Love

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© Editora Gato-Bravo, 2021

Não é permitida a reprodução total ou parcial deste livro nem o seu registo em sistema informático, transmissão mediante qualquer forma, meio ou suporte, sem autorização prévia e por escrito dos proprietários do registo do copyright.

editor Marcel Lopes

coordenação editorial Paula Cajaty

revisão Margarida Fontes

projecto gráfico Bookxpress

arte da capa Geometria Sagrada, de Zélia Chaves

Título

Love: amadurecimento emocional através da vida

Autora

Zélia Chaves

Impressão

Europress Indústria Gráfica

isbn 978-989-9069-09-1

e-isbn 978-989-9069-10-7

1ª edição: Novembro, 2021

Depósito legal 490996/21

GATO·BRAVO

rua Veloso Salgado, 15A

1600-216 Lisboa, Portugal

tel. [+351] 308 803 682

editoragatobravo@gmail.com

editoragatobravo.pt

para todos os seres humanos

que se cruzaram comigo nesta

história de vida.

Ao meu marido,

por ter tido toda a paciência do mundo e

por me ter ensinado a ser uma lutadora.

Aos meus filhos Teresa, Bruno e Sofia,

que sempre foram a minha fonte de inspiração.

À Sara Calazans.

por me conduzir a este objetivo.

À minha amiga Paula Silveira,

pelas sugestões de revisão.

A si, que o irá ler,

desejando que possa delinear os seus sonhos.

Sumário

Love

Notas da autora

Como moldei o meu mundo interior

O que temos feito ao mundo?

Observar o mundo: Olhar de pesquisador

Observar o mundo: O poder mágico das palavras

Observar o mundo: Criar a transformação

Observar o mundo: O amor divino

Observar o mundo: Com o olhar de Deus

Observar o mundo: Um mundo especial

Observar o mundo: Com uma nova energia

Conclusão: Desperte o seu propósito, ele está à sua espera!

Notas explicativas dos meus quadros

Bibliografia comentada

Love

EU ESTOU ASSUSTADA COM TUDO O QUE ACONTECE à minha volta, sinto o peso de uma montanha às minhas costas e este peso incomoda-me muito, não me deixa pensar, não me deixa ver a luz, nem o amor que me pertence por direito divino. Mas eu sinto e sei que, se subir esta montanha que me proponho escalar, lá em cima, no topo, posso fazer o resgate dessa luz universal que é o amor divino e, lá chegando, a minha intuição dir-me-á qual o caminho a seguir, pois vou senti-lo com toda a intensidade das minhas células, sabendo também que, lá no topo da montanha, vou estar com todo o meu poder interior, vou estar em paz e abraçar todas as minhas sombras que me colocaram na escuridão, confundindo-me enquanto estava no sopé da montanha, onde gritava que não queria desistir. Enquanto a escalava, com toda a paciência, fui aceitando os desafios um a um, identificando-os, descodificando-os, experienciando-os e lapidando com todo o amor, as minhas imperfeições e desajustes, porque sabia, através do meu ser, que quando estivesse preparada, iria enfrentar todos os meus desafios com uma outra perceção e com uma nova consciência de qual o meu caminho nesta existência.

Notas da autora

NOS VÁRIOS MOMENTOS E FASES DA MINHA VIDA, tive que criar um propósito “de forma criativa”, com a intenção de, através do diálogo com o espírito e da arte, abrir caminho ao autoaperfeiçoamento. E, de mão dada com o espírito, cultivei esta metodologia de trabalho como base para a transformação interior.

Criei uma comunhão com o espírito com um diálogo simbólico. As imagens que utilizei na primeira página de cada capítulo deste livro são desenhos, pinturas em aguarelas e em acrílico, para revelar o que o espírito gostaria de associar à minha nova postura energética. Esta nova energia, regeneradora e amorosa, que apliquei diariamente, fez com que esta nova história de vida fosse preenchida de paz e harmonia.

As imagens dos sete capítulos deste livro foram inseridas a preto e branco, simbolizando as partes sombrias da minha vida que necessitavam, a todo o custo, de serem transmutadas para uma energia de luz. Metaforicamente, fase a fase, a minha vida foi-se delineando e o sentido do propósito emergiu paralelemente ao caminho trilhado para a transformação interior.

