, buscávamos apenas um pouco de igualdade e justiça.

—Que lindo. Se tivéssemos ações parecidas com essa nos tempos atuais não teríamos tantos problemas e preconceitos em nossa sociedade. (Afirmei, o vidente)

—Concordo, vidente. Mas nos últimos tempos vimos algumas ações exigindo mudança louváveis. (Complementou Renato)

—Sim, é verdade. Os jovens de hoje não são diferentes dos de outrora. As situações é que mudaram. Muita coisa melhorou do meu tempo para cá, mas ainda há o que avançar. Está nas mãos de vocês: Querem agir ou serem apenas expectadores da vida? (Pergunta Angel)

—Agir. Meu propósito em ser escritor é viver aventuras, evoluir espiritualmente, mostrar o caminho de Deus, desmistificar e ajudar a destruir preconceitos, ensinar e aprender. Já conquistei duas etapas e pretendo permanecer neste mesmo caminho. (Declarei, o vidente)

—Meu objetivo é acompanhar e auxiliar o vidente, este ser batalhador, que lutou por mim um dia e que mostrou que os sonhos são possíveis. Quero ter momentos bons ao seu lado e curtir sua companhia por muito tempo. São poucos que tem este privilégio. (Renato)

—Obrigado, Renato.Qual é o próximo passo, Mestre? (Aldivan)

—Calma. Ainda estamos nos conhecendo. Continuemos o passeio. (Ponderou Angel)

Dito isto, voltamos a mudar de direção e desta feita caminhamos rumo ao oeste. Agora, o caminho se mostra pedregoso e isto dificulta um pouco.Porém,o esforço se mostra compensador pois aprendíamos a cada momento com o ambiente,com o mestre Angel e com as lembranças.Enfim,tudo estava correndo bem até aquele instante. Continuamos a caminhar entre conversas, entre barulhos de animais, respirando o ar puro da mata, enfrentando o calor escaldante do fim de ano, entre dúvidas e anseios gritantes de nosso subconsciente. Mas tudo valia a pena e continuamos a descoberta. Depois de cerca de quarenta minutos neste caminho, chegamos em frente ás ruínas de uma casa de taipa. Paramos e Angel pede que o acompanhe. Entramos no que era a casa e ao tocar o resto duma parede, tenho visões gritantes de experiência vividas ali: Vejo Incompreensão, choque de sentimentos,luxúria,luz e trevas, sabedoria e conhecimento desperdiçados no “Encontro entre dois mundos”. Fico estático com toda a informação recebida e, ao perceber minha dificuldade, Angel me presta socorro ao me tirar do eixo. Caio no chão, esmorecido. Renato e ele me fazem um carinho para que eu me restabeleça.

 

—Calma, filho de Deus. Eu deveria ter dito para você ter mais cuidado por sua sensibilidade. Aqui foi a residência do seu antepassado Vitor Torres e foi onde ele desenvolveu seus dons. O que foi que você viu? (Indagou o ancião)

—Um pouco dos sentidos dele. Mas foi tudo muito rápido. Fiquei um pouco com medo e sofri ainda mais por isso. (Revelou o vidente)

—Já passou. Estamos aqui com você. (Disse Renato)

—Na verdade, não tem que ter medo. Você é outra pessoa, estamos em outra época e as situações são distintas. Basta ter um pouco de cuidado e controlar seu dom que está ainda em desenvolvimento. Mas não se preocupe. Eu o ensinarei quando começar o nosso treinamento. Por enquanto, devem saber que aqui é um dos locais apropriados para vencer barreiras do tempo, espaço e abrir as portas para o outro mundo. Quem souber dominar o seu poder, pode conquistar tudo na vida e vencer seus inimigos. Não há limites— Explicou Angel.

—Entendo. Estou disposto a conhecer meus limites e a descobrir totalmente meu destino mesmo que isto envolva riscos altos. É necessário para minha carreira e para minha evolução espiritual e humana. (Declarei, o vidente)

—Estamos acostumados a correr riscos. (Complementou Renato)

—Você vai até onde puder. Não é irreversível este processo. Podes desistir a qualquer momento, fechar as suas portas espirituais e renunciar a esta dádiva. É tudo uma questão de escolha. Podemos continuar o passeio? (O mestre)

Confirmamos que sim. Saímos das ruínas da casa e pegamos outra trilha em direção ao leste. O novo começo de caminhada abre mais minhas perspectivas o que me faz ter mais esperanças de sucesso. Alheios a tudo, Renato e Angel continuam me acompanhando e dando a força necessária nos momentos certos. O que seria de mim daqui por diante? Eu não tinha ideia mas continuaria a minha jornada não importando os obstáculos ou os perigos que corresse.

Continuamos caminhando. Quando o cansaço bate, paramos e procuramos uma sombra de uma árvore a fim de descansar. Com este objetivo, nos desviamos um pouco da trilha e ao achar a árvore nos abrigamos e desabamos no chão. Angel ri e retoma o diálogo.

