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Alerta Vermelho: Confronto Letal

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Aus der Reihe: Um Thriller de Luke Stone #1
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CAPÍTULO 3

03:35

East Side de Manhattan

“Parecem ratos,” Disse Ed Newsam.

O helicóptero desceu sobre o East River. A água negra corria logo abaixo deles, e era possível divisar, no seu eterno movimento apressado, pequenas ondas que se erguiam e tombavam. Luke percebia o que Ed queria dizer. A água parecia conter milhares de ratos a correr sob um cintilante manto negro.

Desceram lentamente para o heliporto da 34th Street. Luke observou as luzes do edifício à sua esquerda, um milhão de joias faíscantes na noite. Agora que tinham aterrado, apoderou-se dele um sentimento de urgência. O coração batia a mil. Durante o longo voo tinha-se mantido calmo porque, que mais poderia fazer? Mas o tempo não parava e tinham que se apressar. Se pudesse, teria saltado do helicóptero antes de aterrar.

Tocou no solo com um solavanco e um estremecimento, e de imediato todos tiraram os cintos. Don abriu a porta energicamente. “Vamos,” Instou.

A porta de saída para o exterior ficava a cerca de 20 metros do local de aterragem. Três SUV aguardavam por eles logo a seguir às barreiras de betão. Uma equipa da Special Response Team de Nova Iorque dirigiu-se ao helicóptero e descarregou as malas de equipamento. Um homem transportou as malas de Luke.

“Cuidado com elas,” Advertiu Luke. “Da última vez que cá estive, perderam as minhas malas. Não vou ter tempo para fazer compras.”

Luke e Don subiram para a SUV da frente e Trudy deslizou para junto deles. A SUV estava ampliada de forma a criar uma cabina com lugares virados uns para os outros. Luke e Don sentaram-se virados para frente e Trudy para trás. A SUV começou a andar mesmo antes de estarem sentados. Um minuto depois já circulavam no estreito FDR Drive em direção a norte. Táxis amarelos acercavam-se deles como um enxame de abelhas.

Ninguém falou. A SUV seguiu o seu caminho abraçando as curvas de cimento, passando em túneis situados por baixo de edifícios em ruínas, calcando com força os buracos na estrada. Luke sentia o coração a bater no peito. Não era a condução que provocava a aceleração da sua pulsação, mas antes a expectativa.

“Teria sido agradável cá vir para nos divertirmos,” Gracejou Don. “Ficar num hotel chique, talvez ver um espetáculo da Broadway.”

“Talvez na próxima vez,” Retorquiu Luke.

Olhando pela janela, apercebeu-se que a SUV já abandonava a autoestrada. Era a saída da 96th Street. O condutor mal parou num sinal vermelho, depois virou à esquerda e desceu a avenida deserta.

A SUV fez a sua aparição na entrada circular do hospital. Era um momento tranquilo da noite. Pararam mesmo em frente das luzes intensas da sala de emergências. Um homem de fato esperava por eles.

“Vestido a rigor,” Disse Luke.

Don tocou Luke com um dedo espesso. “Ouve lá, Luke, preparámos uma coisa especial para ti. Quando é que vestiste um fato hazmat pela última vez?”

CAPÍTULO 4

04:11

Sob o Center Medical Center, Upper East Side

“Não apertes muito,” Disse Luke com o termómetro de plástico na boca.

Trudy tinha colocado o sensor de um monitor portátil de tensão arterial no pulso de Luke. O sensor apertou-lhe o pulso com força e depois ainda com mais força, libertando lentamente a pressão e emitindo ruídos arquejantes ao fazê-lo. Trudy retirou o velcro do sensor de pulso e quase como parte do mesmo movimento, tirou o termómetro da boca de Luke.

“Que tal?” Perguntou Luke.

Trudy olhou para os visores. “A tua tensão arterial está alta,” Informou. “138 de máxima e 85 de mínima. Frequência cardíaca em repouso, 97. Temperatura corporal 38°C. Não te vou mentir Luke. Isto podia estar bem melhor.”

“Tenho andado um pouco tenso ultimamente,” Disse Luke.

Trudy encolheu os ombros. “Os resultados do Don são melhores do que os teus.”

“Pois, mas ele toma estatinas.”