Foi um processo de grande mudança que resultou num despertar espiritual que abraçou a minha nova vida, agora a cores e cheia de luz e, por isso, inseri no final do livro as mesmas imagens, mas com o original a cores. Aí explico, de forma sucinta, o significado de cada quadro.

Esta minha mensagem é a de vos incentivar a se integrarem no grupo dos interessados nesta mudança, cultivando a inteligência espiritual como base de integração dos seus interesses mais profundos, que nos levam a encontrar o nosso propósito de vida. Esta foi a experiência mais bela que alguma vez vivi.

— Zélia Chaves

Como moldei o meu mundo interior

POR VEZES TENTAMOS E PROCURAMOS MOLDAR o mundo de acordo com a herança da nossa educação e dos nossos valores próprios, mas é nossa obrigação apercebermo-nos e compreender, tanto a nossa própria história como a do mundo. Vivê-las com a verdade inerente em cada um de nós, é tornar possível a criação de um mundo melhor.

Em pleno século XXI, onde as mudanças se fazem a um ritmo tão acelerado, cabe a cada um de nós permitirmos conhecermo-nos melhor. Compreender e avaliar o legado da nossa família cultural, assim como o da nossa educação, é fundamental para que seja possível adquirir um conhecimento mais profundo de nós mesmos, o que nos permitirá ajustarmo-nos melhor ao ritmo alucinante da nossa nova era.

Encararmos o mundo exterior tal como ele está obriga-nos a fazer um esforço de uma transformação interior, preparando-nos para as mudanças que vêm aí. Conhecer as nossas verdadeiras emoções, sentimentos e desejos mais profundos é a forma de enfrentarmos o novo mundo, o desconhecido e o que poderá vir de estranho a acontecer nas nossas vidas. É com a clareza da nossa autenticidade que estaremos em melhores condições para compreender e aceitar o mundo com todas as suas alegrias, bem como com as suas desventuras.

A personalidade de cada um deve ser construída com a dignidade e o respeito por nós mesmos. Esta proeza só será praticável com o contributo da nossa força interior, que nos orienta de forma a superarmos objetivos e metas que traçámos. Na prática, para contribuirmos para um mundo melhor, cada um de nós deverá representar e desempenhar o seu papel no mundo, ajustando-nos a cada um dos desafios que ele coloca nas nossas vidas. Só assim é possível adaptar comportamentos e atitudes num gesto mais magnânimo, para que o nosso equilíbrio e também o do Universo, possam ser instalados. Este simples gesto de generosidade pode levar os outros a fazê-lo também, sendo assim arrastados para uma nova etapa desta nova era, onde os erros cometidos no passado possam vir a contribuir para uma energia transformadora que poderá determinar toda a diferença no mundo.

Reconhecer a urgência da nossa paz interior, prosperidade, saúde e amor, leva-nos a identificar energias fundamentais que despertam o nosso discernimento a vários níveis. As nossas memórias mais profundas irão ser acordadas e irão ajudar-nos a identificar distúrbios e padrões, que nos provocam medos, porque lhes dávamos uma importância imerecida. Desbloquear, em nós, algo de maior irá permitir-nos abrir os nossos corações ao amor incondicional e, com esta nova energia a entrar, o medo será substituído pela energia do amor, que mexe com todo o nosso ser e que entra numa dinâmica universal, onde tudo é direcionado para um bem maior que está ao alcance de cada um de nós.

Vamos adiando o nosso indispensável encontro espiritual até que um dia se reconhece a urgência de fazer algo por nós e pelo mundo onde se vive, pelo qual também somos seres responsáveis. A mudança que está presente a um ritmo tão alucinante com as novas invenções, descobertas da ciência e das novas tecnologias, conduzem-nos a sermos confrontados, quer queiramos quer não, com novas e imprevistas situações para as quais nos temos que preparar interiormente.

A meditação é uma das ferramentas interiores que ajuda muito o nosso equilíbrio emocional e psíquico, podendo falar disso com propriedade porque a uso recorrentemente no meu dia a dia. A observação que, por sistema, faço à minha mente é uma forma de avaliar os meus desejos mais profundos, assim como os meus objetivos fundamentais, no intuito de, com a minha verdade, os poder alcançar rapidamente.

 

Os temas que selecionei para este livro foram escritos em diálogo comigo e sempre em comunhão com a meditação. Esta vertente permite-nos refletir, obrigando-nos a ultrapassar os limites da razão. Algo de maior dentro de nós se abre e desenha-se uma nova perceção de novos horizontes. Através dessa porta do desconhecido oculto, vamos ter acesso aos corredores mais profundos da sabedoria interior, que não se aprende nos livros nem em palestras, mas que nos leva, passo a passo, a caminhos por nós ignorados, que nos reestruturam através da verdade da nossa essência. A nossa essência, a nossa verdadeira realidade, começa a ser alcançada e a luz que nos ilumina é uma luz que nos guia de forma rigorosa para alcançarmos o nosso desígnio.

Alguns dos temas por mim selecionados podem ser de abordagem estranha, mas foram as respostas possíveis que encontrei como expressão do meu ser. Os conteúdos foram os que na altura precisei de experienciar baseados em experiências sensitivas e intuitivas, que contribuíram para validar e honrar a minha intuição e orientação interior. Neste livro exponho momentos únicos das minhas experiências reais de vida e os desafios por mim vencidos através das aprendizagens que adquiri. Partilhá-los convosco proporciona-me uma enorme alegria.

É com um amor incomensurável que vos convido a navegarem comigo nesta aventura ao desconhecido, porque é através deste novo caminho que é possível escalar montanhas que antes considerávamos intransponíveis.

Com a esperança média de vida que tenderá a aumentar, não deixou de ser para mim simultaneamente tentador e empolgante entrar neste desafio tão especial e único. Investir em mim, como uma necessidade essencial e encontrar-me como ser humano ao serviço de um bem maior.

A procura do meu sentido de vida abriu-me caminhos inimagináveis, levando-me a desenvolver aptidões que desconhecia, tais como a intuição e a meditação criativa, que me ajudaram a transformar pensamentos, emoções e padrões em pensamentos motivadores.

A minha fé aumenta em cada dia e passei a dar maior significado à minha vida criando uma nova realidade, em parceria com o meu espírito. Escolho Deus como meu parceiro nesta demanda espiritual. Estabeleci um diálogo com o meu ser interior, a minha essência, Deus, o meu EU autêntico, ou o nome que lhe quisermos chamar e recriei-me.

Numa primeira fase, o meu foco era o de ter as ferramentas internas necessárias para a minha transformação interior, que utilizei de forma consciente e que me levaram a desenvolver as aptidões necessárias ao meu processo de mudança.

Numa segunda fase, tentei compreender como podia abrir o meu coração ao amor e como ser mais útil à minha comunidade, sociedade e família. Somos todos iguais embora diferentes, mas todos temos a essência divina sendo nossa obrigação gerir conflitos e desamores. Este ensinamento não vem nos livros e somos nós que, intuitivamente, o temos que aprender. O deslumbramento deste percurso interior, bem como as nossas vivências, leva-nos a descobrir e a ler padrões do passado. Saber honrá-los e mudá-los é uma nova etapa que nos conduz para um outro nível de entendimento muito mais consciente e onde se expia o intangível, da mesma forma como uma criança que faz a sua aprendizagem sem medo.

A gratidão emerge em nós naturalmente por nos sentirmos mudados, diferentes e, sem nos darmos conta, já estamos a agradecer ao Universo, a Deus, por nos sentirmos capazes de enfrentar os nossos medos e por sermos capazes de ousar enfrentar os grandes desafios. Com igual gratidão congratulamos os nossos pares que se cruzam ou estão connosco nessa caminhada única. As nossas experiências mais enriquecedoras e mais libertadoras são aquelas em que os outros servem de espelho, onde reconhecemos uma outra dimensão do nosso ser, que se torna visível para nós e que nos assusta e nos provoca por vezes, mas é com a consciência desta riqueza inimaginável que é possível fazer a mudança de forma transformadora.

A terceira etapa do meu desenvolvimento pessoal foi quando reconheci a importância de uma simbologia angelical que me protege, fazendo-me voltar à criança que há em mim, deslumbrando-me com essa fonte inspiradora. A oração trouxe-me de volta a minha força interior e a luz que necessito para enfrentar os desafios.

