Alquimistas E Incendiárias

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— O que posso fazer?

Ellie bateu com o punho na bancada.

— Pode encontrar sua amiga no Águia de Ferro e descobrir o máximo possível da operação atual de Jack Blair. Ele esteve entocado por um período, mas Theo e eu sabíamos que ele sairia dos escombros, cedo ou tarde. Sei em primeira mão o quão perigoso ele pode ser.

Nate respirou fundo, trêmulo, deixando que tudo o atravessasse. Ele não perdeu o brilho nos olhos de Ellie, ou como o olhar dela escureceu. Qualquer incursão que ela e Jack Blair compartilharam foi de uma variedade pessoal duradoura.

— Perigo não é o que estou procurando aqui. — Nate murmurou. Essa era a última coisa de que ele precisava, atrair a atenção desse tal de Jack Blair.

Ellie colocou as mãos nos quadris.

— Covardes não duram muito nessas ruas, primo. — ela o encarou com um olhar penetrante. — E se os homens de Blair já o têm na mira, precisa confiar em mim, ele não vai parar.

O coração de Nate bateu mais forte com a seriedade nos olhos de Ellie.

— Qual é a história entre vocês três?

Ela franziu os lábios como se pensasse no quanto oferecer.

— Theo teve que levar um exército mecânico para me tirar do porão que ele me prendeu. Acontece que ele não gosta de ninguém cruzando seu território.

A tensão na voz dela, o ligeiro engate ao tentar manter a leveza, denunciava-a. O que quer que Jack Blair tenha feito com ela, deve ter traumatizado a prima. Desconforto o atravessou ante a ideia de apenas ignorar isso. Ele poderia, ao menos, ir a este encontro para tentar obter algumas informações, para o bem deles.

— Irei. — ele murmurou.

Ellie levou a mão ao ombro dele e apertou.

— Não está sozinho nisso, Nate. Encontraremos uma maneira de derrubar Jack Blair antes que isso piore.

Se ao menos ele acreditasse nisso.

Capítulo Quatro

Belle não costumava frequentar bares como o Águia de Ferro, mas seus covis habituais de iniquidade seriam área proibida enquanto os homens de Blair vasculhassem a cidade buscando-a.

Lâmpadas fracas piscavam, emitiam uma luz suave e misteriosa por todo o bar que refletiu em todas as superfícies metálicas. Detalhes de ferro decoravam todo o lugar, desde a bancada polida até os bancos de metal. Mesas redondas prateadas ocupavam o resto do espaço aberto, cadeiras de metal frágil em torno delas. Ela escolheu e se sentou no canto mais distante, o melhor ponto de observação para estudar cada ocioso que passava pela porta.

Belle se recostou no assento e esperou que a garçonete viesse para pedir uma cerveja. Ela considerou pegar duas, mas não estava convencida de que o atraente dono da loja de ontem faria uma aparição. Um homem polido como ele não perderia mais tempo com uma criminosa como ela.

Mesmo que ela nunca tivesse tido escolha no assunto.

Talvez se ela roubasse mais algumas bolsas, poderia juntar o suficiente para escapar. Afinal, havia poucos lugares na cidade para se evitar Jack Blair e seus capangas, e quanto mais esse jogo de gato e rato se estendia, mais limitadas se tornavam as rotas de fuga.

Tagarelice borbulhava pelo lugar pelas dezenas de sujeitos enfileirados nos bar e os trabalhadores amontoados ao redor das mesas. Todos pareciam estar fumegando após os turnos nas fábricas. Trabalho honesto nunca foi uma opção para ela, não quando foi vendida para trabalhar para Blair.

A porta se abriu, e Nate Whitfield entrou.

O homem caminhava com passos rápidos, todo cavalheiro em seus sapatos engraxados, uma sobrecasaca cinza-aço combinando com calças de cintura alta e uma gravata vermelha escura em volta do pescoço. Ele não parecia pertencer à sujeira de Islington, nem mesmo à classe trabalhadora manchada de fuligem reunida neste bar. Vários olhares seguiram o caminho trilhado por ele ao serpentear pelas cadeiras e mesas em direção a ela.

