Novos Começos Encantados

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Meus ombros levantaram e caíram. — Eu estava convencida há alguns minutos de que a casa era assombrada e por um segundo pensei que talvez um fantasma tinha me atacado, mas isso não faz sentido.

Aislinn riu e se levantou. — Não é assim que os fantasmas funcionam. Eles não são capazes de produzir energia assim e eles não são condutores também. Eles mal têm vitalidade suficiente para se manifestarem na maioria das vezes.

Eu aceitei a mão dela e grunhi quando finalmente consegui ficar de pé também. Ela fez o ato de se erguer do chão parecer muito mais fácil do que realmente era. — O que você quer dizer com eles não têm poder suficiente? Fantasmas realmente existem? — Lembrei-me de todas as histórias que minha avó me contou, mas nenhuma delas girava em torno de espíritos.

Aislinn me observou de perto por vários segundos. O silêncio somado a maneira como ela estava olhando para mim era altamente desconfortável. — Fantasmas existem e eu venho pensando há semanas que sua avó deve estar andando por aqui de alguma forma. É a única explicação para isso. Você não mostrou poder até agora e algo tem que ser responsável por sustentar as proteções no lugar.

Um milhão de pensamentos e perguntas se embolaram na minha mente de uma vez só. O que ela quis dizer com a vovó ainda estava por perto? E, que poder? Eu não conseguia decidir qual pergunta fazer primeiro, então eu fui para a cozinha e peguei o pote de chá do armário. Depois de encher a chaleira com água, a coloquei para ferver.

Respirei fundo, virei-me e vi que Aislinn tinha me seguido e estava sentada na ilha como eu costumava fazer quando criança. — Certo, Você vai ter que me explicar isso lentamente. Sei que algo está acontecendo aqui, mas fantasmas não existem. Certo? Mas o que quer que seja, eu quero entender.

Aislinn sorriu e balançou a cabeça. — Eu provavelmente não sou a melhor pessoa para explicar tudo isso, mas darei o meu melhor. Violet está na livraria ou eu ligaria para ela para me ajudar. Você sabe que a magia existe, certo? E, que você possui magia.

— Não… não existe. — A parte científica de mim falou. Eu queria rir da cara dela e fingir que aquilo não passou de uma brincadeira antes de pedir à senhora louca para sair. Mas eu me forcei a realmente considerar suas palavras. — Desde que me mudei para cá, não tenho tanta certeza de que estou certa quanto a isso. Coisas que eu não consigo explicar continuam acontecendo.

Ela tinha que estar errada. Eu não passo de uma viúva comum de meia-idade. Me lembrei de algo de quando eu era criança. A menos que minha memória estivesse pregando peças em mim minha avó costumava acender velas com um estalar de dedos. E então houve a vez que ela fez a lagoa ficar da cor turquesa. Por muito tempo acreditei que ela era uma bruxa. Então comecei o ensino médio, fui para a faculdade e percebi que ela tinha usado algum tipo de corante para mudar a cor.

— Sua avó era uma das bruxas mais fortes da nossa cidade. Ela superava qualquer outra pessoa e todos esperamos que você também. Embora, admito que alguns assumiram que você não é nada mais do que uma mundana já que não mostrou nenhuma habilidade ou produziu poções para vender em Fogueiras e Fogões.

Peguei duas canecas e coloquei os saquinhos de chá nelas. — Vovó não era nada mais do que uma normal, mas excêntrica, avó. O que é Fogueiras e Fogões? E o que você quer dizer com poções? Não sou muito a favor de remédios caseiros. Estou firmemente do lado da medicina moderna. Embora eu admita que muitas plantas têm propriedades curativas e são usadas em muitos medicamentos.

Aislinn riu e balançou a cabeça. — Uma coisa de cada vez. Primeiro, você já fez algo estranho ou fez algo acontecer quando você estava com raiva ou com medo?

Eu pausei o turbilhão de pensamentos que estava tendo e considerei sua pergunta. Não havia verdade no que ela estava dizendo. Ou havia? — Explodir pneus conta? — Meu tom era provocante quando escolhi um fenômeno irrealista, quando me dei conta que a razão pela qual escolhi esse exemplo muito peculiar foi por causa de um incidente que eu não consegui explicar na época da faculdade.

Aislinn arqueou uma sobrancelha enquanto sorria para mim. — Agora que você tem que explicar.

A chaleira começou a assobiar e eu derramei a água quente nas canecas e depois entreguei-lhe uma. Adicionei três colheres de açúcar e um pouco de leite enquanto tentava lembrar de tudo e silenciar a negação gritando em minha cabeça.

— Quando eu estava na faculdade havia essa garota que morava no meu dormitório. Ela acreditava que o mundo deveria girar em torno dela. Um dia ela pediu ao meu marido Tim, só que ele não era meu marido na época, para encontrá-la no restaurante onde ela trabalhava e levá-la para dançar depois do turno. Ela não sabia que eu estava ouvindo do meu carro que estava estacionada há duas vagas de distância dela. Estava tão brava que desejei que o pneu dela furasse e ela faltasse ao trabalho. Para minha surpresa alguns segundos depois o pneu do lado que ela estava encostada estourou, fazendo ela cair de bunda no chão.

Aislinn estava rindo no final da minha explicação. — Isso foi definitivamente magia. Pneus não explodem assim do nada. Você fez isso acontecer. Parece que herdou a magia da sua avó no final das contas. Eu tinha razão. E o resto do que aconteceu esta manhã é provavelmente porque você acabou de ser nomeada como a nova Guardiã. Mas não deve ser só isso. Ou eu não teria sentido o fluxo de antes.

— Guardiã? Do que diabos você está falando? — Eu estava rapidamente chegando ao meu limite. Eu não queria ficar chateada com a única outra pessoa na cidade que falava comigo, mas eu odiava ser feita de tola.

Abri minha boca para dar uma boa tirada nela por me achar ingênua o bastante para acreditar na história da carochinha que ela acabou de contar, mas preferi fechar a boca e não falar nada. A energia borbulhando pelo meu corpo me dizia que ela estava certa. Ela efervescia como comprimidos antiácidos na água. Aquilo não era normal. E, nem você. Eu me encolhi ao ouvir aquela voz dentro da minha cabeça. Parecia muito com a da vovó.

— Como eu disse, não sou a melhor pessoa para explicar tudo isso, mas você é a Guardiã do portal. Sua família tem sido responsável por garantir que os Feéricos Sombrios não cruzem para este reino por mais de cem anos. Agora esse papel é seu.

Minha mandíbula despencou e meu coração parou por um segundo. Havia uma parte de mim que sabia que ela estava certa, mas minha mente científica se recusou a acreditar. Eu fiquei parada lá enquanto minha mente lutava contra si mesma. A parte de mim que me fez uma excelente enfermeira racionalizou que eu provavelmente bati minha cabeça e ainda estava inconsciente sofrendo de uma hemorragia cerebral. Que nada disso era real.

Uma parte escondida de mim subiu à superfície. Era algo que só surgia quando eu estava em Pymm's Pondside. Essa parte lembrou de todas as estranhezas feitas pela minha avó que eu tinha visto, além dos incidentes que ocorreram desde que eu assumi a casa.

Eu belisquei meu braço para ver se eu estava, de fato, acordada. — Ai! Ah meu Deus! Por isso fui atingida pela eletricidade depois que informei à casa que ela agora pertencia a mim e que ela não conseguiria me afastar. Embora, eu não tenho certeza se acredito em magia ou algo assim. Tudo isso é demais para mim.

Aislinn pegou o pote de biscoitos que eu mantinha no meio da ilha da cozinha e levantou a tampa. Pegando um biscoito de passas com aveia, ela deu uma mordida. — O que você quer dizer com isso é demais para você? Isidora nunca te contou nada? Como ela poderia deixá-la no escuro quando ela sabia que isso passaria para você?

Balancei a cabeça. — Então, magia existe? E Feéricos? São tipo como a Sininho?

A boca de Aislinn escancarou e ela balançou a cabeça de um lado para o outro. — Nem todos da nossa espécie se parecem com a Sininho. Eu sou uma Feérica. Bem, metade na verdade. E há todos os tipos de criaturas em nosso mundo. Duendes, pixies, ninfas, tanto de floresta quando de água, barghests, grimms, e muito mais. A propósito, foi uma pixie que se revelou para Walt Disney anos atrás que inspirou a Sininho.

Eu franzi meus lábios e estreitei os olhos. — Você é uma desses Feéricos? Suas orelhas são pontudas?

Aislinn terminou seu biscoito e esfregou as mãos. De pé, ela caminhou até a pia. — Na verdade sou. Não sou tão poderosa quanto um sangue puro, mas tenho algumas habilidades. E não, eu não tenho orelhas pontudas. Meu lado humano diluiu essa característica. — Ela estendeu a mão e tocou a ponta da babosa que estava meio morta quando cheguei. A coisa se ergueu e ficou verde vibrante instantaneamente. As hastes caídas e marrons não existiam mais.

Eu caí contra o balcão e mal consegui me segurar para não cair no chão de madeira pela segunda vez naquele dia. — O que diabos eu devo fazer com tudo isso? Isso é insano. Espere… — engasguei quando dei por mim e foi como ser atingida por uma tonelada de tijolos. — Todas as histórias da minha avó são verdadeiras! Não havia dúvida que se o que Aislinn estava dizendo era verdade, então minha avó estava me preparando a vida toda sem dizer diretamente. — Puta merda!

— Conhecendo Isidora, essas histórias foram realmente de experiências que ela teve. Eu adorava ouvir sobre todas as criaturas que ela tinha encontrado. Ela era infame por chutar a bunda de Feéricos e negar-lhes permissão para entrar em nosso reino.

— É isso que uma Guardiã faz? É isso que eu devo fazer agora? — A ideia soou emocionante. Eu estava entediada até dizer chega e considerando procurar um emprego trabalhando na loja de vinhos.

Aislinn acenou com a cabeça e pegou sua caneca. — Você decidirá qual Feérico permitir cruzar e qual manter fora.

 

Meu coração acelerou com a simples ideia de negar a algum idiota malvado a habilidade de vir para a Terra. — Eu não sei o que é mais chocante, se o fato que existem outros mundos além do nosso ou que cabe a mim dizer quem pode vir aqui. Ou que magia existe. Eu não conseguia assimilar tudo isso.

Aislinn riu. — Eu não gostaria de ter essa função, mas sei que é importante. O Rei Voron tenta colocar os pés aqui há séculos. Se ele conseguir, ele dominará este reino também.

Terminei meu chá, passei água na minha xícara e olhei para Aislinn. — Eu perguntaria como eu deveria tomar essas decisões, mas cheguei ao meu limite. Que tal aquele almoço agora? — Eu estava faminta e tinha inadvertidamente pulado o café da manhã. Eu precisava fazer algo normal por um tempo antes que minha mente voltasse para o balde de irrealidade que tinha acabado de ser despejado em mim.

CAPÍTULO TRÊS

— Tem certeza que quer ir a pé para casa? Fica há quase três quilômetros daqui. — perguntou Aislinn, erguendo o olhar de sua bolsa, com as chaves do carro na mão e uma expressão cética.

Sim, eu duvidaria da minha capacidade também se eu estivesse no meu juízo perfeito, mas não estava. E eu odiei que a pergunta dela me fizesse sentir como se eu fosse velha. — Tenho certeza. Preciso tomar pouco de ar fresco e o exercício será bom para mim. — Tudo isso era verdade, mas não era realmente o motivo.