Luke e Don sentaram-se lado a lado num banco de madeira, munidos apenas dos boxers e t-shirts. Estavam numa unidade de armazenamento do hospital bem abaixo do nível do solo, rodeados de pesadas cortinas de vinil que resguardavam a área. O local era frio e húmido, e um arrepio percorreu a espinha de Luke. A caixa-forte de contenção violada estava dois andares abaixo do local em que se encontravam.

Algumas pessoas circulavam por ali. Havia dois tipos da SRT provenientes da delegação de Nova Iorque. Os tipos da SRT tinham montado duas mesas desdobráveis com vários portáteis e leitores de vídeo. Havia ainda o tipo do fato que era um responsável de inteligência da unidade de contraterrorismo do DPNI.

Ed Newsam, o tipo grande das armas e táticas que Luke tinha conhecido no helicóptero, correu as cortinas de vinil com dois tipos da SRT atrás dele. Cada um dos homens da SRT trazia consigo um pacote transparente selado com um material amarelo e luminoso no seu interior.

“Cuidado,” Disse Newsam em voz baixa. Apontou dois dedos para os seus olhos. “Don e Luke, atenção por favor.”

Newsam segurava uma garrafa de água em cada mão. “Eu sei que já fizeram isto antes, mas vamos fazer as coisas como se fosse a primeira vez para que não haja erros. Estes homens atrás de mim vão inspecionar os vossos fatos e depois vão ajudar-vos a vesti-los. São fatos hazmat de Nível A e são de vinil sólido. Vão sentir calor com eles vestidos e isso quer dizer que vão suar. Por isso, antes de começarmos, peço-vos que bebam estas garrafas de água. Vão agradecer-me por isto.”

“Alguém esteve lá em baixo antes de nós?” Perguntou Luke.

“Dois seguranças foram lá depois de descoberta a violação de segurança. Não há iluminação. O Swann tentou resolver o problema mas sem sucesso. Por isso, vai estar escuro lá em baixo. Os seguranças tinham lanternas mas quando descobriram a caixa-forte aberta com recipientes e cilindros espalhados por todo o lado, saíram de lá a correr.”

“Estiveram expostos?”

Newsam sorriu. “Um pouco. As minhas filhas vão usá-los como luzes de presença durante alguns dias. Não tinham fatos vestidos mas só estiveram lá por um minuto. Vocês vão estar por lá um pouco mais de tempo.”

“Vais ver o que nós virmos?”

“Vão ter câmaras de vídeo e luzes LED nos vossos capuzes. Vou ver o que vocês virem e vou gravar tudo.”

Levaram vinte minutos a vestirem-se. Luke estava frustrado. Era difícil mexer-se dentro do fato. Estava coberto de vinil da cabeça aos pés e já estava a sentir calor. A máscara estava sempre a embaciar. O tempo estava a esgotar-se. Os ladrões estavam em vantagem.

Ele e Don entraram juntos no elevador de carga. Chiava à medida que descia lentamente. Don levava o detetor Geiger. Parecia uma pequena bateria de carro com uma pega.

“Ouvem-me bem?” Perguntou Newsam. Era como se estivesse dentro da cabeça de Luke. Os capuzes tinham altifalantes e microfones incorporados.

“Sim,” Respondeu Luke.

“Perfeitamente,” Disse Don.

“Ótimo. Eu também vos ouço bem. Estamos numa frequência fechada. Só têm acesso a ela vocês, eu e o Swann na cabina de controlo de vídeo. O Swann tem acesso a um mapa digital da unidade e esses fatos estão equipados com dispositivos de monitorização. O Swann pode vê-los no mapa e vai orientar-vos do elevador até à caixa-forte. Ouves-me, Swann?”

“Sim,” Confirmou Swann.

O elevador deu um solavanco e parou.

“Quando as portas se abrirem, saiam e virem à esquerda.”

Os dois homens movimentavam-se de forma estranha rumo a uma entrada ampla, guiados pela voz de Swann. As luzes dos capacetes projetavam-se nas paredes, atirando sombras à escuridão. Luke lembrou-se do mergulho que fizera há alguns anos no local de um naufrágio.

Alguns segundos depois, o detetor Geiger começou a dar sinal. Os sinais surgiram, inicialmente de forma espaçada, como um batimento cardíaco lento.

“Temos radiação,” Informou Don.

“Pois é, não te preocupes. Não é mau de todo. Tens contigo uma máquina muito sensível.”

Os sinais começaram a acelerar e a tornar-se mais ruidosos.

A voz de Swann: “Daqui a poucos metros virem à direita, depois sigam essa entrada durante cerca de 10 metros. Vai desembocar num amplo compartimento quadrado. A caixa-forte de contenção está do outro lado do compartimento.”

Quando viraram à esquerda, o detetor Geiger começou a dar estalidos ruidosos e a um ritmo acelerado. Era uma catadupa de estalidos e era difícil distinguir uns dos outros.

“Newsam?”

“Sejam rápidos, meus senhores. Vamos tentar fazer isto em cinco minutos ou menos.”

Entraram no compartimento. O lugar estava completamente revolvido. Espalhados no chão estavam recipientes, caixas e grandes cilindros metálicos. Alguns estavam abertos. Luke apontou a sua luz na direção da caixa-forte do outro lado do compartimento. A porta maciça estava aberta.

“Estás a ver isto?” Perguntou Luke. “O Godzilla deve ter passado por aqui.”

A voz de Newsam surgiu outra vez. “Don! Don! Aponta a tua luz e câmara para o chão, 2 metros mais à frente. Aí. Avança um pouco mais. O que é isso aí no chão?”

Luke virou-se para Don e apontou a luz para o mesmo local. A poucos metros, no meio dos escombros, viram o que parecia ser um monte de trapos.

“É um corpo,” Disse Don. “Merda.”

Luke aproximou-se e apontou a luz. A pessoa era grande e envergava o que parecia ser um uniforme de segurança. Luke ajoelhou-se ao lado do corpo. Havia uma marca escura no chão, quase como uma fuga de óleo debaixo de um carro. A cabeça estava de lado, encarando-o. Acima dos olhos nada restava. A testa era uma cratera. Luke apalpou a nuca e sentiu um buraco pequeno, palpável apesar das espessas luvas que usava.

“Que temos Luke?”

“Um homem de estatura elevada, 18 a 30 anos, de ascendência árabe, persa ou mediterrânica. Há muito sangue. Tem feridas de entrada e saída consistentes com um tiro na nuca. Parece ter sido uma execução. Pode ser outro segurança ou um dos envolvidos que teve uma discussão com os amigos.”

 

“Luke,” Disse Newsam. “No teu cinto tens um pequeno scanner digital de impressões digitais. Vê se o consegues sacar e tirar uma impressão desse tipo.”

“Acho que isso não vai ser possível,” Afirmou Luke.

“Então, meu. As luvas são pesadas, mas sei onde está o scanner. Posso guiar-te.”

Luke apontou a câmara para a mão direita do homem. Cada dedo era um coto desfeito, inexistente abaixo da primeira articulação. Relanceou a outra mão. Estava igual.

“Levaram as impressões digitais com eles,” Disse.

CAPÍTULO 5

Novamente com as roupas normais, Luke e Don caminharam com rapidez pelo corredor do hospital na companhia do homem bem vestido da unidade de contraterrorismo do DPNI. Luke nem sabia o nome do tipo. Pensava nele como o tipo do fato mas estava prestes a dar-lhe ordens. Era necessário que as coisas começassem a evoluir e para que isso fosse possível precisavam da colaboração da cidade.

Luke estava a assumir a liderança, como aliás sempre fazia. Olhou para Don e Don assentiu com um aceno de cabeça. Era por isso que Don chamara Luke: para assumir o comando. Don sempre dissera que Luke nascera para jogar a quarterback.

“Quero detetores Geiger em todos os andares,” Principiou Luke. Longe da vista das pessoas. Só encontrámos radiação seis níveis abaixo mas se começa a subir, precisamos de evacuar toda a gente daqui rapidamente.”

“O hospital tem doentes ligados a máquinas,” Disse o do fato. “É difícil transportá-los.”

“Certo. Então vamos começar a organizar essa logística.”

“Ok.”

Luke prosseguiu. “Vamos precisar de uma equipa hazmat completa ali em baixo. É preciso recuperar aquele corpo, independentemente do quão contaminado está, e há que fazê-lo rapidamente. A limpeza pode esperar até recuperarmos o corpo.”

“Entendido,” Disse o do fato. “Vamos colocá-lo num caixão revestido a chumbo e levá-lo ao médico-legista num camião de contenção de radiação.”

“Podemos fazer isso sem alarido?”

“Claro.”

“É preciso identificá-lo com base no registo dentário, ADN, cicatrizes, tatuagens, correções cirúrgicas, tudo o que pudermos encontrar. Quando tivermos esses dados, há que transmiti-los à Trudy Wellington da nossa equipa. Ela tem acesso a bases de dados a que mais ninguém tem acesso.”

Luke pegou no telefone e digitou rapidamente um número. Ela atendeu ao primeiro toque.

“Onde estás, Trudy?”

“Estou com o Swann na 5ª. Avenida, nas traseiras de um dos nossos carros a caminho do centro de comando.”

“Ouve, tenho…” Olhou para o do fato. “Como te chamas?”

“Kurt. Kurt Myerson.”

“Tenho o Kurt Myerson do DPNI aqui comigo. Ele integra a unidade de contraterrorismo. Vão trazer o corpo. Preciso que estejas em contato com ele para encontrarmos registos dentários, ADN, qualquer coisa que o identifique. Quando tiveres os dados, quero saber o nome do tipo, a idade, o país de origem, associados conhecidos, tudo. Tenho que saber onde é que ele esteve e o que fez nos últimos seis meses. E preciso de tudo isto para ontem.”

“Entendido, Luke.”

“Ótimo, obrigado. Vou-te passar ao Kurt e ele dá-te o seu número direto.”

Luke passou o telefone a Kurt. Os três homens ultrapassaram várias portas duplas sem estugar o passo. Logo de seguida, Kurt entregou o telefone a Luke.

“Trudy? Ainda estás aí?”

“Onde mais poderia estar?”

Luke assentiu. “Ótimo. Só mais uma coisa. As câmaras de vigilância estão desligadas aqui no hospital, mas tem que haver câmaras na área. Quando chegares ao centro de comando, recruta alguns dos nossos e fá-los passar a pente fino tudo o que conseguirem encontrar num raio de cinco quarteirões e rebobina o vídeo, digamos que das 20:00 até à 01:00. Quero saber que veículos comerciais ou de entregas se aproximaram do hospital nesse espaço de tempo. Especial atenção para pequenas carrinhas de entregas, camiões de pão, de cachorros quentes, qualquer coisa dentro desta linha. Qualquer coisa pequena, conveniente, que possa transportar uma carga escondida. De menor importância são reboques, autocarros ou veículos de construção mas não os descurem. De menor importância são também as RVs, pickups e SUVs. Quero capturas de ecrã de matrículas e quero informação sobre quem são os donos dos veículos. Se descobrires algum que te pareça suspeito, procura mais câmaras em que o veículo surja num raio maior e descobre para onde se dirigiu.”

“Luke,” Disse Trudy, “ Vou precisar de mais pessoal para conseguir isso.”

Luke pensou rapidamente naquilo. “Ok, acorda algumas pessoas, trá-los ao quartel-general da SRT e passa-lhes os dados da matrícula. Podem localizar o proprietário a partir daí.”

“Entendido.”

Desligaram. Luke voltou ao momento presente e ocorreu-lhe algo de novo. Olhou para Kurt Myerson.

“Ok, Kurt. Eis o mais importante. Precisamos que este hospital seja encerrado. Precisamos que os funcionários que estavam de turno esta noite sejam reunidos e detidos. Sei que as pessoas vão falar, mas temos que manter isto longe da imprensa o máximo de tempo possível. Se isto se sabe, as pessoas vão entrar em pânico, vão aparecer milhares de pistas falsas e os maus da fita vão assistir ao desenrolar da investigação na televisão. Não podemos deixar que isso aconteça.”

Atravessaram outro conjunto de portas duplas e chegaram ao átrio principal do hospital. Toda a fachada principal do átrio era de vidro. Vários seguranças permaneciam próximos das portas de entrada fechadas.

Lá fora já se encontrava uma multidão. Uma massa de jornalistas empurrava as barreiras policiais no passeio. Fotógrafos espalmavam-se contra os vidros para tirarem fotos do átrio. Camiões de televisões estavam estacionados um pouco por toda a rua. Enquanto Luke observava o aparato, três jornalistas de TV filmavam peças diretamente da entrada do hospital.

“Dizia?”

CAPÍTULO 6

05:10

Dentro de uma carrinha

Eldrick estava doente.

Estava sentado no banco traseiro da carrinha, abraçado aos joelhos, a pensar naquilo em que se tinha metido. Na prisão, tinha assistido a coisas bastante impressionantes, mas nada como isto.

À sua frente, Ezatullah gritava qualquer coisa em Farsi ao telefone. Há horas que não parava de fazer chamadas. Eldrick não percebia nada. Era tudo uma algaraviada. Ezatullah tinha-se formado como engenheiro químico em Londres mas em vez de arranjar um emprego, foi para a guerra. Tinha pouco mais de 30 anos, uma grande cicatriz numa face e gostava de se gabar de ter participado na jihad em meia dúzia de países. Pretendia fazer o mesmo na América.

Continuou a gritar para o telefone antes de conseguir a ligação. Quando conseguiu finalmente falar com alguém, iniciou a primeira de uma série de discussões violentas. Passados alguns minutos acalmou-se e ouviu. Depois desligou.

A cara de Eldrick estava ruborizada devido à febre. Sentia-a a queimar-lhe o corpo. O coração batia aceleradamente. Ainda não tinha vomitado mas sentia que a qualquer momento o faria. Tinham esperado mais de duas horas no ponto de encontro no cais de South Bronx. Deveria ter sido uma coisa simples. Roubar material, conduzir a carrinha durante dez minutos, encontrarem-se com os contatos e desparecer. Mas os contatos não apareceram.

Agora estavam… algures. Eldrick não sabia. Tinha estado desmaiado durante algum tempo e agora já acordado, tudo lhe parecia um sonho vago. Circulavam na autoestrada. Momo estava ao volante por isso devia saber para onde se dirigiam. Momo era o especialista em tecnologia, magro, sem tónus muscular. Era tão jovem que a pele macia do rosto não apresentava uma única linha. Tinha o aspeto de alguém que nunca teria barba.

“Temos novas instruções,” Disse Ezatullah.

Eldrick gemeu, desejando estar morto. Não sabia que se podia estar tão doente.

“Tenho que sair desta carrinha,” Disse Eldrick.

“Cala-te, Abdul!”

Eldrick esquecera-se: agora o seu nome era Abdul Malik. Era estranho ouvir-se chamar de Abdul, ele, Eldrick, um orgulhoso homem negro, um americano orgulhoso durante grande parte da sua vida. Sentir-se tão doente como se sentia fazia-o desejar nunca ter mudado. Ter-se convertido na prisão fora a coisa mais estúpida que já fizera na vida.

Aquela merda estava toda lá atrás. Havia muita coisa em recipientes e caixas. Algum material vazara e estava a matá-los. Já tinha morto Bibi. O palerma tinha aberto um dos recipientes quando ainda estavam na caixa-forte. Era muito forte e arrancou a tampa. Porque o fizera? Eldrick conseguia vê-lo a segurar no recipiente. “Aqui não há nada,” Dissera. Depois segurou-o junto ao nariz.

No espaço de um minuto começou a tossir. E foi-se simplesmente abaixo dos joelhos. Depois não parava de tossir. “Tenho alguma coisa nos pulmões,” Dizia. “Não o consigo expelir.” Começou a faltar-lhe o ar. O som era terrível.

Ezatullah aproximou-se e deu-lhe um tiro na nuca.

“Acredita que lhe fiz um favor,” Declarou.

Agora a carrinha atravessava um túnel longo, estreito e escuro com luzes cor de laranja a dardejar no seu interior. As luzes aturdiam Eldrick.

“Tenho que sair desta carrinha!” Gritou. “Tenho que sair desta carrinha! Tenho que…”

Ezatullah virou-se com a arma em riste apontada à cabeça de Eldrick.

“Calado! Estou ao telefone.”

O rosto deformado de Ezatullah estava corado. Suava.

“Vais-me matar como mataste o Bibi?”

“O Ibrahim era meu amigo,” Disse Ezatullah. “Matei-o por misericórdia. A ti mato-te só para te calares.” Pressionou o cano da arma contra a testa de Eldrick.

“Mata-me. Não me importo.” E Eldrick fechou os olhos.

Quando os abriu, Ezatullah já se tinha virado para a frente. Ainda estavam no túnel repleto de luzes. Eldrick foi acometido por uma náusea súbita e um espasmo abrupto atravessou-lhe o corpo. O estômago apertou-se e um sabor ácido veio-lhe à boca. Curvou-se e vomitou no chão entre os sapatos.

Pairava no ar um odor nauseabundo.

Meu Deus, pediu silenciosamente. Deixa-me morrer, por favor.

CAPÍTULO 7

05:33

East Harlem, Borough de Manhattan

Luke susteve a respiração. Não era fã de ruídos intensos e aproximava-se um ruído bem intenso.

Estava completamente imóvel sob a luz sombria de um edifício devoluto no Harlem. Segurava na arma com as costas encostadas à parede. Atrás dele, Ed Newsam estava na mesma posição. À frente de ambos no átrio estreito, dispunham-se meia dúzia de membros da equipa SWAT devidamente equipados em cada um dos lados da porta de um apartamento.

Não se ouvia uma mosca no edifício. Partículas de poeira pairavam no ar. Alguns momentos antes, um pequeno robô tinha introduzido uma mini-câmara debaixo da porta à procura de explosivos do outro lado. Negativo. O robô já não era necessário.

Dois tipos da SWAT avançaram com um pesado aríete. Era do tipo de balanço com um polícia a segurar uma pega em cada lado. Não emitiram um som. O chefe da equipa SWAT levantou o punho. Surgiu o dedo indicador.

E era um.

Dedo médio. Dois.

Anelar…

Os dois homens recuaram e balançaram o aríete. BAM!

A porta explodiu para dentro enquanto os agentes se agachavam. Quatro esgueiraram-se lá para dentro, gritando subitamente, “Baixem-se! Baixem-se! BAIXEM-SE!”

Algures no átrio, ouviu-se um choro de criança. Portas abriram-se, cabeças espreitaram e depois recolheram-se. Não era novidade nenhuma por ali. Às vezes os polícias apareciam e partiam a porta de um vizinho.

Luke e Ed esperam cerca de trinta segundos até a equipa SWAT dar o apartamento como seguro. O corpo estava no chão da sala, tal como Luke suspeitava que estaria. Mal olhou para ele.

“Tudo ok?” Perguntou ao chefe da SWAT. O tipo encarou Luke por um momento apenas. Tinha ocorrido uma breve discussão quando Luke requisitara esta equipa. Estes tipos eram do DPNI. Não eram peças de xadrez que os agentes federais pudessem dispor a seu bel-prazer. E queriam que Luke o soubesse. Luke não tinha qualquer problema com isso mas um ataque terrorista não era propriamente o capricho de um homem.

“Tudo ok,” Declarou o chefe da equipa. “Este deve ser o teu suspeito.”

“Obrigado,” Agradeceu Luke.

O tipo encolheu os ombros e desviou o olhar.

Ed ajoelhou-se junto ao cadáver. Trazia consigo um scanner de impressões digitais. Retirou impressões de três dedos.

“Que te parece, Ed?”

Encolheu os ombros. “Carreguei previamente as impressões de Ken Bryant a partir da base de dados da polícia. Vamos saber se é ele dentro de alguns segundos. Entretanto, podemos ver óbvias marcas de estrangulamento e inchaço. O corpo ainda está quente. O rigor mortis já se instalou mas ainda não completamente. Os dedos estão a ficar azuis. Diria que morreu da mesma forma que os seguranças do hospital, por estrangulamento há aproximadamente oito a doze horas.”

 

Olhou para Luke. Um brilho reluzia-lhe nos olhos. “Se não te importares de lhe tirar as calças, posso obter uma leitura da temperatura retal e determinar de forma mais aproximada a hora da morte.”

Luke sorriu e abanou a cabeça. “Não, obrigado. Oito a doze horas está ótimo. Mas diz-me: é ele?”