A quarta etapa permitiu-me, através da prática criativa, estabelecer um diálogo com a minha origem, o meu espírito, tendo recorrentemente recorrido à pintura como um exercício para atingir o inatingível. Através do processo pictórico, o caminho percorrido pela mancha na tela onde emergem imagens ou formas mais ou menos sinuosas que podem ilustrar um estado de espírito e que, adicionadas à cor, nos conduzem às emoções que conversam connosco através de alegorias que nos podem mostrar mensagens por nós inesperadas.

Se amanhã sentirem o amor, aprenderem a cuidarem-se e ficarem surpreendidos com a abertura do vosso coração ao amor incondicional, esse será o tal dia em que se vão sentir felizes e orgulhosos pela vossa transformação.

O que temos feito ao mundo?

O INTERESSANTE DA VIDA É TER-SE A CAPACIDADE de entender, sentindo a dança maravilhosa das várias facetas do amor, que nos ensina a sentir o amor incondicional e a aprendermos a saber olhar para dentro de nós, percebendo quem somos na realidade e qual o nosso papel a ser desempenhado nesta existência. Experienciar os momentos das nossas vidas sem medo é um dos maiores desafios jamais vividos. A conquista desta recompensa é uma das nossas provas existenciais mais desafiadoras.

Com o despertar de uma nova consciência, que nos irá demonstrar ser possível tornar a nossa jornada mais ousada e interessante, é-nos permitido contribuir para um mundo mais apaziguador e melhor para todos. Com este vínculo e com o nosso contributo energético poderemos fazer a mudança de dentro para fora podendo, dessa forma, contagiar os que nos rodeiam, espalhando o nosso amor num mundo onde valha a pena viver e com a possibilidade de delinear os nossos sonhos através desse compromisso, tornando-nos assim pessoas melhores e contributivas, para que a nossa existência na Terra conduza a um bem maior. O simples facto de se estar vivo já é de uma enorme responsabilidade enquanto ser humano, ter a vontade de alcançar estes objetivos cabe a cada um de nós. Todos devemos, com consciência e amadurecimento emocional, desenvolver o nosso poder pessoal para que possamos desempenhar o papel que nos foi destinado, cabendo-nos dar-lhe um significado mais abrangente. O que temos feito ao mundo?

Cada um individualmente pode fazer esse balanço. Será que lhe demos a importância que ele merece?

Despertar para uma mudança espiritual no sentido mais profundo de sabermos o que andamos aqui a fazer, num mundo que precisa cada vez mais de nós, é algo necessário, urgente e prioritário. Esse momento é o agora!

Despirmo-nos de preconceitos e do “parece bem e do parece mal”, prepararmo-nos para uma viagem que nos irá transportar para um outro olhar de nós próprios, numa outra dimensão do nosso ser e do nosso potencial, que nos transportará para um mundo interior cheio de significado. Reacender a nossa fonte divina e podermos gozar de um infinito amor incondicional, é um privilégio e uma honra para quem o quiser fazer!

Quando chega a hora para assumirmos a necessidade dessa viragem tudo está a nosso favor. Os livros certos para transmitirem a informação aparecem nas prateleiras da livraria como uma necessidade primordial do nosso espírito. As pessoas certas aparecem na hora certa, assim como as nossas experiências de vida que aparecem de forma adequada para que a nossa aprendizagem se possa fazer.

Fazemos parte de um todo orquestrado por uma energia superior universal, com uma inspiração divina que nos leva a desempenhar papéis de representação neste palco que é o da vida, como personagens distintas e únicas que, quando estivermos alinhados com a inspiração divina, nos torna possível a criação de milagres, cabendo a cada um de nós descobri-la nesta nossa aprendizagem. Somos só nós os responsáveis pela orientação da nossa existência, por termos a capacidade de projetar a nossa realidade à medida dos nossos desejos. Somos nós que decidimos se queremos encontrar o nosso verdadeiro sentido da vida e o nosso propósito existencial.

Os conteúdos abordados obrigaram-me a sair da rotina e enfrentar situações de grandes desafios, que me tiraram da minha zona de conforto, levando-me a acreditar que é possível superar os medos em áreas específicas da minha personalidade.