—Também está cansado, Filho de Deus? Pensei que os super-heróis fossem feitos de ferro. (Brinca Angel)

—Nem fala. Apesar de todos os meus predicados, eu sou uma pessoa comum em relação ás fraquezas, aspirações, medos e inquietações. Mas sei ser forte quando é necessário. (Comentei, o vidente)

—Concordo. Já o acompanhei em duas aventuras e posso dizer que ele soube corresponder às expectativas de seus mestres. Fez uma viagem no tempo, solucionou injustiças, voltou a montanha, aprendeu sobre os pecados capitais, em viagem a uma ilha embarcou num navio de piratas e se saiu muito bem. (Renato)

—Interessante. Mas saibam que desenvolver os dons vai exigir uma audácia maior da parte de vocês do que das vezes anteriores. Desta vez, escolhas importantes terão que ser feitas. (Angel)

—Quais, por exemplo? (Pergunto, o vidente)

—Calma. Ainda não é chegada a hora. Controle sua ansiedade pois ela pode lhe atrapalhar. (O ancião)

—Desculpa. Já descansei. Vamos continuar? (Vidente)

—Está de acordo, Renato? (Angel)

—Sim. Vamos. (Renato)

Saímos rapidamente, retomamos a trilha em silêncio e a cada passo ultrapassamos obstáculos. O clima é agradável, estamos tranquilos e nada neste momento parece impossível apesar do desafio gigantesco de se aventurar naquelas terras. Dobramos a esquerda, a direita, encontramos pessoas, as cumprimentamos e neste vaivém chegamos depois duma hora de caminhada a uma planície extensa, sem vegetação, rodeada por rochas vermelhas. No centro, uma pedra grande. Angel pede para Renato ficar e avança um pouco mais comigo até o centro. Subimos em cima da pedra, ele me convida a sentar e depois, deitar. Pede que eu feche os olhos, eu obedeço e sinto mãos experientes pousarem em minha cabeça. Como se fosse uma chuva, sinto raios de energia penetrarem em minha mente como da última vez. Mas desta feita, eles em vez de me acalmar me deixam mais inquieto por causa das visões que se revelam pouco a pouco na tela da minha mente. Vejo dor, opressão, perseguição, calúnias, maus entendidos, problemas de relacionamento amoroso e de amizade, solidão, lutas internas, fracassos nem sempre assimilados, mas no fim de tudo uma luz bem vibrante. Tento me aproximar da luz e ao chegar bem perto, desperto. Ao meu lado está Angel, um pouco sério.

—Viu filho de Deus, o que te espera? Nem sempre temos tudo nesta vida, entende? (Angel)

—Sim.Entendi. Mas eu escolho tentar. É meu sonho, desde criança e nem todas as dificuldades do mundo irão me impedir. No fim de tudo, há uma luz. Como alcançá-la? (Indagou o pequeno sonhador)

—Esta resposta só você pode descobrir dentro de você. Eu sou apenas mais uma seta que o destino colocou a sua frente assim como os seus outros mestres. Se estiver disposto a me ouvir sempre, mesmo que seja inconscientemente, provavelmente obterás sucesso. Digo isso não com orgulho, mas com a humildade de quem já viveu muito, cento e treze anos, e que já experimentou de tudo nesta vida. Falta apenas você dizer que sim. (Angel)

—Sim. Ouvir-te-ei e aprenderei o segredo dos sete dons. Esforçar-me-ei para isso. (Divinha)

—Muito bem. Gosto de jovens determinados. Voltemos agora, Renato nos espera. (O mestre)

—Tudo bem. Vamos. (O vidente)

Deixamos a pedra, retornamos pelo mesmo caminho, reencontramos Renato e juntos começamos a fazer o caminho de volta a casinha de sapê. Pegamos um atalho pois o dia já avançava. Passamos por lugares diferentes, vivemos novas experiências, encontramos mais pessoas, conversamos um pouco a fim de nos conhecer melhor e assim o tempo vai passando. Quando menos esperamos, chegamos ao destino. Entramos na casinha, nos dirigimos a cozinha e preparamos um alimento rápido. Ao comer, recuperamos um pouco as forças e, como já estava tarde, resolvemos tirar um cochilo. Eu, na cama de capim, Renato, na rede, e Angel, no chão. O que nos esperava? Continue acompanhando, leitor.

Acordamos juntos por coincidência.Ao conferir a hora, verificamos que já era seis da noite.Angel,amigavelmente,nos convida a sair e ajudá-lo a fazer a fogueira a fim de nos aquecer e nos iluminar em substituição á luz elétrica que o mesmo se negava a instalar. Aceitamos o convite, pegamos as toras e os gravetos de madeira atrás da casa e levamos até a frente. Quando arrumamos uma boa pilha, Angel nos ensina a fazer fogo com as pedras. Depois de algumas tentativas, conseguimos e ficamos a nos aquecer, a observar as estrelas, a curtir a brisa da noite e a papear. Um pouco de nossas conversas está transcrito abaixo: