O Encontro Entre Dois Mundos

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Descobrindo o dom da fortaleza

Depois da saída de Angel,procuramos iniciar imediatamente o caminho que nos levaria a enfrentar mais uma etapa relativa ao desenvolvimentos dos dons. Iríamos para o oeste do sítio afim de novas experiências ,conhecimentos e a visão respectiva. Assim fazemos. Começamos a caminhar na trilha respectiva, enfrentando tudo e a todos, e nada parecia nos desanimar. Onde buscávamos tanta garra,inspiração,determinação,coragem e fé? Eu explico. Na nossa própria história de vida.Eu,um pobre jovem sonhador, do interior do nordeste, esquecido pelas elites e pelas autoridades. Buscava um sonho desde 2010,que era realizar-se na literatura. Em busca do objetivo, escalara uma montanha, encontrara a guardiã, a jovem, o menino, realizara desafios e enfrentara a gruta mais perigosa do mundo. Driblando obstáculos, chegara a câmara secreta (parte final da gruta) e por um milagre me transformara num vidente poderoso. Mas isso não era tudo. A gruta era apenas o início duma interessante trajetória. Depois disso, viajei no tempo, resolvi conflitos, reuni as forças opostas e as controlei, no primeiro passo da minha evolução humana e espiritual. Este foi o primeiro passo duma se Deus quiser longa trajetória.Após,voltei a me dedicar á faculdade, ao trabalho e as questões pessoais da minha vida cotidiana. Quando tive um tempo livre, voltei a pensar no meu caminho, na literatura e me perguntei sobre um período difícil que enfrentei em minha vida, um período negro que me desliguei de Deus, do sagrado, enfrentei as pessoas, as magoei, e vivi um sem número de experiências. Chamei este período de “A noite escura da alma” e em busca de respostas procurei novamente a montanha, especificamente a guardiã a fim de que ela me orientasse.Com o auxílio dela, Comecei a investigar os pecados capitais, mas era um tema tão complexo que tive que ser repassado a outra pessoa, um hindu, e aprendi um pouco mais com ele. No entanto, as coisas ainda não tinham ficado bastante claras e então fui orientado a fazer nova viajem, rumo a uma ilha perdida, do outro lado do planeta, onde talvez encontrasse as respostas que tanto procurava. No caminho, embarquei junto com Renato, num navio de piratas, vivemos novas aventuras, até chegar ao destino improvável.Finalmente,tive então a oportunidade de conhecer a parte mais densa da “Noite escura” e ter a visão da história. Tinha cumprido uma nova etapa na minha carreira mas isso ainda não era tudo. Atuando como vidente dos livros, procuraria sempre ouvir a voz do meu subconsciente em busca do meu destino e da felicidade. Ao meu lado, todo este tempo, estava Renato. Ele que fora durante muito tempo, quando criança, forçado a trabalhar exaustivamente, maltratado, sem carinho, conseguiu o apoio da guardiã para se reerguer, e ter ainda esperanças na vida. Atuando como meu auxiliar, ele fora fundamental nas minhas aventuras e a cada dia sua presença me enchia de alegria. Juntos, éramos mais, uma equipe imbatível, conforme Angel nos ensinara e acreditávamos.

Continuamos caminhando sobre pedras, poeira, barro e o sol escaldante. A cada passo, nos sentimos mais ansiosos, expectantes, mas também tranqüilos. Apesar da indefinição, continuamos seguindo em frente, seguindo as orientações do mestre, sem pestanejar. Era o que nos restava no momento.

Passa-se um pouco mais de tempo. Já estamos na parte da tarde, aproximadamente 14:00 Hs. Apertamos os passos, driblamos obstáculos, perigos e inquietações e já chegamos a aproximadamente um terço do trajeto percorrido. Desta vez, não nos impressionamos, isto só nos estimula a avançar ainda mais. E assim continuamos. Revemos as paisagens, a terra seca, alguns animais. O que muda é a situação. Antes, estávamos apenas de passeio, conhecendo o terreno. Agora, estávamos a ponto de encarar um novo desafio, que se mostrava gigantesco, que poucos ousaram arriscar. Além disso, as nossas responsabilidades aumentavam a cada momento.