Assim que os olhares dos dois se encontraram, um rubor subiu às bochechas dela.

Ela nunca cruzara com esse tipo de beleza: suave de uma forma que ninguém ao longo dessas ruas poderia se dar ao luxo de ser. Com os cabelos escuros despenteados e olhos expressivos, ela o considerou fascinante desde o momento em que entrou na loja dele, e muito bonito. No entanto, homens bonitos nunca a haviam encantado. A maneira como ele se comportou na loja; como ofereceu refúgio, como não pressionou ou exigiu nada ao final, ela nunca encontrou um homem assim.

Ele inclinou a cabeça em um aceno quando se aproximou, tirando a cartola e sentando-se em frente a ela.

— Estou aqui para reclamar a bebida que me prometeu.

A garçonete se aproximou, e Belle pediu duas canecas. Ela não perdeu como o olhar da mulher se demorou na companhia dela. Não que ela pudesse culpá-la.

— Para ser honesta, estou surpresa que tenha aparecido. — ela murmurou. — Nem sempre alguém quer me ver, ainda mais após eu ter levado problemas a eles.

— Falando em problemas… — Nate respondeu, o olhar pousando nela. — Os capangas de Blair visitaram minha loja ontem à noite.

Belle permaneceu em silêncio, sem saber o que dizer. Ela sabia do perigo de arrastar outros para a confusão, mas foi egoísta ao invadir a loja dele. No entanto, remorso a remoía por dentro, um pouco mais a cada dia que passava.

— Então, creio que devo muito mais a você do que uma caneca. — foi tudo o que ela conseguiu proferir.

Claro que era demais esperar que o camarada pensasse um pouco mais nela do que como uma fonte de problemas. Ela foi um fardo desde o nascimento, e a tendência permanecia.

Nate balançou a cabeça.

— Está claro que você está sob uma pressão considerável, e não está na minha natureza chutar alguém que está quase caindo.

As sobrancelhas de Belle se juntaram.

Nate abriu a boca, mas antes que pudesse continuar, a garçonete voltou com duas canecas de cerveja na mão. Ela agarrou a caneca dela com força e deslizou o dinheiro na direção da mulher. Não era como se ela pudesse se dar ao luxo de abrir mão do pouco que tinha, mas devia ao menos isso a Nate Whitfield. Belle levou a cerveja aos lábios e deu um gole inebriante. O líquido doce e escuro desceu pela garganta, mesmo que fizesse pouco para combater seus nervos inflamados.

— Estou aqui com uma proposta que pode achar interessante. — Nate continuou. — Embora eu não esteja entusiasmado em me envolver mais, está claro que já tenho um alvo pintado nas costas. E acontece que minhas primas têm um passado rancoroso com Jack Blair.

— Sou toda ouvidos. — Belle disse com o coração batendo um pouco mais forte.

Ela tomou outro gole, tentando não parecer estar se agarrando a cada palavra dele. Verdade seja dita, ela se agarrava.

— Ellie quer lançar um ataque contra ele, e acredita que você pode ajudar. Embora eu não goste de entrar em batalhas com gangues e criminosos, a lógica da minha prima acerca do assunto é sólida e baseada em experiência.

— Ellie… — Belle disse, parando, a boca se abriu e fechou quando as coisas se encaixavam. — Ellie Whitfield é sua prima.

Ela trabalhava para Blair, no lado norte da cidade, quando a sequestraram e a mantiveram cativa no porão. Mesmo assim, todos na equipe de Blair se lembravam de Ellie e Theo Whitfield. A ladra e a tecnomante conseguiram destruir a base dele, acabar com metade da gangue e obrigar o resto a fugir para um esconderijo.

Por um mero instante após voltar para a casa destruída, Belle teve esperança. Esperava que Blair tivesse sido eliminado na luta e que ela pudesse ter uma chance de reivindicar a liberdade que ansiava.