Ed olhou para o scanner. “O Bryant? Sim, é ele.”

Luke pegou no telefone e ligou para Trudy. Do outro lado, o telefone tocava. Uma, duas, três vezes. Luke olhou em redor observando a desolação sombria do apartamento. A mobília da sala era antiga com estofos rasgados e com o enchimento a saltar dos braços do sofá. Um tapete puído estava aberto no chão e caixas de comida rápida e utensílios de plástico encontravam-se espalhados pela mesa. Pesadas cortinas pretas estavam penduradas nas janelas.

Trudy atendeu com voz alerta, quase musical. “Luke,” Disse. “Quanto tempo passou? Meia hora?”

“Queria-te falar do porteiro desaparecido.”

“Ken Bryant,” Disse Trudy.

“Pois. Ele já não está desaparecido. O Newsam e eu estamos no apartamento dele neste momento e já o identificámos. Morreu há cerca de 8, 12 horas. Estrangulado como os seguranças.”

“Ok,” Afirmou.

“Quero que acedas às contas bancárias dele. Possivelmente tinha um depósito direto do trabalho. Começa por aí e vê o que consegues depois.”

“Hmm, vou precisar de um mandato para isso.”

Luke compreendia a sua hesitação. Trudy era uma boa profissional mas também era jovem e ambiciosa. Quebrar as regras tinha afastado muitos de uma carreira promissora. Mas nem sempre. Às vezes quebrar as regras conduzia a promoções relâmpago. Tudo dependia de quais as regras que se quebravam e os resultados que daí advinham.

“Tens aí o Swann contigo?” Perguntou Luke.

“Sim.”

“Então não precisas de um mandato.”

Ela não respondeu.

“Trudy?”

“Estou aqui.”

“Não temos tempo para pedir um mandato. Há vidas em jogo.”

“O Bryant é um suspeito neste caso?”

“É alguém que pode estar envolvido. De qualquer das formas, está morto. Penso que não estamos a violar os seus direitos.”

“Posso depreender que é uma ordem tua, Luke?”

“É uma ordem direta,” Confirmou. “Isto é da minha responsabilidade. Se quiseres colocar as coisas num outro nível, digo-te que o teu emprego depende disto. Ou fazes o que te peço ou dou início a um processo disciplinar. Compreendido?”

A resposta dela foi petulante, quase infantil. “Está bem.”

“Muito bem. Quando acederes à conta dele, procura qualquer coisa fora do normal. Dinheiro que não devia estar ali. Grandes depósitos ou grandes levantamentos. Transferências bancárias. Se tem uma conta poupança ou investimentos ligados, analisa-os. Estamos a falar de um ex-condenado com um emprego sob custódia. Não deveria ter muito dinheiro. Se tiver, quero saber de onde veio.”

“Ok, Luke.”

Hesitou antes de perguntar. “Como vai isso das matrículas?

“Estamos a trabalhar o mais rápido que podemos,” Disse Trudy. “Acedemos a filmagens noturnas das câmaras da 5ª. Avenida e da 96th Street, bem como da 5ª. Avenida e da 94th Street, e mais algumas da vizinhança. Estamos a monitorizar 198 veículos, 46 dos quais prioritários. Devo ter um relatório inicial do quartel-general dentro de quinze minutos.”

Luke olhou para o relógio. O tempo escasseava. “Ok. Bom trabalho. Vamos para aí logo que possível.”

“Luke?”

“Sim.”

“A história já corre na imprensa. Têm três feeds em direto no placard principal. É a história do dia em todo o lado.”

“Bem me parecia.”

Ela continuou. “O Presidente da Câmara agendou um comunicado para as 06:00. Parece que vai aconselhar toda a gente a ficar em casa hoje.”

“Toda a gente?”

“Quer que todo o pessoal não vital permaneça em Manhattan. Todos os funcionários de escritório, todos os funcionários de limpeza e lojistas. Todas as crianças e professores. Vai sugerir que cinco milhões de pessoas tirem um dia de folga.”

Luke encostou a mão à boca. Suspirou. “Isso vai ser ótimo para o moral,” Declarou. “Se toda a gente em Nova Iorque ficar em casa, os terroristas talvez ataquem Filadélfia.”