Mas é bom destacar que isto era absolutamente normal. Desde quando entrei na gruta, assumi a responsabilidade da conquista contínua e evolução em prol do dom que recebera gratuitamente do universo.Com muita garra e coragem, continuaria arriscando sempre não importando as consequências nem os riscos. O importante é que contava com a torcida de amigos,familiares,conhecidos,admiradores e o apoio dos meus companheiros de aventura. Independentemente do resultado, a experiência e o aprendizado se mostravam muito importantes para minha carreira. Era em busca destes dois itens que continuamos avançando embrenhados numa mata quase virgem ao encontro do destino incerto, destino que nos leva a cumprir a metade do trajeto trinta minutos depois.

Em dado momento, nos sentimos cansados e resolvemos de comum acordo parar. Dobramos a direita, num desvio que se apresenta e achamos uma parte de terra limpa e sem garranchos. Sentamos.Pegamos a mochila, cada um pega um pouco de água e de alimento e satisfaz um pouco de suas necessidades. Quando terminamos, aproveito o momento para relaxar e descontrair puxando uma conversa com meu companheiro de aventura.

—E aí? Está tudo bem? Gostando do desafio, do passeio, da experiência e do trabalho?

—Muito. Quando terminarmos vitoriosos, teremos muito a contar. Aqui tudo é muito belo, tranquilo e prazeroso caminhar. No momento certo, te ajudarei ainda mais. (Renato)

—Eu também estou gostando. É diferente de tudo que vivi até agora. As conversas, as orientações, a companhia de alguém que foi um desbravador de preconceitos de sua época me ajudou a ter uma visão nova da vida. Pessoas assim devia se ter aos montes para que o mundo melhorasse de verdade. (Afirmei)

—Eu concordo. Às vezes, o que falta é a coragem. Muitos se escondem do mundo preferindo viver infelizes a ter que enfrentá-lo. É uma opção. Mas com certeza não é a mais adequada. (Renato)

—Bem, isto não se discute. Cada qual sabe o que é melhor para si. Todos nós, em algum momento, temos que fazer escolhas difíceis e está cada vez mais perto da nossa vez. Peço a Deus sabedoria e bom senso para não errar. (Eu)

—Eu também. Somos uma equipe e temos que ter o maior cuidado a partir de agora. Paciência também é importante. (Renato)

—Certo. Vamos continuar? Já está ficando tarde. (Solicitei)

Renato concorda comigo, nos levantamos, voltamos a trilha principal e retomamos a caminhada. No caminho, conversamos um pouco mais sobre o desafio e definimos a estratégia a ser adotada e algumas prioridades. Isto era necessário a fim de que não tivéssemos surpresas desagradáveis. Com tudo acertado, continuamos a caminhar mais tranquilos e convictos. Avançamos rapidamente, driblamos os obstáculos e incertezas e um instante depois ultrapassamos os três quartos do percurso. O desafio estava cada vez mais próximo.

Alguns passos adiante, surge, diante de nós, um grande obstáculo. Encontramos com índios Xucurus que nos cercam por todos os lados. Um deles que parece ser o chefe se aproxima, nos prende e nos pergunta em nossa língua o que fazíamos ali. Um pouco sem graça, explicamos que estamos a passeio, numa busca pelo conhecimento e ele meio sem entender nos diz que para continuarmos temos que vencer um desafio. Desconfiado, pergunto qual seria e ele me apresenta um arco e uma flecha. Manda colocar um alvo minúsculo a cerca de quinze metros e diz: —Tem que acertar, se não morre. Tem três chances.

Nervoso e atormentado, fico alguns instantes sem reação. O que seria de nós agora e da nossa aventura? Não tinha nenhuma experiência com este tipo de coisa e se fracassasse, o nosso destino era a morte prematura. Neste momento, lembro dos desafios da gruta, especificamente das três portas que representavam felicidade, fracasso e medo. Tinha aprendido com meus erros, controlado meu medo e assim conseguido escolher e alcançar a porta certa, a felicidade. Tentaria agir da mesma forma agora.

Preparo-me, fico em posição e quando estou seguro, lanço a flecha. Fecho os olhos e quando os abro tenho uma decepção. Nem passara perto e agora só restava duas tentativas. O cerco se fechava a cada momento tendo nossa vida em jogo. O que aconteceria? Seja o que fosse, não perderíamos a esperança nem teríamos medo de tentar mais uma vez.