Claro, a barata sobreviveu, procurou-a e começou a reconstruir. E não importa o quanto ela quisesse escapar, o quanto quisesse dizer não para a maioria das coisas que era forçada a fazer, o homem a apavorou desde tenra idade.

O olhar de Nate se aguçou.

— Por acaso você a conhece?

― Todos no submundo conhecem Ellie Whitfield. — Belle respondeu, bebendo mais cerveja, como se assim houvesse uma chance de se recompor.

Fugir de Jack Blair exigiu cada grama de determinação nela. A ideia de lutar com ele? Um arrepio desceu pela espinha dela. As costas das mãos dele encontraram-na muitas vezes, ao ponto de que tudo o que ele precisava fazer era entrar em um cômodo, e ela se encolheria.

— Eu deveria ter imaginado. — Nate soltou um suspiro, erguendo o copo em saudação. — Embora eu esteja relutante em me envolver, se minhas primas loucas estão nisso, não tenho muita escolha. A verdadeira questão é se você está ou não disposta a participar dessa aventura.

A boca de Belle secou. Parte dela ansiava por dizer sim. Se Jack Blair pudesse ser derrotado de alguma forma, ela estaria livre para vagar pela cidade sem amarras, livre de uma maneira que ela sonhava nas primeiras horas da noite, quando o luar entrava pela janela quebrada em que ela dormia.

No entanto, terror congelou sua língua.

Ellie e Theo podem ter vislumbrado grandes planos para derrubar Jack Blair, mas após o ataque, ele se embrenhou ainda mais nas profundezas da cidade. Encontrou um novo esconderijo e começou a atrair mais membros do que nunca. Enfrentar o líder de uma gangue era pura loucura.

Belle bebeu outro gole de cerveja, esperando que pudesse aumentar a coragem. Ela pousou o olhar em Nate, que a encarou, não com pena ou nojo, mas com um brilho suave que parecia compreensão.

— Embora eu não seja muito boa em confrontos, posso dar às suas primas a informação que procuram: esconderijos, membros da tripulação atuais e alvos. — Belle ofereceu.

Entretanto, se essa empreitada chegasse a um confronto real, ela não poderia fazer promessas. Afinal, no instante em que coletasse moedas suficientes para pagar uma passagem para fora desta cidade, ela começaria a correr e nunca mais olharia para trás.

 

— É tudo que eu poderia esperar. — Nate respondeu, flexionando os dedos. — Confie em mim, sou inútil em uma briga. Tudo o que tenho é talento para alquimia, não para socos certeiros.

— Se precisar que um prédio pegue fogo, então, sou sua garota. — Belle ofereceu com um meio sorriso.

Sentar-se em frente a ele, e saborear uma cerveja foi o mais próximo que ela chegou de alguém fora da gangue de Blair por anos. Associações externas eram desaprovadas e, após o incidente com Ellie, Blair se fechou ainda mais. Ela descobriu gostar da companhia de Nate, da autodepreciação irônica e comentários sinceros que ele proferia.

— Dado o caráter bem inflamável da minha loja, prefiro que esteja ao meu lado e não contra. — Nate murmurou, um sorriso divertido.

O homem não tinha o direito de ser tão bonito e, sentada tão perto dele, ela sentia o cheiro de vetiver. O aroma a percorreu com uma intensidade surpreendente. A proximidade do homem a deixava desnorteada, em especial após a gentileza demonstrada por ele no dia anterior.

Homens como Nate Whitfield eram raros.

No entanto, uma criminosa fugitiva como ela nunca poderia esperar ganhar o afeto de alguém tão bom e decente quanto ele. Não importava que ela sonhasse com uma vida normal desde que pudesse se lembrar.

— Eu nunca queimaria sua loja. — ela respondeu, uma ferocidade surpreendente no tom. — Pelo menos, não por escolha.

Nate bateu na lateral da caneca por um instante, o olhar cuidadoso.

— O que a mantém a serviço dele?

Ela voltou a abrir a boca e fechá-la. Como começaria a explicar ser propriedade do homem há tanto tempo, que mal conseguia se lembrar de como foi antes? O próprio medo e as rédeas curtas de Jack Blair em torno das próprias posses a mantiveram acorrentada.

Uma risada amarga escapou dela.

— A esta altura, nada além de hábito e uma grande preocupação minha em estender minha própria existência. Contudo, isso eu joguei fora ao partir. Desde então, estão me caçando pela cidade.

— Daí a sua aparição surpresa na minha loja ontem. — Nate ponderou. — Blair não pode apenas encontrar outro incendiário?

Ela conseguia vê-lo tentando encaixar as peças. Desde o segundo em que o conheceu, com sua maneira clara de falar e as trilhas lógicas que ele seguia, ela soube que o homem possuía uma mente científica. Belle poderia se esquivar da verdade, mas por que se preocupar? Ele queria ajudá-la a se livrar de um problema, e a única coisa que ela estava protegendo eram os próprios sentimentos de aversão a si.

— Meus pais me venderam para ele quando eu era pequena. Eu estava me encrencando por iniciar incêndios, e viram uma oportunidade de ganhar algumas moedas e se livrar de um problema potencial.

As palavras pesaram na língua, palavras que passearam pela cabeça dela por tanto tempo que pronunciá-las em voz alta parecia estranho.

Nate juntou as sobrancelhas e espalhou as palmas das mãos na mesa.

— Eles venderam você?

O tom dele soou com o mesmo horror abjeto que ela poderia sentir se não tivesse crescido nesta vida. Em vez disso, a dor se transformou em uma lâmina cega, continuando a apará-la.

— É difícil ganhar dinheiro por aqui. — Belle respondeu, tentando ao máximo permanecer inalterada, embora tremesse por dentro.

Ela gostaria de poder contar uma bela mentira, que seu tempo a serviço de Blair não foi tão ruim assim, mas o homem era tão monstruoso naquela época quanto era agora.

Ele estendeu a mão, descansando a palma acima da mão dela. O toque a chocou, um aperto suave e quente reverberando até o âmago.

Nate a olhou nos olhos, e ela se viu hipnotizada.

— Vamos destruir Jack Blair. Não posso nem imaginar o que sofreu todos esses anos, mas terá sua liberdade, eu juro.

A voz dele engrossou com uma convicção que tensionou o ar entre eles. Ele era uma contradição constante: em um segundo era um poço de lógica e, no próximo, mostrava-se cheio de uma paixão que a atraia mais fundo.

Ela forçou um sorriso.

— Calma, herói. Já fez uma boa ação ao oferecer-me esconderijo, e veja aonde isso o trouxe. Tendo a trazer ruína por onde passo, chame de maldição, personalidade rasa ou decisões atrozes na vida, escolha.

Ele não se afastou, a mão ainda sobre a dela. O calor que emanava dele, a maneira como ele falou em defesa dela quando ela não conseguia imaginar ninguém querendo fazê-lo, tudo isso causou um nó na garganta.

Nate balançou a cabeça e sorriu também.

— Não entende como minhas primas podem ser convincentes quando querem. E não foi você quem destruiu minha loja, foi Blair e os capangas dele.

O olhar de Belle se desviou para a porta, que continuava a abrir e fechar com mais clientes a cada minuto ou assim. Não importava o quanto ela quisesse mergulhar na visão do homem lindo diante dela, ela precisava estar vigilante. Mesmo neste bar para operários, ela permanecia na cidade de Blair, o que significava não estar segura.

A verdade se enredava no fundo da mente. Ela nunca estaria segura até que Jack Blair estivesse morto.

A porta se abriu, e um homem corpulento entrou.

Boné-coco rasgado, carranca maldosa no rosto grande demais e um lenço marrom, ela reconheceria Lucas em qualquer lugar. Afinal, ele trabalhava para Jack Blair desde que ela conseguia se lembrar.

Belle abaixou a cabeça, apertando a mão de Nate para chamar a atenção.

— Um dos homens de Blair acabou de entrar no bar. Precisamos escapar. Agora.

Capítulo Cinco

Nate estava atolado na própria miséria desde que deixou seu lar e entrou em Islington, mas a história de Belle colocava a situação dele em uma perspectiva nítida. Embora ele foi rejeitado pela própria comunidade e os pais dele o desprezaram; tia Eleanor, Ellie e Theo não foram nada além de acolhedoras desde o instante em que ele chegou.

Mas Belle? Ela não podia contar com vivalma no mundo.

Não importava os falsos sorrisos que ela abria e as palavras arrogantes que proferia, mágoa brilhava naqueles olhos escuros, o tipo que marcava alguém para o resto da vida. Ele não podia adicionar ainda mais dor, não após tanto sofrimento.

Belle agarrou as mãos dele, chamando a atenção para ela. As palavras "capangas de Blair" escaparam dos lábios dela, e ele se percebeu virando-se na cadeira para dar uma olhada no homem que entrara pela porta.

— Onde fica a saída mais próxima além da porta de entrada? — ele sussurrou, abaixando a cabeça também.

— E eu que sei? — ela murmurou, pânico queimando nos olhos como uma lâmpada de gás acesa. — Embora eu acredite que haja um segundo andar neste edifício.

O que significava que eles poderiam encontrar um lugar para se esconder.

Nate vasculhou o cômodo até que notou a porta do lado oposto. Só precisavam se esgueirar pelas dezenas de clientes e mesas ocupadas sem serem detectados.

— Quão bem esse homem conhece você? — ele perguntou.

— O suficiente para me reconhecer sem esforço. — Belle respondeu, os ombros tensos.

Ele puxou a cartola e bateu os dedos na mesa duas vezes antes de se levantar.

— Me siga.

Ele não olhou para trás para ver se entendeu, e se levantou da cadeira, deixando os restos de cerveja.

A barricada formada pelos clientes barulhentos contornava o salão e, com os inúmeros indivíduos sonolentos sentados para tomar uma cerveja, ele avistou uma linha clara em direção à porta oposta se eles se abaixassem para se proteger. O grande sujeito em questão caminhou até a extremidade oposta do bar, onde Nate esperava que ele ficasse. Os músculos enormes e passos confiantes prometiam que o homem poderia derrubá-lo com um único golpe. Nate não era dado a nenhum tipo de briga, e não teria chance.

Nate se atreveu a olhar para trás. Belle deslizava atrás dele com uma graça fluida, e juntos se esgueiraram como os gatunos e batedores de quem eles estavam tentando se esconder. Um ano atrás, ele nunca teria acreditado que estaria se esquivando de membros de gangue em Islington.

No entanto, aqui estava ele. A vida não costumava se ater a nada tão absurdo quanto planos.

Uma gota de suor escorreu pelo pescoço dele, enquanto desviava de outro sujeito sentado no bar. Alguns olhares oscilaram na direção deles, em suma curiosos. Ele não queria ficar se virando para o homem de Blair com muita frequência, para o caso de os olhares chamarem atenção, mas odiava a pontada de vulnerabilidade deslizando pelos braços enquanto cortavam a multidão. A qualquer instante, eles poderiam ser avistados. Belle deslizou ao lado dele, a mão roçando a dele. A sensação foi como um arrepio de eletricidade correndo através dele.

— Porta à frente? — ela perguntou.

Nate assentiu em resposta.

A garganta dele se apertou quando se aproximaram, estavam há poucos metros de distância de seu destino. Uma senhora e um cavalheiro se levantaram das banquetas e passaram por eles, oferecendo cobertura temporária. Assim que alcançassem a porta, ele e Belle poderiam se esconder no andar superior e esperar que o bandido encontrasse a saída do estabelecimento. A porta estava à frente, a maçaneta quase ao alcance.

