Como Beijar Uma Debutante

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CAPÍTULO TRÊS


Aletha não esperava um encontro com um homem enigmático durante a viagem para Londres, mas, ainda assim, seria eternamente grata pelo acontecido. Ele era maravilhoso com aqueles cachos escuros meio compridos demais. O cabelo roçava um pouco além do colarinho e tinha uma textura interessante. Queria erguer a mão e tocar o cabelo dele para ver se era tão sedoso quanto parecia, mas firmou as mãos recatadamente no colo. A última coisa que queria era assustá-lo. Não se lembrava de alguma já ter ficado tão encantada por um homem. Esse tinha olhos impressionantes que pareciam mais prateados do que acinzentados. Rafe… ela até mesmo gostava do nome. O sotaque dele fazia os dedos dos seus pés se curvarem. Resumindo, ele era uma tentação.

– O que lhe trouxe à Inglaterra? – perguntou ele. Os olhos pareciam brilhar na luz da manhã. Aletha disfarçou um suspiro. Não precisava ficar sonhando acordada com ele. Aquilo poderia afastá-lo completamente.

– Obrigações familiares – respondeu ela. Aletha não queria falar sobre o casamento com ele. Aquela hora era dela, e pretendia aproveitá-la. Além do mais, só conhecia William Collins de passagem. A irmã dele foi quem meio que entrou para a família por meio do casamento. Mas o fato não impediu seus pais de aproveitarem a oportunidade de ir ao casamento e mandar que ela fosse também. Eles esperavam que ela conhecesse um lorde alguém e que o enredasse. Haveria muitos no evento.

– Ah – disse Rafe, o tom sugerindo que ele tinha entendido. – Elas podem ser um pouco entediantes. Embora, às vezes, também podem ser divertidas. Há algo do tipo me arrastando para Londres.

Ela ergueu os lábios.

– Espero que a sua esteja puxando mais para o lado divertido.

– Tenho certeza de que sim. – Os lábios de se ergueram nas comissuras. – Isso se o passado for indicativo de alguma coisa.

Aletha pensou em perguntar sobre as outras ocasiões, mas se segurou. O passado não importava. O que importava era o aqui e o agora. Aquela hora. O primeiro encontro entre os dois e para onde aquilo iria. Poderia convidá-lo para o casamento. Ninguém se importaria. Talvez seus pais… eles queriam alguém de posição mais elevada para ela. Ninguém nunca perguntou o que ela queria. Se tivessem perguntado, o avô teria permitido que ela tomasse parte na Carter Candy Company vários anos atrás. Até mesmo agora, ele não tinha concordado. Aquele era um teste e mesmo se ela passasse, ele podia muito bem ignorar a sua potencialidade como futura funcionária só porque ela nasceu mulher.

Aletha não queria contar nada daquilo para Rafe. Gostou dele, mas não o conhecia. Porém, aquilo lhe daria algo sobre o que falar além do casamento. Se ele fosse como a maior parte dos homens que conhecia, ele não teria a mínima vontade de sossegar e arranjar uma esposa. Bastava a palavra casamento ser mencionada para o seu irmão inventar uma desculpa para se esquivar da conversa e praticamente fugir da sala.

– Isso é bom. Só pelo tom da sua voz, dá para perceber que é muito melhor do que inspecionar edifícios em potencial para negócios de especulação. – Apesar de Aletha ter gostado bastante de visitar o último deles. Tinha sido emocionante, e gostou do desafio. Esperava que o avô fosse ser sensato…

– Oh? – Ele ergueu uma sobrancelha. – Que tipo de propriedade a senhorita está procurando? Jamais tive a oportunidade de conversar com uma mulher de negócios. Os americanos são tão progressistas.

Não tão progressistas quanto desejava…

– Uma grande o bastante para expandir nossas operações para a Inglaterra. Irei saber quando a encontrar. Tenho mais algumas para visitar antes de voltar para casa. – De alguma forma, encontraria tempo entre as festividades do casamento.

– Que maravilhoso – disse ele. O tom sugeria que ele tinha sido sincero. Aquilo era um sopro de ar fresco. – Suponho que a senhorita as olhou antes de partirmos. É por isso que estava lá?

Ela sacudiu a cabeça.