Preparo-me novamente. Aponto em direção ao alvo, e lanço. Fecho os olhos e ao abrir, nova decepção. Mas desta vez, passara mais perto. A uns dez centímetros de distância. Agora só restava uma tentativa e se errasse, nossa aventura estaria terminada e nossa vida também. O que diriam nosso mestre, nossos familiares, conhecidos, amigos? Sentiriam saudades de nós e de nossas peripécias? Bem, cabia a mim não os fazer sofrer ou deixá-los com saudades. Não estava em meus planos abortar o projeto do vidente.

Animado com uma força e coragem nunca dantes vistas, pego o arco e flecha pela última vez. Sem pretensão nenhuma, aponto na direção, transformo-me no vidente ao pensar nas três portas, concentro-me um pouco e quando estou pronto lanço a flecha, fecho os olhos e ao abrir, dou um grito e corro para abraçar Renato. A meta estava cumprida. O índio chefe me cumprimenta e se afasta com seus subordinados. O caminho agora estava livre para que pudéssemos continuar sonhando com a conquista dos dons.

Depois do abraço, resolvemos retomar a caminhada imediatamente. Avançamos cada vez mais rápido na mata agreste e continuamos superando obstáculos. A cada passo dado, nos sentimos mais confiantes na vitória e no sucesso de nossa empreitada. No entanto, teríamos que ter o maior cuidado porque a cada dom desenvolvido o círculo da passagem se estreitava e por isto tínhamos menos opções.

Algum tempo se passa e finalmente alcançamos o destino. Estamos no oeste do sítio, exatamente sobre as ruínas do que um dia fora a casa do bem aventurado, meu antepassado,Vítor.Observo cada cantinho e parecia que eu já estive naquele lugar, de alguma forma. Toco em vários antigos objetos que estavam espalhados mas não sinto absolutamente nada até que Renato se aproxima, pega no meu braço e me conduz até o quarto. Nós dois tocamos na ruína principal, o chão treme, meus chacras explodem, o mundo escurece e então tenho a compreensão e a visão respectiva do quarto dom: “Era uma vez um jovem chamado Marcelo, residente na zona rural do município de Sertânia-PE. Era integrante duma família simples, todos agricultores, mas foi criado com uma base de valores recheados de princípios éticos e de moral. A cada dia que passava, transmitia esses ensinamentos a seus semelhantes e orgulhava a todos com esta atitude. Além disso, engajava-se nos estudos ,no trabalho, nas causas sociais. Era um ser do bem em todas as instancias. Até que algo mudou. Um certo dia, numa fatalidade, seus familiares perdem a vida. Ele se revolta inicialmente, pois era muito apegado a seus entes. Passa a questionar seus hábitos e se pergunta de que valera seu esforço em ser um bom homem. É neste exato momento que conhece Fabrícia.Descobre com ela o sentido da amizade,cumplicidade,amor,fidelidade .Decide se casar e supera esta primeira perda com o passar do tempo apesar de não esquecê-la. Tem um casamento feliz,filhos,uma boa situação financeira,amigos,enfim tudo estava valendo muito a pena. Até que num certo dia perde a mulher em outra fatalidade.Inconformado,passa dias sofrendo e se perguntando por que a vida lhe aplicara mais um golpe. Entra em depressão.Com a ajuda dos filhos, procura tratamento psicológico, vai superando aos poucos seus traumas e com um certo tempo volta a sua rotina normal:Trabalho,atividades sociais e de lazer, convivência com amigos. Descobre dentro de si um potencial enorme em superar as perdas e adversidades da vida, chamada “Fortaleza”. Era isso. Não se tratava de esquecer as desgraças e sim conseguir superá-las e viver uma vida normal valorizando o que tinha em mãos. E é isto. Marcelo se recuperou, viveria em paz e feliz com sua família o resto dos seus dias. Redescobre o amor com outra pessoa e vive outros momentos felizes. “Fortaleza é um dom essencial para que enfrentemos a vida sempre com esperança de dias melhores e com a força, coragem e garra necessárias para enfrentar as perdas que são inevitáveis, superando-as para que possamos viver a vida em paz. Pois a vida é bela, clara, e deve ser vivida com alegria e felicidade que todos merecemos.”

 

Pós-desafio

A visão termina. Depois de tudo concluído, saímos das ruínas da casa que era do meu avô ,procuramos a trilha e começamos a fazer o caminho da volta rapidamente antes que a noite caísse. O momento atual requer concentração e calma a fim de assimilar todos os conhecimentos da visão. Focamos nisso durante o trajeto. Além disso, planejamos os próximos passos de nossa aventura inusitada no sítio, conversamos sobre nossos pontos falhos e sobre o treinamento da co-visão que ainda não se realizara. Porém, nossas opiniões entram em conflito em diversos pontos e deixamos para tratar disto com o nosso mestre mais tarde. Assim continuamos avançando na trilha agreste sem maiores preocupações.