Ele deu outra olhada por cima do ombro.

O olhar do batedor pousou nele. Nate congelou, embora não precisasse temer ser avistado, o homem não o reconheceu.

No entanto, o olhar do homem se voltou para Belle, e as sobrancelhas espessas se juntaram.

— Corra. — escapou dos lábios de Nate.

Ele bateu com a mão na maçaneta e girou, abrindo a porta.

Ele irrompeu pela entrada, e Belle o seguiu de perto, arrastando a porta até fechar com um baque reverberante detrás dela. Uma escada se estendia diante deles, levando a outra porta no segundo andar. Ele não hesitou, as coxas tensas enquanto disparava adiante para subir os degraus, não se importando com o barulho. Belle passou por ele com uma velocidade invejável, escada acima.

Ela agarrou a maçaneta e a sacudiu, mas não se mexeu.

Trancada.

De uma distância abafada, o som de passos pesados ficou mais alto. O batedor de Blair iria alcançá-los a qualquer momento, e eles ficariam presos nesta escada. A respiração ficou rarefeita na garganta de Nate. Ele deveria ter trazido algum tipo de arma, ou pelo menos mais algumas poções. Em vez disso, ele veio para esta reunião como o tolo protegido que era.

— Eu cuido disso. — Belle murmurou e puxou um grampo do bolso.

A fechadura clicou um segundo depois, e ela puxou a maçaneta, abrindo a porta.

Na base da escada, a outra porta se abriu, e o homem de Blair irrompeu, as bochechas vermelhas como cereja e o olhar fixando-se neles.

— Parem de correr.

Belle não esperou e mergulhou pela porta.

Nate a seguiu e fechou a porta atrás de si com uma batida, ou o mais próximo disso. Neste andar havia um espaço residencial, estava claro ser para inquilinato: cozinha esparsa, quarto individual, um foyer aberto. Nenhum dos móveis sugeria uma saída.

―Aqui. — Belle o chamou, correndo para frente.

Ele a seguiu e viu as janelas na extremidade oposta da cozinha. Juntos, correram pelo cômodo principal. Nate saltou por cima de livros com capa de couro largados pelo chão, esquivando-se das poltronas esburacadas posicionadas ao redor.

Passos trovejaram escada acima atrás deles.

A qualquer segundo, o capanga de Blair entraria correndo pela porta.

Belle se esforçou para abrir as janelas. Com um rangido, uma delas se abriu, deixando entrar o ar fresco para recebê-los. Serviu para esfriar o suor que escorria pela testa dele. O coração batia forte enquanto ele tentava controlar o pânico crescente. Estavam a uma altura de dois andares. Mesmo se escapassem, sobreviveriam à queda?

Belle saiu pela janela, os pés alcançando o telhado curto que levava a uma queda de dois andares.

— Vamos. — ela murmurou com os olhos preocupados. — Temos que arriscar.

Nate assentiu e se espremeu pela janela atrás dela. Enquanto ele passava, as duas poções que ele carregava retiniram uma contra a outra. Uma para cuspir fogo e outra para formar uma nuvem improvisada.

Uma ideia surgiu de imediato.

Nate mexeu no trinco na parte interna da janela, antes de fechá-la atrás de si. Olhou pelo vidro a tempo de ver a porta da escada se abrindo. O capanga de Blair entrou correndo, parecendo um touro furioso.

 

— Pronto para pular? — Belle perguntou, lançando um sorriso para ele, apesar da preocupação brilhando nos olhos.

— Espere um pouco. — Nate disse, puxando a garrafa de vidro brilhando com uma substância prateada.

Ele caminhou até a beira do telhado e olhou para a rua abaixo. Estava deserta na parte de trás do bar, que dava para um beco, perfeito para evitar ser detectado. Ele abriu a garrafa e derramou o líquido. O fluido espirrou no chão abaixo.

Belle deslizou para o lado dele, olhando para a poça que ele havia formado dois andares abaixo.

