Apaixonadamente Desconcertante

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Apaixonadamente Desconcertante
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Apaixonadamente desconcertante

Diana Silva

ISBN: 978-84-19300-30-0 [recurso eletrônico]

1ª edición, febrero de 2022.

Editorial Autografía

Calle de las Camèlies 109, 08024 Barcelona

www.autografia.es

Reservados todos los derechos.

Está prohibida la reproducción de este libro con fines comerciales sin el permiso de los autores y de la Editorial Autografía.

Índice

Agradecimentos

Janeiro

Fevereiro

Março

Abril

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

Sinopse

Agradecimentos

Com amor e carinho, dedico aos meus filhos, Diogo e Maria.

Gratidão aos que cruzaram o meu caminho, contribuindo para a minha evolução.

Janeiro

«Escutai, pois, a parábola do semeador.

Quando um homem ouve a palavra do reino e não compreende, chega o maligno e apodera-se do que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente à beira do caminho.

Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos, é o que ouve a palavra, e a acolhe, de momento, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, é inconstante. Se vier a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbe logo.

Aquele que recebeu a semente entre espinhos, é o que ouve a palavra; mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, que assim não produz fruto.

E aquele que recebeu a semente em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende: esse dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta.»

Mateus, 13: 18-23

Naquela noite, não conseguia dormir...

Na imensidão do espaço, ouvia a chuva lá fora, que caía, suavemente, no asfalto da rua, de forma desconcertante e confortável. Sentia um aperto no peito e as lágrimas teimavam, devagar, uma após outra, alternadamente, em cada face. Ansiedade ou agitação por uma nova descoberta? Pois, a cada dia que passava, descobria emoções novas... Angústia ou alegria? Às vezes, êxtase, por sentir uma felicidade de quem continuava a encontrar-se a cada dia, a amar-se um pouco mais, à medida que o tempo passava...

Havia dias, em que questionava... “O que se passa?”, “Que processo intrínseco é este?”, “Uma paixão crescente?”... As respostas que surgiam, por vezes, em espiral, levavam-me a uma sensação de confusão. Outras vezes, preferia ignorar, temendo a loucura...

Sedenta de viver e experienciar a vida, via-me, muitas vezes, e, contraditoriamente, a procrastinar.

— Nestes tempos, há que fazer a aceitação! – dizia, ao telefone, esperando acalmar a minha mais recente amiga, Fiona. – Chora, mas depois anima-te, querida! – continuava eu, na expectativa de lhe transmitir alguma positividade e de me lembrar também daquilo em que eu própria teimava em acreditar.


— Estou cansada, Nina! – respondia-me ela, com voz trémula e quase a querer desistir...

Desliguei e lembrei-me que a adaptação é sinal de inteligência. Decidi, então, adaptar-me, convicta de que, nesse processo, seria basilar tentar colocar-me, sempre que possível, no meu melhor; dar o melhor que conseguir a mim mesma...

Enquanto me perdia nestes pensamentos, recordei um conselho que tinha dado a um amigo, ainda nesse dia:

— Relaxa... A vida é bela de tão simples que é! Hoje mesmo, tenta proporcionar, a ti próprio, bons momentos: simples, mas prazerosos!

— Já me sinto melhor por falar contigo! A tua voz acalma-me... – respondeu ele, no meio de um suspiro.

— Os tempos trouxeram grandes alterações no nosso dia a dia. Mas temos tantas coisas boas, vamos concentrar-nos nessas! Temos a amizade, estamos juntos... – concluí.

Depois de um jantar tranquilo, ao som de Mozart, Beethoven e Vivaldi, saboreei o último gole de vinho, que contrastava com o chocolate amargo.

Já no banho, deixei-me embalar por uma música inspiradora. Tentava sentir, delicadamente, os contornos do meu corpo, acariciando os mamilos com o sabonete de alecrim que teimava em escorregar. Quase num ambiente de sedução, não conseguia evitar de admirar a maciez da minha pele.

Sequei, suavemente, o meu corpo, respirando profundamente e experienciando ainda o prazer que sentira com a água quente que caíra, de uma forma quase terapêutica, sobre mim.

Continuei, em amor, massajando as minhas pernas com um creme leitoso e perfumado. Admirava, ao pormenor, cada parte que massajava, sem pressas e em presença.