– Bem – começou. – Parcialmente. Nosso navio aportou lá em vez de em Londres. Minha mãe odeia o porto de Londres. Fiquei para trás ontem e vi a propriedade e eles foram na frente para… – Aletha quase mencionou o casamento, mas se segurou. – Ela não queria esperar. Londres a chamava e acredito que ela tenha mencionado algo sobre compras. – Não foi uma mentira, não tudo. A mãe tinha tagarelado sobre visitar algumas de suas lojas favoritas. Aletha mal conseguiu segurar uma ou duas reviradas de olho. – Ela tem outras prioridades.

– Entendo…

– Tenho certeza de que sim. – Muitos homens acreditavam que tudo o que as mulheres queriam fazer era gastar o dinheiro deles com frivolidades. A mãe de Aletha se encaixava bem no estereótipo como se ele fosse uma gaveta forrada de seda. – E o que o senhor faz com o seu tempo? – Ela ergueu uma sobrancelha. – É um homem de negócios?

– De certa forma – respondeu ele, enigmático. – Minha família tem vários negócios dos quais eu cuido.

Se ele fosse um lorde inglês, ela presumiria que ele estivesse falando das obrigações com o título, mas o sotaque dele sugeria algo diferente.

– Desculpe a pergunta, mas de onde o senhor é?

– Por que a senhorita acha que eu não passo meus dias na Inglaterra? – Ele sorriu.

Ela abriu a boca para responder, mas se segurou. Como poderia declarar o óbvio sem soar grosseira?

– Perdoe-me – começou. – É só porque não consigo identificar o seu sotaque e tirei conclusões precipitadas. Suponho que o senhor poderia chamar a Inglaterra de lar.

– Não tema, minha querida – disse ele, carinhosamente. – A senhorita estava correta da primeira vez. Eu não vivo aqui, mas a família da minha mãe, sim. Então isso me faz vir à Inglaterra com bastante frequência. Minha tia também se casou com um duque, então nossos laços com a Inglaterra são bem fortes. – Ele parou por um momento. – Mas, infelizmente, você está certa. Aqui não é o meu lar. Fico muito mais confortável em minha propriedade na Itália.

Italiano… que interessante. Aletha tinha mais perguntas, mas já tinha sido intrometida o bastante. Se ele lhe oferecesse mais detalhes, ela iria absorvê-los. Não sabia mais o que dizer. Uma propriedade implicava dinheiro, então se algo mais acontecesse entre eles, sua família não se intrometeria. Ela suspirou. Estava inventando um futuro depois de uma conversa em um trem. O que havia de errado com ela? Precisava tirar a cabeça das nuvens e firmar os pés na realidade.



– Isso parece horrível – disse Rafe. – Eu disse algo errado?

Estava gostando muito de ter Aletha como companhia e desejou que a viagem fosse mais longa. Chegariam a Londres em breve e então tudo chegaria ao fim. Queria encontrar outra razão para vê-la, mas não conseguia pensar em uma boa desculpa. Devido à forma como se apresentaram um ao outro, ele sequer conseguiu saber o sobrenome dela. Não iria poder procurar por ela e sequer encontrá-la acidentalmente de propósito. Rafe nunca conheceu uma mulher que o tenha deixado tão intrigado. A mulher era uma mistura de recato e falta de decoro. Ela sabia como deveria agir e, ainda assim, virava o nariz para tudo quando bem entendia. Adorou aquele lado dela. Rafe queria ver o quanto ela poderia se afastar das suas predisposições naturais se ele a pressionasse para tal.

– Não é nada – respondeu ela depois de um momento. Esqueceu o que tinha perguntado por estar perdido em pensamentos.

– O que é nada? – Ele inclinou a cabeça para o lado.

– No que eu estava pensando que me levou a suspirar. – Ela deu de ombros. – Eu só estava me lembrando de algo que eu precisava me lembrar. – Aletha olhou pela janela. – Todos temos um lugar no mundo. Só estava me lembrando do meu.

Não gostou do tom de voz dela. Tinha ficado melancólica de repente e ele queria afastá-la daquele sentimento. Aletha era tão bonita quando tinha vida no olhar. Essa menina triste na frente dele era etérea, e ainda assim, linda, mas ela era ainda mais deslumbrante quando tinha um brilho travesso nos olhos.

– A senhorita está certa, é claro – concordou. – Mas, às vezes, esse lugar não se encaixa tão bem para nós quanto gostaríamos. Não acha que, em vez de cedermos às expectativas da sociedade, não deveríamos tentar desbravar o nosso próprio caminho?