Uma vez que eu estivesse sozinha em casa, todos o turbilhão de pensamentos que consegui manter à distância na minha mente voltariam desenfreados e eu não tinha certeza se não acabaria tendo um colapso. Minha cabeça virou sem permissão e se concentrou no interior da cafeteria que acabamos de sair. Será que Bruce, o dono do Xí Cara, era um anão sobrenatural? Ou um outro tipo de Feérico? Ele tinha que ter algum tipo de magia para fazer sanduíches tão gostosos.

— Ele é um tipo de Feérico que chamamos de anões. Muito diferente das pessoas pequeninas — disse Aislinn, como se estivesse lendo minha mente. Espere. Será que ela realmente lia mentes?

— Você pode ler minha mente? — Aquilo seria terrível. Eu teria que parar de passar tempo com ela, o que seria uma droga porque eu realmente gostava daquela mulher briguenta.

Aislinn riu. — De jeito nenhum. É bem óbvio o que está passando pela sua cabeça. Mas não te culpo. Se eu não tivesse crescido sendo ensinada sobre um mundo oculto, que existe apenas em poucos lugares fora de Cottlehill Wilds, eu já teria dado entrada em um hospital psiquiátrico.

Uma gargalhada explodiu de mim. — Confie em mim, estou perto disso. Mas minha avó sempre me contava histórias sobre Feéricos e magia. Só nunca imaginei que era tudo verdade. De qualquer forma, obrigada pelo almoço. Te vejo em breve.

Eu me forcei a começar a caminhada de volta. A cidade estava movimentada enquanto eu caminhava lentamente pela rua principal e passava pela praça no centro. À primeira vista o lugar era como qualquer outro pequeno município, no entanto, tudo parecia diferente para mim hoje.

Havia um brilho em torno de algumas lojas e nada em outras. O restaurante Ostra de Safira pulsava com energia ao passar por ele. O Hora do Chá era cercado por plantas que lhe dava uma aura verde e uma sensação vibrante. Quando cheguei ao desvio que cortava caminho para os penhascos e a minha casa, estava convencida que havia algum tipo de fenômeno presente nesses locais. Era quase como se fosse uma indicação de que o lugar era propriedade de um sobrenatural.

No meio do caminho me virei para a esquerda em vez de direita e parei na beirada de um penhasco, observando o oceano que se estendia à distância. Quando eu estava em casa, em Pymm's Pondside, era impossível dizer que o oceano estava a apenas um quilômetro e meio de distância. Parada lá, sentia como se estivesse literalmente em outro mundo.

Além disso, senti que minhas pernas estavam quase desmoronando depois da caminhada que tinha acabado de fazer. Não é como se eu estivesse fora de forma, mas as dores que eu já estava sentindo eram suficientes para me fazer arrepender de não ter aceitado a carona de Aislinn até em casa.

Balançando a cabeça, me virei e comecei a descer a estrada que me levaria para casa. A agitação da cidade de repente ficou para trás, deixando-me cercada por árvores e arbustos. As casas a essa altura eram bem mais afastadas em vez de uma ao lado da outra, ou até mesmo parede com parede.

Eu não tinha visitado ninguém por aqui e não fazia ideia de como as propriedades deles se pareciam por trás das paredes de plantas e arbustos, que agiam como sentinelas fornecendo-os privacidade. Chutando uma pedra, eu observei ela bater em uma barreira invisível à minha direita. Eu mal consegui desviar quando ela foi atirada de volta em minha direção.

Eu me perguntava onde Sebastian morava. Violet me disse que ele vivia perto da minha casa. Eu fiquei chocada quando decidi me aventurar no mundo da perseguição e perguntar a Aislinn e Violet quem era o cara misterioso. Não passou despercebido por mim que no momento em que o descrevi com seus olhos azuis penetrantes e corpo musculoso, ambas as mulheres sabiam de quem eu estava falando. Fiquei surpresa que elas o conheciam o bastante para se referirem a ele pela versão abreviada de seu nome. Ele não parecia do tipo que falava com as pessoas, com ninguém na verdade.