— Mais de sua malandragem arcana?

— Algo para amortecer nossa queda.

A substância se acumulou no chão, inflando até que uma nuvem prateada perfeita os esperava abaixo. Eles tinham apenas alguns segundos. A janela atrás deles chacoalhou.

Nate estendeu a mão, oferecendo-a, e Belle a agarrou. Os olhos dela encontraram os dele, e ela assentiu.

Juntos, eles pularam.

O ar chicoteou ao redor deles, e o casaco ondulou atrás dele, o mundo girando enquanto desciam. A cartola saiu da cabeça dele, flutuando na brisa. A respiração dele engatou na garganta, e o aperto na mão de Belle ficou ainda mais forte. Eles desceram devagar, a pequena nuvem no chão ficando mais perto a cada segundo. Suor voltou a brotar na nuca dele; A nuvem talvez não fosse suficiente para amortecer a queda.

Pânico se instalou quando a nuvem prateada ficou ainda maior diante deles. As botas dele acertaram ar denso e, um segundo depois, ele chegou ao chão. A força da aterrissagem reverberou pelas canelas, e ele cambaleou, quase perdendo o equilíbrio. Belle não soltou a mão dele, e ele não fez nenhum movimento para se afastar.

Eles sobreviveram.

Tontura borbulhou por dentro, o suficiente para que uma risada histérica escapasse da garganta dele. Belle lançou um olhar divertido.

— Embora eu não possa prometer uma excursão segura ao meu lado, posso dizer que nunca será enfadonho.

Nate balançou a cabeça, prestes a responder quando um grito veio de cima. O batedor de Blair estava no telhado, apoiando os ombros e recuando como se estivesse se preparando para pular. A substância deveria segurar a nuvem por não mais de um minuto e começou a se dissipar ao redor deles.

— Vamos. — ele disse, lançando-se para frente e puxando-a junto.

Eles correram pelo beco de mãos dadas, e uma sensação de alegria rodopiou no peito dele, misturada com puro terror. Ele acreditava que apenas a alquimia poderia arrastá-lo a alturas como esta, mas as primas devem ter encontrado suas próprias saídas. Ao lado de Belle, esse ritmo rápido parecia natural, emocionante até.

Belle passou por ele em instantes, e ele a deixou assumir a liderança. Dos dois, ela conhecia as ruas de Islington muito melhor do que ele, e desde que a conheceu — ele não conseguia explicar o porquê —, mas ele confiava nela. Quando ele agarrou com força a mão dela, ele não pôde deixar de notar a forma como seus longos cabelos escuros caíam atrás dela, como as calças acentuavam as curvas adoráveis e a forma poderosa como as coxas dela se contraíam. Embora a mulher afirmasse não ser uma lutadora, ela aprendeu a sobreviver.

O coração dele bateu mais forte, contudo, se era pela mulher correndo à frente dele ou pelo furor que causavam pela cidade, ele não podia ter certeza. Deslizaram por um beco para outro em uma teia complicada, de vez em quando, disparando para uma via principal para um alívio temporário. Ele não podia culpá-la pelo comportamento discreto. Os homens de Blair estavam espalhados pela cidade como ratos, e ele colocou um alvo nas costas dela.

O coração de Nate se apertou. Ele entendia a dor da traição, mas nunca poderia imaginar uma tão cruel como a que ela passou quando criança. A mulher vinha lutando para sobreviver desde muito cedo.

O cenário mudou ao redor deles à medida que os prédios ficavam cada vez mais achatados e decrépitos. Ele reconheceu algumas das casas depenadas de estruturas apodrecidas e telhados abertos, algumas que ele sempre avistava no caminho de ida e volta para a loja.

— Estamos perto do meu apartamento. — Nate gritou, as palavras saindo um pouco sem fôlego, enquanto ele e Belle continuavam a correr ao longo da rua.

Ele não era acostumado a esses tipos de arremetidas loucas, não com a maneira como as bochechas dele estavam quentes, e ele respirava esbaforido.