No caminho, conhecemos algumas pessoas, e paramos um pouco para trocar ideias. Depois da apresentação, falamos um pouco de nossas vidas e eles da deles (São três jovens que se chamam Soraia, Claudionor e Cássio—Todos irmãos). Conversamos também sobre assuntos gerais, literatura, amizade, relacionamento, política durante aproximadamente meia hora. No final, antes de ir, nos convidam para continuar a prosa em sua casa (no período da noite), e nos explicam como chegar lá. Empolgados, aceitamos e finalmente nos despedimos. Continuamos então a nossa caminhada e com mais alguns passos ultrapassamos um terço do percurso. Neste momento, a ansiedade, o nervosismo e a expectativa aumentam por causa dos fatos anteriores. Então aumentamos o nosso ritmo.

Apesar do ritmo forte, dá tempo de apreciarmos e repassarmos cada centímetro daquele chão, e reconhecemos nele os frutos dos nossos esforços: Galhos retorcidos, nossas pegadas no chão, pedras deslocadas. Já tínhamos ultrapassados os obstáculos daquele trilha em prol dum dom, do universo e em busca dum destino ainda incerto. Nossa motivação era maior a cada momento apesar dos pesares.

Cheios de curiosidade, vez ou outra saímos do caminho principal e descobrimos um mundo inteiramente novo:vegetação, animais, textura da terra, paisagem. Era um descobrir muito valioso. Pena que estávamos com pressa e quase noite, senão aproveitaríamos mais. Quem sabe noutra oportunidade, penso. Então voltamos ao nosso foco principal e avançamos ainda mais. Ultrapassamos dois terços do percurso. Estávamos mais perto de nossa casa provisória.

No restante do percurso, com o cansaço, diminuímos o ritmo do corpo e da mente, ficando mais relaxados. Tínhamos cumprido a quarta etapa com sucesso e isto nos animava bastante. No entanto, sabíamos que havia muito a aprender não só nesta aventura como em outras a realizar. O caminho do vidente era difícil e espinhoso, exigia de nós uma aprimoração contínua. Mas ainda bem que estávamos no caminho certo. Com esta certeza, Caminhamos ainda mais e depois de um tempo, finalmente chegamos ao destino. Sem cerimônia, entramos na morada de Angel, o procuramos e o encontramos na parte correspondente a sala. Ele nos convida a sentar em frente ao mesmo e quando fazemos isso, estamos preparados para uma boa conversa, uma troca de conhecimentos entre amigos e companheiros de aventura.

—E aí? Como foi a experiência? Compreenderam o dom da fortaleza? (Angel)

—Acredito que sim. Através da visão apresentada, tivemos a ideia da importância desse dom. Ele é primordial para superarmos as perdas, enfrentar situações difíceis e angustiantes com a cabeça erguida, termos força para continuar o caminho. Mas também há momentos em que devemos extravasar, e pedir colo aos entes mais queridos. “Ser fraco no forte” é essencial. (Explanei)

—Eu também acho que sim. Trabalhamos em equipe e descobrimos um pouco mais do nosso potencial. Na verdade, desde a primeira aventura, cultivamos a fortaleza no sentido de não desistir dos nossos objetivos. A experiência atual só fez tudo ficar mais claro. (Completou Renato)

—Muito bem. Gostei das explanações. Houve uma evolução e por isto estão de parabéns. No entanto, ainda estamos distantes do objetivo final. A partir de agora, tentem prestar atenção em cada detalhe que se apresentar a fim de incorporar melhor os dons. Os dois próximos serão decisivos para o desenvolvimento da co-visão. (Alertou Angel)

—Entendi. Quando devemos realizar o próximo passo? (Perguntei)

—Como será minha participação desta vez? (Renato)

—Calma. O próximo passo será dado amanhã pela manhã, após o café. Renato continuará auxiliando o vidente nas visões até terem total entrosamento. Mais detalhes, só depois. Por enquanto, reflitam tudo que viveram até agora. (Orienta Angel)

—Tudo bem. Refletiremos. O jantar está pronto? Passamos a tarde toda fora e só nos alimentamos com besteiras. (Comentei)

—Sim. Podem ir à cozinha e servir-se. Preparei uma sopa maravilhosa. (Angel)