A imagem dele cruzando os braços e olhando feio para mim passou pela minha mente. Bas, como Violet e Aislinn se referiam a ele, fazia até uma carranca parecer sexy. Eu não conseguia imaginar que alguém fosse capaz de sorrir, mesmo assim aquilo não me impediu. Eu estava atraída por ele, de uma forma ou de outra. Eu não poderia negar que estava curiosa se o rosto dele suavizaria quando ele me beijasse. O quê? Não, nem em sonho!

Eu alcancei minha casa rapidamente e parei para olhar para o jardim. As ervas daninhas estavam começando a crescer, então atravessei o portão e peguei as luvas da mesa montada à minha direita.

— Droga — gemi ao ficar de joelhos. Aquilo provavelmente foi um erro. Eu nunca mais conseguiria me levantar. Sem mencionar que a dor nas minhas juntas me manteria acordada a noite toda. Enquanto eu ficava ajoelhada lá arrancando as ervas daninhas do chão, Sebastian invadiu os meus pensamentos, de novo.

Droga. Foi por isso que tinha vindo até aqui. Para ter uma distração.

Agarrando as teimosas ervas daninhas, puxei uma atrás da outra enquanto forçava minha mente a focar na atividade que estava fazendo. Infelizmente, fazia muito tempo desde que eu tinha sido de alguma forma beijada ou tocada. Desde que o Tim morreu, nenhum homem tinha despertado o meu interesse. E certamente nunca tinha ficado tão atraída a ponto de querer levar um para a cama.

Estava acostumada a viver com essa parte de mim morta e enterrada. Porém, ver Sebastian parado lá com sua carranca tinha mudado algo em mim. Agora meu corpo estava desperto e não me deixava ignorar minhas necessidades.

Sentando-se para trás em meus tornozelos, eu fechei meus olhos e suspirei, tentando expulsar aquele calor latejante de dentro de mim. Era algo do qual eu tinha ficado muito boa em fazer durante o período em que Tim ficou doente. O som de algo agitando a água me assustou e eu fiquei de pé com um pulo. — Merda! — gritei quando meus joelhos começaram a reclamar na mesma hora. Ficar velha era uma merda.

A visão de flores desabrochando nas vitórias-régias apagou qualquer pensamento sobre meu corpo rangendo. Manquei até o portão e passei por ele apressadamente. O que diabos eu fiz? E… como? Eu já tinha feito pequenas coisas acontecerem algumas vezes na vida, mas nada neste nível.

A lagoa era pelo menos uns nove metros de comprimento e uns sete metros e meio de largura, e coberto por vitórias-régias que agora tinham deslumbrantes flores brancas nelas. Minha mente se recusava a acreditar que eu era a responsável pelo aparecimento delas.

Eles tinham que estar à beira de florescer antes. Era um dia ensolarado e brilhante. Os raios tinham que ter persuadido os botões a abrirem. Só que não havia nenhum botão antes, ou qualquer indício deles. Parada ali, minha boca escancarada em descrença, não havia outra explicação já que elas definitivamente não existiam momentos atrás.

Tirando as luvas, eu as coloque na mesa, depois entrei e lavei minhas mãos. O que deu início a um frenesi de limpeza. Lavei as bancadas, depois me mudei para as portas do armário antes de passar para despensa. Aquele ping estúpido começou em minha cabeça novamente.

Aquilo estava drenando as minhas forças e eu já estava perdendo o gás quando finalmente terminei de limpar a cozinha e fui para a sala de estar. Antes de dar o dia por encerrado, eu tinha que rearranjar os móveis para que ficassem do jeito que eu gostava. Quando meu marido morreu há alguns anos, aprendi que não havia necessidade de manter a casa da mesma maneira para homenagear a sua memória. Eu o amava, mas ele tinha partido. Não importava se eu mudasse a posição dos móveis ou comprasse novos que ele teria odiado. Eu ainda o amaria. Nada nem ninguém, poderia mudar esse fato.