– Mais fácil dizer do que fazer – respondeu ela. Aletha mordeu o lábio inferior. – Sendo homem, essa escolha está muito mais ao seu alcance do que ao meu.

– Agora não é mais fácil para as mulheres? O movimento das sufragistas não mudou as coisas para vocês? – Ele não acompanhava aquele acontecimento porque não era algo que o impactava. – Lembro de ter lido algo sobre o seu país ter feito algum tipo de reforma dando direitos às mulheres.

Aletha fez que sim.

– Você não está errado. A décima-nona emenda dá às mulheres o direito de votar e tudo mais. Foi uma vitória conseguida a duras penas, mas ainda assim não resolveu todos os nossos problemas. O mundo ainda é, basicamente, dos homens e só nos permitem viver nele. Ainda há uma longa estrada a percorrer para que possamos ter posições remotamente equivalentes.

– E é isso o que deseja? Ser vista como uma igual? – As irmãs nunca expressaram interesse nessas coisas, mas elas ainda eram, sob muitos aspectos, jovens e tolas. Ou talvez fosse assim que as via… Teria que perguntar a elas se queriam a mesma coisa. Não gostava de pensar que as irmãs se sentiam inferiores sob quaisquer aspectos.

– Sim, acredito que sim, ou ao menos ter a oportunidade de mostrar que sou capaz de fazer outra coisa que não parecer bonita e gastar minha mesada com frivolidades.

Ele franziu o cenho.

– O que é que você mais quer? Parece algo bem específico. – Talvez estivesse vendo coisa onde não existia. Poderia só ser uma generalização. Ela respirou fundo.

 

– Não desejo divulgar todos os meus segredos em um único encontro. Basta dizer que a minha família é bastante antiquada e o meu avô mais que todos os outros. Ele não acredita que uma mulher possa fazer qualquer outra coisa que não seja parecer bonita e acatar as ordens dos homens.

– Acho que posso entender por que isso a aborrece. – Ele odiaria se alguém chegasse ao ponto de achar que tinha o direito de decidir o que ele queria ou até mesmo do que precisava. Rafe nunca parou para tentar entender qualquer coisa sob o ponto de vista de uma mulher. Essa conversa com Aletha estava sendo muito esclarecedora.

– É bom ter uma conversa com alguém do sexo masculino que não julga a mulher como alguém inferior sob quaisquer aspectos. Eu gostei bastante. – O canto do lábio dela se contorceu ironicamente. – É uma pena que talvez nunca mais nos veremos depois que desembarcarmos em Londres.

Como se aproveitando a deixa, um apito alto estrilou ao redor, anunciando a chegada na estação de destino. Precisava concordar com ela. Não era assim que ele queria que as coisas terminassem. Precisava de mais tempo com Aletha. O problema era que não tinha ideia de como conseguir o que desejava.

– Nós poderíamos… – a voz dele esvaneceu. Como pediria para que ela se encontrasse com ele novamente? Será que ela iria querer? Rafe estava nervoso pela primeira vez na vida. Não tinha ideia de como conseguir o que queria mais pelo medo de que fosse espantá-la. Estava sendo um tolo sentimental e tinha que sair dessa situação o mais rápido possível.

– Vermo-nos novamente? – Ela sorriu. – Eu adoraria.

O trem parou e os impulsionou um pouco para frente. Ele precisou segurar nos braços do assento para que não cometesse a idiotice de cair. Esse foi o primeiro trem que pegou e que parou tão abruptamente.

– A senhorita está bem? – perguntou.

– Estou – respondeu ela. – Acho que esse é o sinal para nos prepararmos para o desembarque. – Ela ficou de pé e começou a recolher os seus pertences. – Espero mesmo que possamos nos encontrar novamente. – Com aquelas palavras, ela saiu apressada. Estava atordoado demais para reagir na hora e, quando finalmente o fez, ela já tinha desaparecido em meio à multidão de passageiros desembarcando. Maldição… iria encontrá-la novamente. Rafe adorava um desafio e ela tinha proposto o desafio mais importante da sua vida.

CAPÍTULO QUATRO


Tinha um motorista esperando por Rafe assim que ele saiu da estação. Pelo menos teve o mínimo de bom senso de enviar um telegrama avisando de sua chegada. O motorista dos Marsden, Alfred, estava ao lado do carro com as mãos atrás das costas enquanto Rafe se aproximava.

– Boa tarde, conte Leone – cumprimentou-o Alfred. – Espero que tenha feito uma boa viagem.

– Fiz sim – disse Rafe, e sorriu. Bem melhor do que esperava, mas não diria aquilo a Alfred. – Obrigado por vir me pegar. A casa Marsden está muito cheia?

– Há… muitos convidados na residência. Alguns optaram por ficar com o marquês e a marquesa de Severn. Eles têm muito mais quartos.

Rafe pensou nas opções que tinha. Os gêmeos, Alex e Drew deviam ter aposentos de solteiro. Seria mais divertido ficar com eles… uma pena não ser uma opção. Os pais de Rafe deviam estar na casa Marsden com suas irmãs. Deviam estar esperando que ele chegasse em breve. Suspirou e entrou no carro.

– Meus pais já chegaram? – perguntou para Alfred depois de o motorista se acomodar no assento.

– Chegaram – respondeu ele. – Uns dois dias atrás. – Ele apontou para o carro com a cabeça. – Eu já cuidei da sua bagagem.

– Ótimo – respondeu Rafe. Alfred era um bom criado.

Rafe pensou em tudo o que tinha feito enquanto estava fora e o que ainda havia por fazer. O pai teria muitas perguntas sobre a propriedade. Poderia muito bem lidar logo com isso. Então poderia fazer algumas perguntas sobre a senhorita Aletha. Havia pouca probabilidade de Alex e Drew saberem quem ela era e como ele poderia localizá-la. Eles tendiam a ter informações sobre toda mulher casadoura da vizinhança.

Embora quisesse se apressar e ir logo em busca de Aletha, tinha muitas obrigações familiares a atender. Também teria que ir ver William. Era o casamento dele, afinal de contas. E William era um bom amigo de Rafe. Iria ver o pai e depois visitaria William. Só depois disso é que faria o que realmente queria. Aletha.

Alfred arrancou com o carro e foi em direção a Marsden House. Não demorou muito para chegar. Logo Alfred estava estacionando na frente da casa. Então, ele saiu do assento do motorista e foi abrir a porta de Rafe. Rafe saiu do veículo e entrou na casa. Alfred o seguiu com a bagagem.

– A família tomará chá no salão principal daqui a uma hora, caso o senhor queira se juntar a eles – Alfred informou. – Acredito que alguns dos cavalheiros estejam na sala de jogos agora, caso queira vê-los. Se não, o senhor pode descansar no quarto. A Sra. Smithy já tomou todas as providências e o seu quarto está pronto.

– Obrigado, Alfred – disse. – Pode providenciar para que as minhas malas sejam levadas para lá? Por agora, estarei na sala de jogos.

– Muito bem – respondeu Alfred, e logo fez uma mesura. O motorista deu meia-volta e subiu as escadas com a bagagem de Rafe.

Rafe seguiu para a sala de jogos. Não sabia quem encontraria lá, mas chegou à conclusão de que aquilo não era importante. A companhia seria bem-vinda de qualquer forma. Precisava de alguma coisa para ajudar a tirar Aletha da cabeça. Ao menos até poder separar um tempo para encontrá-la. Entrou na sala de jogos e encontrou William e os gêmeos apoiados na mesa de bilhar.

– Interrompo algo? – perguntou.

William olhou para ele e sorriu.

– Já era hora de você aparecer. Por que demorou tanto? O resto da sua família está aqui há dias. Estava começando a pensar que o meu padrinho não apareceria.

– Certo – disse Drew, em um tom arrastado. – Você está com medo de o casamento ser contagioso?

– Tudo bem se estiver – disse Alex, e deu de ombros. – Pode muito bem ser. Will tem sorte por eu amar o idiota, se não vocês não veriam nem rastro de mim. Parece que todo mundo está indo para o altar esses dias.

Rafe riu baixinho.

– Tenho certeza de que não é contagioso. – Embora fosse acabar dispersando-os caso desse sua opinião sobre o assunto. Eles podiam começar a acreditar naquele disparate. Rafe queria sossegar. Só não tinha achado a mulher que considerava ser boa o suficiente para passar o resto da vida ao lado dela. Embora estivesse começando a acreditar que Aletha talvez fosse quem estava procurando. – Mesmo se fosse verdade, acredito piamente em que vocês dois seriam imunes. Não acredito que exista uma mulher viva que possa convencê-los a cair nessa armadilha em particular.