Acabei por passar o meu serão a fazer o que tinha sugerido, nessa tarde, aos meus dois amigos.

Um filme romântico, onde um amor, aparentemente impossível, surpreendeu...e, superando as expectativas, mostrou que afinal tudo é possível! Mais umas quantas lágrimas, cheias de esperança, fantasia e fé, deslizaram como a água de um riacho quase seco.

E foi assim que, nessa noite, iniciei a concretização de um sonho.

Continuo a acreditar que, muitas vezes, é pelo mergulho nas águas mais gélidas que advêm os melhores processos criativos.

Próxima de iniciar uma espiral de pensamento compulsivo, hoje decidi não resistir e ir na “viagem”...Como acredito que “tudo está certo”, aceitei e deixei-me levar apenas pelo momento, aproveitando cada minuto presente, que o deixava de ser a todo o instante, tornando-se num passado que não existe mais...

Mais uma noite em que me perco no tempo, desvanecendo, sem me aperceber...

A propósito, chamo-me Nina, mulher destemida por natureza e, geralmente, descontraída e espontânea.

— És mesmo ingénua! – dizem algumas amigas mais íntimas.


Igualmente, impulsiva e direta, ao ponto de, por vezes, parecer insensível ou sem filtros...eu diria “naif”, talvez uma das melhores palavras para me definir.

Mas, enfim, muito suspeita para falar de mim própria! Apanhei esta frase de um amigo, por quem quase me perdi, um dia...

Já não se ouve a chuva, os pingos deram lugar a um vento invernoso. Ouve-se lá fora, corajoso e imponente, como se quisesse afirmação ou reconhecimento. A esta hora tardia, só ele irrompe o profundo silêncio noturno.

Ultimamente, o silêncio é cada vez mais uma constante. Mesmo durante o dia, as ruas estão quase desertas. As conversas de café onde, normalmente, imperavam os comentários sobre as notícias do dia, as lamentações e as gargalhadas ocasionais, aos poucos, foram substituídas pelo silêncio e pelo cruzar de braços. Nos passeios, os olhares vivos e alegres passaram a direcionar-se para o chão, como que vencidos pelo cansaço e algum desalento. Os sorrisos? Esses, já não os conseguimos ver, tapados pelas máscaras, que se impõem.

“Temos de nos adaptar aos novos tempos!”, insisto com a minha mãe, em cada telefonema diário. “Tem cuidado, filha!”, aconselha-me ela, sem saber mais o que dizer, como se essa frase lhe transmitisse a sensação de dever cumprido. “Mãe, adaptação não significa falta de responsabilidade!”, respondo, sentindo uma ponta de julgamento. Acabando, no final, por reconhecer que, provavelmente, era eu quem poderia estar a ajuizar.

A verdade é que, a grande maioria das pessoas ainda mantém a crença do apego e a convicção do domínio. O medo de verem partir aqueles que amam, o anseio de perderem aquilo que adquiriram e que pensam que possuem, o temor de ficarem sós...Crenças que geram nas pessoas um determinado conjunto de atitudes e comportamentos que as afastam da sua essência, distanciando-se do apenas SER.

São criadas ansiedades desnecessárias que, por sua vez, proporcionam o encapsulamento da alma. As pessoas tornam-se prisioneiras dos seus próprios medos e, como consequência, da necessidade de controlar. Muitos acreditam que tendo determinados cuidados, correspondendo às expectativas alheias e cumprindo direitinho o que a Sociedade lhes impõe, que tudo vai correr bem e que serão felizes para sempre! Bastante irónico, não?

Tendo em conta que, de um dia para o outro, ou numa fração de minuto, podem perder tudo, chegando, rapidamente, à conclusão de que o controlo, afinal, não servia para nada, era apenas uma fantasia, uma mera ilusão...

Efetivamente, a única verdade absoluta é a impermanência!


Já amanheceu e, aqui em casa, ao fim-de-semana é hábito acordar tarde. É meio-dia e a Ariel ainda dorme “enrolada” no edredão branco, como se fosse uma crisálida.

 

O Simão mantém a porta fechada e o quarto num escuro cerrado, como se ainda fosse de madrugada.

Partilhamos a casa com os nossos gatos. A Grey, uma gata cautelosa, independente e tranquila, de olhos azuis e de pelo grisalho. O Billy é um gato preto e branco, relaxado, irrequieto e mimado.