Dominados pela fome, obedecemos ao mestre e em poucos passos chegamos no destino. Sentamos a mesa, nos servimos, começamos a nos alimentar e a conversara fim de nos distrair, na brincadeira, puxamos encrenca um com outro. Isto termina em apenas alguns tapas carinhosos. Em dado momento, lembramos dos familiares, dos conhecidos, dos amigos e dos mestres anteriores e a saudade invade nosso peito. Mas uma saudade saudável que não nos atrapalhava em nada. Por fim, agradecemos interiormente a eles por ser o que somos e continuamos a devorar a comida. Depois de repetir o prato várias vezes e nos sentirmos satisfeitos, voltamos a sala, falamos com Angel, e ele nos libera para ir à casa dos nossos recém amigos. Ele nos dá uma lanterna, nos dirigimos a saída, e auxiliados por sua luz começamos a dar os primeiros passos fora da casa. Conforme as informações, era aproximadamente trinta minutos de caminhada, seguindo em frente na estrada principal de terra.

Pouco a pouco, vamos nos afastando de nossa residência provisória. No caminho, enfrentamos os obstáculos naturais, o medo, a ansiedade, a falta de experiência, e a pouca luminosidade. Porém, valeria a pena o esforço em fazer novas amizades sinceras e fiéis. É como diz o ditado: “Mais vale amigo na praça do que dinheiro na caixa”. Movidos por essa frase, continuamos a avançar na noite escura agreste em certa parte do percurso, escutamos uivos estranhos. Sem pensar, marcamos carreira e mesmo sem ser atletas, mantemos um bom ritmo. Usando como combustível o medo, não paramos de correr e quando avistamos as primeiras casas à beira da estrada sentimos um alivio imediato. Estávamos salvos.

Aproximamo-nos mais, batemos na primeira porta, pedimos um gole de água com açúcar a fim de nos acalmar. A senhora que nos atende gentilmente nos dá. Quando terminamos de beber, agradecemos, desejamos boa noite e voltamos a caminhar mais tranquilos auxiliados pela luz dos primeiros postes. Avançamos um pouco mais, contamos as casas, dobramos a direita e na quarta casa batemos a porta. Tínhamos finalmente chegado.

De dentro da casa, sai uma senhora de meia-idade, pele bronzeada, cabelos longos e pretos, magra, um rosto bem definido e bonito. Ela se aproxima e pergunta o que desejamos. Explico que somos os dois jovens que Soraia, Claudionor e Cássio conheceram na mata. Dito isto, ela abre um largo sorriso e nos convida a entrar. Nós aceitamos, entramos na casa e ela se apresenta com o nome de Clara, a mãe deles. Em retribuição, nos apresentamos também. A mesma nos conduz até uma sala, onde quatro pessoas se encontram, os três que conhecíamos e mais um homem forte, robusto, moreno, simpático e gentil. Ele se apresenta como Eduardo. Retribuímos com um muito prazer, citamos os nossos nomes, nos acomodamos nas cadeiras disponíveis, e a roda da conversa começa a girar.

—E aí? Vidente e Renato, qual é o objetivo de vocês ao visitar nosso pequeno e distante sítio? (Pergunta Eduardo)

—Estamos numa aventura do conhecimento. Viemos para aprender, partilhar experiências, desenvolver nosso potencial e especificamente nosso projeto. (Eu)

—E eu sou seu braço direito. (Renato)

—Que tipo de projeto? (Interessou-se Clara)

—Eu explico. Venho há alguns anos, desenvolvendo um talento que recebi de graça do universo, especificamente na literatura. Em busca desse sonho, já escrevi dois livros da série “O vidente” e estou projetando o terceiro. (Eu)

—Nosso objetivo é repassar um pouco da nossa experiência para os leitores nos mais variados temas, a fim de levá-los a refletir e tornar-se ser humanos melhores. (Renato)

—Muito interessante. Vão em frente. Vocês parecem ser realmente especiais. (Clara).