– É verdade – Drew concordou e olhou para o gêmeo. Eles tinham cachos louros do mesmo tom e, como Sophia, a irmã de Rafe, tinha dito mais vezes do que ele queria ouvir, olhos azuis oníricos. – Rafe não nos conduziria pelo mau caminho. Acho que podemos ir ao casamento do Will e sair de lá sem um noivado a reboque.

– Fico feliz por poder aliviá-los de sua preocupação – disse Rafe, sacudindo a cabeça. Apontou para a mesa de bilhar com a cabeça. – Vocês vão jogar?

– Estamos pensando – respondeu William. – Mas não tínhamos um número ideal de jogadores. Poderemos jogar em times com você aqui.

Rafe pensou no assunto.

– Certo, mas precisamos esmagar os gêmeos maravilha. Eu juro que eles falam um com o outro sem dizer uma única palavra.

– É um dom – respondeu Alex, suavemente. – Vocês só estão com inveja das nossas habilidades malignas.

– Malignas, sem dúvida – concordou Rafe. – Já sobre a inveja… não é para tanto. Somente precaução com a predisposição de vocês para a trapaça.

– Assim você me magoa – disse Drew e se virou para o irmão. – A você não? – Ele ergueu uma sobrancelha. – Eu jamais trapacearia, e você também não, Alex.

– Nem se deem ao trabalho de jogar essa para cima de nós – disse William, revirando os olhos. – Nós os conhecemos desde que vocês eram bebês chorões e não engolimos uma única palavra desse seu disparate.

Rafe sentia saudade deles. Eles se divertiram muito crescendo juntos. Os pais eram amigos próximos de todos eles e eles se certificavam de passar uma temporada na Inglaterra sempre que podiam. Não era só porque a mãe de Rafe tinha parentes no país. Os Marsden eram mais família do que aqueles com quem tinham laços de sangue. Quando visitavam a Inglaterra, ficavam com um dos Marsden ou na propriedade Huntly, já que sua tia Rubina tinha se casado com um duque. Rafe se sentia tão confortável nos Marsden quanto na casa onde tinha crescido na Itália.

– William não está errado – disse Rafe. – Então, vamos jogar ou não?

– Nós vamos – respondeu Alex. – Jogarei com você, e Drew pode formar a dupla com William.

– Tudo bem para mim – disse William. Ele foi até o suporte e pegou um taco. – Drew, arrume a mesa.

– Você pode ir primeiro – disse Alex para William. – Já que estamos todos aqui para celebrar as suas iminentes núpcias.

William riu.

– Nós sempre nos reunimos nessa época do ano. É quase Natal.

– Verdade – concordou Alex. – Estou até tentado a ser generoso e tudo o mais. – Ele apontou para as bolas que Drew tinha arrumado. – Você quer, por favor, dar a sua tacada?

– Já que insiste – disse William. Ele sorriu e então se reclinou para dar a tacada. As bolas voaram pela mesa.

Cada um teve a sua vez, jogando as bolas por cada canto da mesa. O placar foi próximo. William estava certo sobre os gêmeos. Jogar contra eles era derrota certa, principalmente nas cartas. No bilhar as coisas ficavam mais justas, mas separá-los ainda tinha lá seus benefícios. Como resultado, a pontuação terminou muito próxima.

– Ora, que amolação – disse Alex. – Não houve um vencedor óbvio. Como vamos poder cantar os louros da vitória se ninguém ganha?

– Não precisaremos nos dar ao trabalho – disse Rafe. – Foi tudo pela diversão.

Amava todos eles, mas a competitividade dos gêmeos podia sair do controle, às vezes. Rafe pensou em Aletha. Imaginou se ela acharia os gêmeos charmosos assim como a maioria das mulheres achava. Gostava de pensar que ela não olharia para eles duas vezes, mas por se tratar de uma mulher, ele duvidava disso. Às vezes estar com os gêmeos Marsden era uma experiência desconcertante.

– Talvez possamos fazer algo para nos distrair – disse William. – Embora eu deva impor algumas regras. Eu vou me casar. – Ele olhou sério para os gêmeos. – Nada de mulheres de moral duvidosa.

– E o que você acha de mulheres com pouca… integridade? – disse Drew e deu uma piscadinha. – Prometo que elas terão o mais alto nível de moral.

Rafe revirou os olhos e segurou a gargalhada.

– Tenho certeza de que William não deseja fazer nenhuma distinção entre o caráter das mulheres. Ele quis dizer que não está interessado em nenhuma outra mulher que não seja a noiva dele.