Toda a problemática da minha abordagem interior induziu-me a desbravar o caminho do invisível, levando-me a um nível mais elevado de sabedoria interior, contribuindo para que hoje me sinta uma pessoa mais grata, mais protegida, abençoada e em paz. Sinto-me agora uma pessoa privilegiada por ter sido capaz de honrar o compromisso comigo e com o Universo. Toda a minha escolha temática induziu-me a desbravar o caminho do oculto, levando-me a um nível maior de sabedoria interior, transcendendo o conceito do intangível e percorrendo os caminhos de expiação da minha vida, fazendo de mim uma pessoa mais forte.

Grata por viajarem comigo nesta experiência única do meu ser.


Observar o mundo:

Olhar de pesquisador

MARIA NASCEU NOS ANOS CINQUENTA, com um percurso de vida tradicional. Herdou dos seus pais padrões convencionais de educação, baseados em toda uma panóplia de crenças, regras e preconceitos impostos pela sociedade.

Desde criança que sentia uma ligação ao amor divino e lembra-se de adormecer a rezar, como forma de se sentir em segurança. Com o tempo, não sabendo explicar a razão, a sua mente foi-se preocupando com outras atividades necessárias à sua existência e esta ligação ficou adormecida, até à sua idade adulta. Lembra-se que, quando despertou para a sua aventura espiritual, quando comentava com outros seus familiares sobre a sua nova postura interior, havia sempre alguém que gostava de opinar, desvalorizando-a, mas a sua nova realidade, direcionada para a sua alma como algo de superior, fazia nela eco e sobre a qual não tinha controlo.

O interesse por todos os assuntos que nela pudessem fazer ressonância para este seu novo entendimento era para ela de uma necessidade primordial. Perguntava-se sobre o porquê das provações. Porquê esta sua família biológica? O porquê dos desafios?

O resgate do seu amor incondicional que sentira desde criança fazia-lhe agora uma tal ressonância no seu ser, sentindo-o profundamente como se de uma cura se tratasse, uma cura obrigatória nesta altura da sua vida. Era como se a sua alma lhe pedisse para lhe dar mais atenção e cuidasse do seu corpo pois ambos necessitavam dessa cura.

Maria, por vezes, sentia-se desajustada da realidade do seu dia-a-dia, necessitando que a sua vida profissional e a sua relação com a família biológica fossem ajustadas com a sua desejada forma de vida. Sentia que o seu novo despertar estava a dar-lhe sinais, para ela ainda despercebidos porque, desde criança, tinha-se moldado à sua família biológica, colocando-a em primeiro lugar no seu coração, debatendo-se sempre para ser vista por eles como uma pessoa melhor, sentindo que, desta forma, eles poderiam gostar mais dela com a mesma intensidade com que ela gostava deles.

Tinha uma família muito numerosa porque o seu pai tinha muitos irmãos e irmãs. Quando se encontravam à volta da mesa, eram muitos, a mesa era enorme e todos espalhavam por ela o seu humor e alegria, expressada de uma forma muito divertida. Sendo ainda muito pequena, estes encontros fascinavam-na e faziam-na sentir-se eufórica. Aos poucos, já com mais idade, foi-se apercebendo, com alguma dor emocional, que naqueles encontros havia muitas tricas, mal-entendidos, rivalidades, disputas e, à medida que os problemas se agudizavam, a tal grande mesa foi reduzindo de tamanho e, passado poucos anos, apenas se reunia à volta dela o núcleo duro da família biológica, pais e irmãos, com os mesmíssimos problemas por resolver em cima da mesa.

Maria tentou sempre gerir as situações o melhor que sabia e conseguia, mas o stress e a desilusão foram-se instalando nela. Estas vivências conduziram-na para um entendimento da sua família biológica como uma marca determinante que definiu o seu percurso, ao nível dos valores culturais adquiridos, e ao nível do contributo recebido de uma herança geracional e educacional que vivenciou. Existiram alguns momentos únicos aos quais atribuiu uma enorme importância como valorização pessoal, mas também outros que a marcaram como promotores de uma autêntica solidão.