—Eu também acho. Desde que o conhecemos, notamos sua generosidade, bondade, carisma e foi isso que nos atraiu. (Soraia)

—Os encontramos cansados e decididos no interior da mata. Isto nos impressionou bastante. (Comentou Claudionor)

—Além disso, foram muito prestativos conosco apesar de sermos apenas estranhos. (Elogiou Cássio)

—Obrigado. Estamos sempre à disposição. (Enfatizou Renato)

—Eu também quero agradecer a todos. O apoio de vocês, meus amigos, é muito importante para mim.Continuaremos nosso caminho por vocês e todos os leitores que nos prestigiarem. Agora, mudando de assunto, tem algo místico a descobrir por estas bandas? (o vidente)

—Muitas. Temos caboclinhas, rezadeiras, mestres na magia, sábios. Mas muitas destas pessoas já morreram. Os novatos só fazem enrolar. (Informa Eduardo)

—Tem um ainda vivo. Chama-se Angel. Já ajudou a muitas pessoas a desenvolverem seus dons. (Clara)

—Ah, conheço. Estamos na casa dele. Mas mesmo assim obrigado. (O vidente)

—Não somos mestres do conhecimento, mas vivemos experiências também. Se quiser, poderemos falar sobre elas. (Claudionor)

—Claro. Estamos sempre dispostos a ouvir, desde que esteja interessante. (Renato)

—Isto mesmo. (Completei)

—Eu começo. Somos três irmãos simples, criados na roça, com uma boa base familiar, e pessoalmente acredito na vida e nas pessoas. Todo mundo tem potencial e é capaz de progredir, vencer os obstáculos, e se realizar. Claro que cada passo por vez. Se a pessoa se abre completamente para o destino e se esforça o caminho fica mais fácil. Por exemplo, no meu caso, já tenho cinco ovelhas conseguidas com meu próprio suor. (Claudionor)

 

—Concordo. Não só o sucesso profissional, mas também o amoroso depende dos nossos esforços próprios. Ajudamos o destino, criamos laços, vivemos experiências, erramos, acertamos, perdemos, ganhamos. O importante é sermos sempre honestos no que fazemos. (Cássio).

—Além disso, temos que ter fé, esperança, coragem e iniciativa para concretizar os projetos em realidade. Tudo é uma questão de escolha. (Soraia)

—Agora é a minha vez. Sou mais velho e acho que tenho um pouco a transmitir. Vou contar um pouco da minha história pessoal. Desde quando era menino, sonhava em ter independência, construir uma família feliz apesar de não ter bons exemplos disso. Nossa situação financeira era difícil, as brigas familiares eram intensas e corriqueiras, e eu e meus irmão éramos frequentemente espancados por coisas banais. Vivíamos uma grande pressão e por isso alguns resolveram fugir, perdemos o contato, mas eu fui covarde. Suportei até tudo até ficar adulto. Saí então de casa. Percorri o mundo e acreditem, foi muito pior. Apesar da liberdade conquistada, passei fome, sofri humilhações, fui chamado de cabeça chata,errei até encontrar Clara, um anjo em minha vida. Conhecemo-nos numa avenida, onde a ajudei a levantar depois de um tropeço. Imediatamente, simpatizei com ela, trocamos os contatos, saímos algumas vezes,namoramos,casamos,tivemos filhos e vivemos 10 anos enfrentado muitas dificuldades. Mas vencemos. Quando conseguimos dinheiro suficiente, em comum acordo decidimos viver aqui, compramos um sítio. Desde então, somos felizes. Depois de tudo o que vivi, posso afirmar com certeza que os sonhos são possíveis, quaisquer que sejam. (Eduardo)

—Fico feliz em fazer parte de sua vida,querido. Você também transformou minha vida. Quanto a minha experiência, quero dizer que apesar de ter decepcionado minha família ao escolher ser uma simples dona de casa, posso afirmar que acertei. O importante não é o que ganhamos, o status social, os prazeres, e sim estar feliz consigo mesmo com muito ou pouco. É isto. (Clara)

—Esplêndido.Obrigado. Ajudaram muito. Quero dizer que estou muito feliz com a amizade de todos e que desejo manter contato. (O vidente)

—Eu também. Amo fazer amizades. (Renato)

Levanto-me propondo um abraço coletivo e todos aceitam. Neste momento mágico, uma pequena luz surge entre nós e sobe até o céu. Enquanto nós vivêssemos, ela brilharia sempre. Depois dum tempo, nos separamos e conversamos um pouco mais. Quando esgotamos todos os assuntos, nos despedimos e imediatamente procuramos retornar a nossa casinha provisória. Auxiliados pela luz da lanterna, enfrentamos os mesmos perigos da ida, corremos na mata, até que exaustos finalmente chegamos, entramos na residência no mestre, caímos na cama, e dormimos. O próximo dia teria novas aventuras.