– Oh… – Drew franziu o cenho e olhou para William. – Você tem certeza absoluta? Não é tarde demais para mudar de ideia.

William olhou para o alto e Rafe jurava que ele estava pedindo por paciência. Então, ele olhou nos olhos de Drew.

– Eu posso dizer com a mais absoluta convicção que eu amo Victoria e que me casar com ela é o meu maior desejo.

– Maldição – disse Drew. – Então eu acho que nós vamos beber. Se não podemos ter mulheres, então ao menos isso. – Ele foi até o bar e então olhou para Alex. – Presumo que você também vai querer um?

– É claro – disse Alex, meio distraído. – É sempre bom tomar uma bebida.

Drew serviu quatro cálices de brandy e os distribuiu para todo mundo. Rafe não queria muito, mas pensou que não seria prudente recusar. Limitou-se a bebericá-lo lentamente e esperava que Drew não notasse que ele não estava ficando bêbado.

– O que vocês andaram aprontando desde a última vez que estive na Inglaterra? – Rafe perguntou para os gêmeos. – Estou surpreso por ainda não terem se enfiado em uma confusão da qual não puderam se livrar.

– Os problemas nos amam – disse Alex, e deu uma piscadinha. – É parte do nosso charme.

– O charme de vocês com certeza é o problema – concordou William. – Mas duvido de que ele vá segurar as pontas para sempre. Vocês dois alguma vez pensaram…

– Por favor, não termine essa frase, William – disse Drew, seco. – Eu odiaria matá-lo antes do casamento. Victoria não me veria com bons olhos caso fizesse isso.

 

Drew não estava errado… Victoria era do tipo que não suportava bobagens. Ela foi enfermeira durante a guerra e não tinha muito senso de humor.

– Eu não iria querer aborrecê-la – disse Rafe. – Mas William só está cuidando de vocês. É claro que, em algum momento, vocês terão que se assentar.

– Talvez Alex tenha – cedeu Drew. – Ele é o herdeiro, afinal de contas. Eu posso ficar desembaraçado pelo resto dos meus dias e tenho a total pretensão de ficar solteiro para sempre.

Rafe duvidava de que ele fosse ser capaz de ficar sozinho. Ele não seria capaz de lidar com a solidão. Drew e Alex faziam muita coisa juntos e se Alex se casasse isso deixaria Drew por conta própria a maior parte do tempo. Ele enlouqueceria aos poucos. O amigo teria que encontrar alguém e sossegar. De outra forma, Rafe temia que ele fosse acabar engolido pelo vazio.

– Eu conheci alguém – irrompeu.

– O quê? – Alex se reclinou para frente. – Por favor, diga que eu ouvi errado.

O sorriso de William se alargou.

– Acontece com os melhores de nós. – Ele ergueu o cálice em um brinde. – Espero que ela seja tão maravilhosa quanto a minha Victoria.

Rafe não podia acreditar que tinha contado para eles. O que diriam quando ele sequer pudesse dizer o sobrenome dela? Começariam a pensar que ele tinha perdido a cabeça, e podia muito bem ter perdido.

Drew balançou a cabeça lentamente.

– Malditos casamentos. Eles são contagiosos. Rafe, você mentiu para nós.

Ele franziu o cenho.

– Eu não menti. O casamento de William não tem nada a ver conosco.

– É claro que tem – disse Drew, desgostoso. – Isso nos fazer pensar que nos atar a uma mulher pelo resto de nossas vidas não seja tão ruim assim. Mas você está errado. Esse é um destino que não quero para mim. Então, se me derem licença, vou me esconder no meu quarto até o casamento acabar. Não quero pegar essa doença em particular.

Com aquelas palavras, Drew colocou o brandy sobre a mesa e saiu da sala.

– Ele está estranho já faz alguns dias – disse Alex. – Não deem ouvidos a ele. Drew estará no casamento.

– Eu sei – disse William. – Drew não deixaria que uma coisinha besta como o casamento ser contagioso o impeça de fazer qualquer coisa. Não estou preocupado.

Rafe fechou os olhos e respirou fundo. Falaria com Drew mais tarde. Por agora, estava cansado e precisando de descanso. Bebeu o resto do brandy e colocou o copo ao lado do de Drew.

– Eu vou me retirar também. Vejo vocês no jantar. – Ele saiu da sala sem dizer outra palavra.

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