Minhas costas protestaram quando empurrei o sofá para a parede oposta e o ping ainda estava me deixando louca. Minha avó tinha arranjado tudo ao redor da lareira. Não havia nada melhor do que uma lareira acesa no inverno, mas eu planejava criar um lugar que eu pudesse assistir televisão quando a minha chegasse na próxima semana.

Não havia TV a cabo em Cottlehill Wilds, mas havia internet. Graças a Deus pelo streaming. Tinha contratado um plano família quando Emmie começou a faculdade para que ela tivesse algo para acessar sem ter que pagar por isso.

Quando mudei a namoradeira de lugar, dei um passo para trás e odiei o novo arranjo. A mesa de centro não se encaixava com a disposição dos outros móveis. Abri a porta do lado da casa e empurrei a mesinha de madeira para o lado de fora. Voltando, eu gemi para a bagunça que eu tinha feito.

As dores evoluíram para agonia e eu mal conseguia me mover. Hora de tomar banho. Pegando uma garrafa de vinho e meu e-reader, eu praticamente engatinhei pelas escadas e entrei no meu banheiro. Eu precisava de uma pausa e tinha que fazer algo para parar aquele maldito ping.

Andando até a banheira de modelo antigo, com pezinhos em formato de garras e tudo, eu liguei as torneiras e tampei o ralo. Minha avó tinha vários potes cheios de líquido em uma prateleira de madeira no banheiro. Eu tinha jogado fora os que tinha um perfume que me lembravam dela e deixei o resto. Derramando um pouco de um líquido que cheirava a jasmim e maçã, virei-me para tirar minhas roupas e congelei.

Mancando até a janela, meus olhos se arregalaram quando vi Sebastian parado perto do cemitério da família. Um segundo depois eu estava correndo escada abaixo, apesar dos meus joelhos protestando.

Mas quando cheguei lá fora, ele não estava em lugar nenhum. Eu fiquei lá e virei em um círculo e depois xinguei. O que diabos ele estava fazendo aqui de novo? Se ele queria falar comigo por que ele foi embora? A boa notícia era que o ping finalmente parou.

Eu não tinha ideia de como encontrar Sebastian, então voltei para dentro. Quando ouvi o barulho de água no andar de cima, lembrei que tinha deixado a torneira da banheira ligada. Eu tropecei na minha pressa para subir, tinha abusado muito do meu velho corpo hoje.

Cheguei ao banheiro bem na hora em que a água quente começava a transbordar. Fechando a torneira, eu puxei a tampa do ralo e permiti que vários centímetros fossem drenados. Checando a janela para ter certeza que ninguém estava me observando eu puxei a camisa sobre minha cabeça, depois tirei meus sapatos e meias, em seguida, o resto das minhas roupas.

Céus, era delicioso afundar na água perfumada. Minhas dores diminuíram e peguei meu dispositivo e abri o último livro que estava lendo. Pensando bem, não era à toa que eu gostava tanto de histórias envolvendo criaturas paranormais e fantasiosas. Era parte de quem eu sou.

Eu me perdi na história até a água esfriar. Com um suspiro, pousei minha taça de vinho no chão e me levantei. Tive o prazer de descobrir que meus joelhos e costas me suportavam sem muita reclamação. Quaisquer que fossem aqueles óleos, eles tinham que ter poderes mágicos. Um banho nunca tinha me feito sentir tão bem assim antes.

Eu estava seca e vestida quando o sol começou a se pôr. Eu estava com fome de novo depois de uma longa tarde de caminhada, arrancar ervas daninhas e limpeza. Quando cheguei lá embaixo, cheguei ao limite do impossível pela segunda vez naquele dia.