 

Estas experiências levam-nos a algumas aprendizagens, ou como meros espetadores ou como participando ativamente nelas. Registamo-las dentro de nós, podendo, mais tarde, aparecerem como emoções surgidas do nada, tornando-as difíceis de entender, aleatórias como pipocas à solta, saltando à nossa frente e nós, desesperados, a tentar apanhá-las e identificá-las, uma a uma, tentando perceber o porquê dessa explosão emocional. Constituem experiências que ficam armazenadas dentro de nós que, quando de repente vêm à superfície, nos fazem relembrar as nossas dores emocionais há muito instaladas em nós. Elas surgem através de uma situação, ou até de um pensamento mais desconfortável e, quando tomamos a verdadeira consciência que elas existem e nos incomodam, sabemos que chegou o momento de se fazerem os verdadeiros ajustes. Esses ajustes funcionam como um pedido da nossa alma, para a obrigatoriedade de os fazermos recorrentemente nas várias extensões das nossas vidas.

Maria exerce a profissão que escolheu, e exerceu-a com muito entusiasmo, durante quarenta anos. A sua vida profissional, como professora, tornara-se rotineira ao fim de alguns anos. Foi nesse preciso momento, e sem mais demoras, que ela não se acomodou e, saindo da sua zona de conforto, implementou uma mudança que se obrigou a fazer, porque a escola já não a motivava da mesma forma. Um outro caminho tinha que ser desbravado onde se sentisse mais “viva”, como docente e educadora. Sentiu uma vontade de revolucionar o seu método de ensino, chegando a pedir uma licença sem vencimento para conceber linhas de metodologia de trabalho que lhe possibilitassem ganhar motivação para criar um caminho a seguir que, mais tarde, constituísse o motor da criatividade necessária para gerar uma outra metodologia mais inovadora.

Esta nova postura de Maria permitiu-lhe que, ao regressar à escola, fosse possível mudar a sua rotina de trabalho. As novas metodologias que criou direcionavam-se para atividades criativas, o que a obrigou a adotar uma atitude diferente. Desde então, e de uma forma gradual, foi percebendo que algo estava diferente na sua forma de atuar, estava mais tolerante, mais participativa, com um trabalho mais partilhado e, trabalhando em equipa através das novas tecnologias, criou na sua sala de aula um tipo de ensino mais direcionado para os desafios digitais, que aplicou como uma mudança importante e necessária neste contexto de transformação.

Assim como tinha conseguido implementar a sua mudança na sua vida profissional, também o fez noutras áreas da sua vida onde se sentia pouco confortável. Estava a atravessar um momento crucial no seu grupo /família e, de uma vez por todas, tinha que encarar os problemas um a um e, sem mais demoras, para tentar resolvê-los, implementou a sua mudança interior. Estando a sua vida profissional a decorrer de forma mais equilibrada, tinha também de lidar com algumas emoções mais constrangedoras e, por vezes, até asfixiantes, que ocorriam nas relações do seu grupo/ família, que lhe davam verdadeiras dores de cabeça e lhe provocavam uma profunda tristeza e alguma instabilidade emocional.

Desde criança que sentia padrões socio culturais e educacionais rígidos e inflexíveis, que lhe bloqueavam o seu processo transformador. Estava à beira de um “ataque de nervos” porque se sentia triste, com mágoas profundas a resolver e com um muro difícil de transpor entre ela e o exterior. Este estado de alma provocava-lhe um desmoronamento da vertente dos afetos que a levavam a interrogar-se do porquê de só agora os ter de enfrentar. Por outro lado, comportamentos e atitudes pouco transparentes da parte da sua família biológica estavam a pôr em causa toda a união do grupo /família, sendo-lhe confrangedor constatá-lo e, acima de tudo, vê-los como atitudes que não estavam em sintonia com a sua forma de pensar, de agir, nem em sintonia com a sua verdade.

Sentia-se triste, sentindo dor no seu corpo e na sua alma. Era como se o seu espírito estivesse em sofrimento, para ela sinal significativo de que lhe era exigida reflexão e meditação, para entender não só o que se estava a passar dentro de si, mas também para poder libertar a verdadeira tristeza que se tinha instalado nela.