— Mostre o caminho. — Belle disse, desacelerando até que ela estava ao lado dele.

Ainda não haviam largado a mão um do outro, mesmo durante toda a corrida, algo de que ele estava cada vez mais ciente. As palmas dele suavam, a autoconsciência o dominando, mas ele não conseguiu se afastar. Esta conexão galvânica com Belle, não importa o quão breve viesse a ser, era a primeira que ele experimentou em muito tempo.

Na cidade dele, ele se afundou tanto na alquimia que mal erguia os olhos para reconhecer a presença das pessoas ao seu redor, muito menos alguém que pudesse o atrair. No entanto, desde que Belle apareceu, correndo pela porta da frente da loja, ele não conseguiu negar a intensa atração que sentia. Ela o fez olhar para o mundo ao redor mais do que qualquer pessoa que ele já conheceu.

As solas das botas dele batiam nos paralelepípedos com força suficiente para ele sentir o impacto no corpo, mas ele e Belle seguiram, incapazes de parar, caso houvesse a menor chance de o capanga de Blair estar os seguindo de alguma forma. Fedor chegou até ele: de mijo, podridão e cerveja velha. Marcas desta parte de Islington.

Assim que alcançou a ladeira até o prédio residencial dele no final da rua, ele diminuiu a velocidade para uma caminhada. Belle o seguiu, mas não fez nenhum esforço para se afastar dele. Desta forma, ele poderia sonhar acordado por um instante absoluto em que teria acesso a uma vida mais simples, onde ele daria um passeio noturno com uma mulher que ele gostava, em vez de gastar todo o tempo correndo para salvar a própria vida e se preparando para quaisquer planos causadores de dor de cabeça inventados pelas primas.

— Se eu não soubesse melhor, pensaria que gostou de nossa escapada. — Belle murmurou, um sorriso fraco nos lábios.

Nate balançou a cabeça.

— Gostar é um exagero. No entanto, posso admitir que trouxe uma boa dose de emoção. — ele olhou para ela. — Como mantém esse ritmo por tanto tempo quanto faz, não a invejo.

Belle encolheu os ombros, tristeza cintilando nos olhos luminosos.

— Até eu juntar dinheiro suficiente para ir embora, estou presa aqui, me esquivando do homem que é meu dono desde que me lembro.

Nate balançou a cabeça e apertou a mão dela. Raiva explodiu dentro dele por saber que o futuro desta mulher foi roubado dela em uma idade tão jovem.

― Ele não possui você, Belle. — ele rosnou. — Não importa o acordo que seus pais fizeram, você merece ser livre para viver a própria vida, longe daquele homem monstruoso.

O sorriso suave de Belle se tornou algo mais amargo.

— Se suas primas querem tirá-lo de cena, então talvez eu tenha uma chance. Caso contrário, preciso continuar correndo. O homem tem conexões por toda a cidade e comanda uma das gangues mais antigas de Londres.

— Se alguém pode matar Jack Blair, são Theo e Ellie. — Nate murmurou com um sorriso irônico. — Um par mais feroz do que qualquer um que você já conheceu.

Na verdade, elas foram uma bênção quando ele chegou aqui para afogar as mágoas. Nenhuma das mulheres o deixou ficar de mau humor por muito tempo.

Ele passou os últimos seis meses lamentando tudo que havia perdido, mas os poucos momentos roubados com Belle fizeram os olhos dele se abrirem de uma maneira que ninguém conseguira antes.

Os cortiços se aproximaram, bêbados já cambaleando nas ruas a esta hora da noite, e os bares próximos em plena badalação estridente. Ele ainda não conseguia manter a calma diante dos rufiões desordeiros que davam socos com tanta frequência quanto riam escandalosamente, mas Belle parecia implacável. A mulher se movia com equilíbrio e confiança, embora ele não perdesse como o olhar dela viajava para cada junção nos paralelepípedos, cada beco que se aproximava.

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