 

— Como é que eu fiz isso acontecer? — Perguntei para o ar enquanto observava uma sala de estar perfeitamente organizada. O sofá e a namoradeira estavam do lado oposto, com a cadeira complementando os assentos. A pintura de uma paisagem que pairava sobre a lareira tinha sumido e suportes vazios estavam em seu lugar. Precisamente onde eu planejava pendurar a TV de tela plana.

Eu realmente preciso descobrir como funciona essa merda toda. Embora, eu não me importava de fazer flores crescerem e fazer a casa se ajeitar sozinha. Eu me virei e fui para a cozinha para pegar algo para um jantar leve. Nada me apetecia e eu não tinha desejo de cozinhar.

Por uma fração de segundo eu fiquei lá desejando alguns tacos de peixe como uma tola. Parte de mim realmente esperava que eu pudesse fazer as coisas aparecerem apenas desejando-as, enquanto o resto de mim sabia que aquilo era impossível. Eventualmente fui forçada a admitir a derrota e peguei uma maçã, um pouco de manteiga de amendoim e um refrigerante. Eu estava lá comendo quando o calor eclodiu sobre o meu corpo.

O suor escorria por todos os meus poros e eu fiquei tonta. Abri o freezer e fiquei na frente dele esperando que aquilo me esfriasse. Pela janela eu notei as árvores balançando com a brisa e eu estava tentada a andar lá fora, mas o ar frio da geladeira parecia bom demais para me mover.

Um segundo depois, a porta dos fundos se abriu e os ventos sopraram pela casa. Eu me assustei, fechei a porta do freezer e fui lá fora procurar o que fez a porta se abrir assim. O sol estava apenas se pondo e o céu era uma bela mistura de rosa e laranja.

Um ruído de cascalho sendo esmagado se intrometeu na quietude do meu momento de paz e me virei para ver Sebastian andando pela estrada. — Você está me seguindo, Sebastian?

Sua cabeça virou em minha direção e seus olhos arregalaram um pouco antes de estreitarem. Minhas mãos foram para minha boca e eu desejei me enfiar em um buraco. Eu tinha acabado de provar a ele que eu era o pior tipo de perseguidora do mundo.

— Eu não estou seguindo você. Eu vim para Pymm's Pondside. — Sua voz era mais áspera do que o cascalho sob suas botas pretas e me atingia de maneiras que não deveriam acontecer.

Limpando minha garganta, cruzei meus braços sobre meu peito. — Sim, posso ver isso. Por que você continua vindo aqui? Quer alguma coisa?

Ele me observou sem dizer nada. As palavras de Aislinn sobre meu novo trabalho como Guardiã brotaram em minha mente. A mulher não tinha me dado mais nenhuma informação sobre o assunto. Talvez ele quisesse atravessar para o reino Feérico.

— Ah, hum, você quer atravessar para… — Minhas palavras vacilaram enquanto minhas bochechas aqueciam. Eu não tinha ideia de como aquilo funcionava. Não queria que esse cara pensasse que eu era uma idiota.

Ele inclinou a cabeça. — Para Eidothea? O que você sabe sobre portal para o reino Feérico?

Meus ombros levantaram e caíram. — Não sei de nada. — Doeu ter que admitir aquilo. Por alguma razão eu queria que ele visse a mulher brilhante que eu era. Aquela que aprendia as coisas mais rápido do que qualquer um ao meu redor e tinha se formado em primeiro lugar da classe na escola de enfermagem. Era por isso que eu era a única enfermeira capaz de conectar pacientes ao aparelho de ECMO no meu hospital anterior. — Nem sei se acredito em nada do que Aislinn disse sobre magia, os Feéricos, e meu suposto trabalho.

— Eu estava preocupado com isso. É por isso que eu vim para cá.

— Por quê? Você está aqui para me ajudar? — Por favor, esteja aqui para me ajudar. Minha cabeça estava uma bagunça e precisava de alguém para me ensinar sobre tudo aquilo. Certamente havia regras que eu deveria seguir. A última coisa que eu queria fazer era cometer um erro porque eu não sabia das coisas.