A sua escalada espiritual começa com a tomada desta consciência. Não quer mais isto! Quer relacionar-se com o seu grupo/família, dando-lhe o seu contributo relacional, contribuindo com uma energia positiva e com a sua verdade e, mesmo sabendo que iria passar por situações desafiadoras, ela estava determinada a fazê-lo. Era urgente e imperativo, para ela, identificar os padrões, os comportamentos e as atitudes que a bloqueavam, ajustando-os a uma nova postura. Quando decidiu tomar as atitudes que estavam em sintonia com o seu novo sentir, apoderou-se dela o medo pois não queria que, fruto da sua nova postura, deixassem de gostar dela e isso assustava-a. Sempre fora olhada pela sua família como a mais rebelde, o que muitas vezes era visto com um sentido depreciativo. Mas a sua transformação interior era obrigatória e implicava voltar às memórias da sua infância para identificar padrões e medos que a eles estavam ligados e, assim, os poder libertar como parte integrante do seu processo de mudança.

Porém, os seus medos estavam a impedi-la de avançar, criando-lhe uma instabilidade psicológica e emocional que se refletia no seu dia-a-dia. Essa instabilidade provocara-lhe desequilíbrios que já se projetavam no seio da sua família construída, seus filhos e marido, que não tinham culpa nem entendiam o porquê deste seu estado de dor emocional. Precisava de autoajuda e foi nesta fase da sua vida que recorreu à meditação como forma disciplinada de estar mais tempo com ela própria, sujeitando-se a um confinamento interior.

A introspeção, a reflexão e o sentir o seu estado de alma levaram-na a encarar a sua mudança transformadora como uma nova postura existencial. Tinha chegado o momento de fazer os ajustes dos seus erros e comportamentos, cuidando de si e olhando-se, de uma vez por todas, como uma pessoa que também merecia atenção. Queria ser mais alegre, fazer esse resgate e ser mais feliz, estando tudo dependente da sua decisão.

Sabendo da sua importância como pertença no seio do seu grupo/família, pensou no árduo trabalho que ainda tinha pela sua frente para lapidar todas as suas imperfeições, mas era imperativo purificar a sua alma, por um processo interior, só dela, fazendo o polimento dessas imperfeições, camada por camada, até atingir a sua escondida essência como parte obrigatória da sua transformação. Isto veio a exigir-lhe uma prática diária e uma postura interior constante, assumindo o comando da sua transformação interior.

Tudo apontava para a sua urgência de recriar a sua história pessoal, sentindo-a intuitivamente como estando no momento certo e já estando preparada para o fazer!

Maria levara toda uma vida a auto proteger-se em relação aos comportamentos politicamente corretos que tinha que ter, engolindo, por vezes, sapos para agradar a todos. Foi criando couraças para se proteger das adversidades, muitas vezes ignorando-as ou protelando as consequências no tempo, à espera de que alguma coisa a conduzisse para a mudança. Relembrou-se da sua solidão em criança, dos juízos de valor, das atitudes e comportamentos negativos que nela estavam registados. Tinha ignorado o seu poder pessoal em prole dos outros, assim como o da sua autoestima, e a sua voz interior dizia-lhe que a mudança tinha de ser feita e que só ela podia mudar o que nela tinha de ser mudado, mais ninguém.

Ela era a única responsável pela sua vida e só ela podia entender a natureza da sua crise existencial e resolvê-la. Quando começou a ter consciência da importância do seu equilíbrio emocional e psíquico, através da meditação começou a ouvir-se e a compreender melhor os seus infortúnios, identificando-os através das energias que despertavam num mundo desconhecido para ela. Começou a ter consciência da sua espiritualidade como parte integrante do seu ser. Foi nesse momento que ela colocou ao seu próprio serviço todas as ferramentas interiores que adquiriu ao longo de alguns anos.

Através de meditação regressou à sua criança interior e foi identificando mágoas e emoções do passado associadas aos seus padrões e feridas internas que emergiam como pedidos de socorro. Com carinho, olhou para aqueles episódios do passado que deixaram pegadas de maior ou menor relevância na sua vida e, abrindo o seu coração ao amor, acariciando essas sombras, libertou algumas partes de si. Através do seu coração, e efetuando uma limpeza profunda do seu passado, perdoou-se por todos os erros que tinha cometido, quer através dos seus comportamentos e atitudes, como também através de pensamentos mais negativos, perdoando também aos outros as ações e palavras que a tinham afetado.

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