Oh, Deus! E se eu deixar algum Feérico serial killer passar pelo portal?

Sebastian não respondeu, apenas ficou me encarando. Vaga-lumes começaram a rodear minha cabeça. Espantei eles com uma mão enquanto mantinha meus olhos em Sebastian. O zumbido tornou-se persistente até que finalmente me virei para ver que estava enganada sobre o que estava voando ao meu redor. Na verdade, eram pessoas pequeninas voando. Assim como a Sininho!

Estas criaturas tinham asas iridescentes e cabelos e roupas coloridos vibrantes. — O que são eles? Aislinn nunca me contou o que eles eram.

Sebastian diminuiu um pouco da distância entre nós. — Eles são pixies. E esses são brownies, ou duendes amigos.

Segui o dedo dele e notei pequenas criaturas marrons rastejando sob a cerca e indo para o jardim. — O que é que eles fazem? Eles estão tentando atravessar?

— Você realmente tem que dar um jeito de aprender antes que o Rei Voron envie algo terrível para estabelecer uma base neste reino. — Depois de rosnar essas palavras, Sebastian começou a se afastar.

Minha boca comprimiu em uma linha fina para evitar xingá-lo enquanto ele ia embora. Engolir a raiva e a frustração não foi fácil, especialmente quando considerei como isso tinha acabado de cair no meu colo e ele estava esperando que eu fizesse milagres.

Com um grunhido, dei um pisão na grama. Eletricidade escaparam das minhas mãos. Gritei e agitei minhas mãos no ar. Um raio branco brilhante voou para a esquerda e atingiu uma árvore.

Chamas irromperam ao longo da casca e uma figura alta e esbelta saiu de dentro dela gritando. Corri ao redor da lagoa e a alcancei num piscar de olhos. Meu coração bateu descontroladamente no meu peito enquanto queimaduras brotavam ao longo dos braços dela.

Agindo por instinto, corri para a lagoa e peguei o máximo de água com as mãos. Quando voltei para ela com um punhado de água, o fogo já apagado, e ela estava me encarando. Derramei o líquido sobre o braço dela. — Sinto muito. Eu não queria te machucar. Eu perdi a cabeça.

Os cantos dos seus finos lábios castanhos se ergueram e seus olhos verdes brilharam. — Está tudo bem, Bas tem esse efeito nas pessoas. Eu sou Theamise. Sua avó me convidou para viver no Bordo quando ele estava morrendo por causa de um fungo.

Acenei com a cabeça como se já soubesse disso. Quando eu menos percebia, algo novo era jogado para cima de mim. Exceto que eu sabia sobre aquilo. Vovó me contou a história sobre a árvore estar à beira da morte e que ela fez um acordo com uma ninfa para salvá-la.

Parecia impossível que essas criaturas sequer existissem. Se não fossem as histórias que minha avó me contou, eu ficaria muito mais chocada. Esperava que fosse mais fácil aceitar que tudo isso fosse real porque não podia continuar tendo as mesmas discussões na minha cabeça. Sério, eu fazia esquizofrênicos parecerem sãos.

Eu não tinha mais vinte anos. Ser atingida com tudo isso estava afetando a minha mente. Mas como todos os Shakleton, eu me recusava a permitir que isso me sobrecarregasse. Com um susto, percebi que minha mãe fugiu de tudo isso. Não achei que ela negasse a existência desse mundo. Afinal, ela me mandava para ficar com a mãe dela todo verão. Mas por que ela ou meu pai nunca me contaram sobre nada disso? Não pude deixar de me perguntar o que a fez se afastar.

Nada disso importa agora! Certo. Eu precisava dar um jeito na situação antes que ela saísse do controle. Algo estava obviamente acontecendo no meu novo mundo e eu tinha que descobrir o quê, antes que acabasse com a bunda no chão, literalmente.

— Eu realmente sinto muito sobre sua árvore. Espero não ter causado nenhum dano permanente, mas preciso correr e falar com uma amiga bem rápido.