Dois adolescentes na flor da idade, uma mãe quase bipolar e um gato e uma gata, que ora se amam ora se odeiam e que, muitas vezes, devem julgar que estão no meio da selva ou na savana africana...não preciso de dizer muito, para se perceber que aqui não há monotonia.

— Ariel! – chamo, enquanto abro os estores, para ela perceber que já é bem de dia. – Bom dia! Sabes que horas são, menina?

Bato à porta do Simão, entro na escuridão e faço clarear o quarto o mais depressa possível.

— Acorda miúdo! Já é tarde!

A minha filha Ariel tem 13 anos, menina rebelde, refilona, mas muito sensível e discreta. Tem um sentido de humor muito próprio e ambiciona ser atriz ou encenadora.

O meu filho Simão já tem 18 anos, pensa que sabe tudo e tem a pretensão de ser o “homem da casa”. É um rapaz descontraído, inteligente e sabe bem o que quer.

Abro a porta da varanda e, finalmente, o sol aparece envergonhado, por entre algumas nuvens. Tão bom! Depois de uns dias de nevoeiro e chuva, sabe mesmo bem!

Recostei-me na cadeira branca almofadada e bebi um café bem longo e quente.

Seguiu-se um duche rápido. Estava preparada para a primeira caminhada do dia.

Lembrei-me, novamente, dos avisos da minha mãe...

— Filha, se saíres à rua, só meia hora e de máscara! – dizia cautelosamente, do outro lado do telefone, já pela décima vez.

— Deves pensar que sou uma estouvada! – retorquia, como se viajasse no tempo até à rebeldia da minha adolescência.


“Mesmo que me aposse das asas da aurora, e se for morar nos confins do mar, mesmo aí, a Vossa mão me conduz e a Vossa dextra me segura.”

Salmos, 139: 9

Não saí de casa, sem antes ligar à Mel, a minha melhor amiga. Hoje foi o seu último dia de Isolamento por ter contraído Coronavírus. A voz dela denunciava francas melhoras, estava com uma ótima energia e começava a querer voltar à normalidade das suas rotinas.

Finalmente, saí à rua. Vestia leggings pretas, um casaco desportivo e uns ténis brancos. Sentia-me leve e confortável, de paz com a vida, feliz por estar bem e sentir o mundo. Caminhava, calmamente, tentando observar tudo o que me rodeava. Não se via ninguém na rua, passava só um ou outro carro, esporadicamente.

Já há muito que não saía para caminhar. Talvez, por isso, estivesse a valorizar de uma forma tão intensa. Gratidão, era o que sentia!

Olhava para o céu, para os jardins das moradias, contemplava o voo das aves que passavam em bando. Sentia os cheiros que vinham das casas, os aromas dos cozinhados e dos fumos que saiam das chaminés.

Inspirava, profundamente, para absorver as sensações e perceber as emoções que daí advinham.

— Gratidão! – exclamava, silenciosamente.

Regressei, sabia bem chegar a casa, o meu corpo acusava algum cansaço. Assim que fechei a porta, as notificações começaram a dar sinal; comecei a ler as primeiras mensagens...

— Olá, Nina. Como estás? Melhor? – perguntou o meu cabeleireiro.

— Olá, Charlles! Estou melhor, sim! – respondi, radiante.

Uns dias antes, eu tinha feito o teste ao Coronavírus. Recebi o resultado da análise, estava positivo! “Está tudo certo!”, pensei para mim mesma, no sentido de me tranquilizar...

Apesar de sentir sintomas fortes em todo o corpo, não iria desanimar, sabia que iria ficar bem. E depois de uns dias de repouso quase absoluto, bastante vitamina C e de muita paciência, recuperei bem!


“... Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes:... Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância...“

João, 10: 10

— Tens um visual novo? Aquela máscara no teu perfil! – continuei a conversa.

— Já estava cansado da minha foto! Já agora, sobre o livro que estás a escrever, é um romance?

— É segredo. – afirmei, misteriosamente. – Não posso dizer-te... depois vês!

— És uma mulher de segredos. Estás em casa? – questionou Charlles.

— Sim, mas vou sair. – rematei, pois já não me apetecia conversar.

— Estou um bocado agitado!

— Então? – questionei, com alguma preocupação.


— Adorava ver-te!

— Deves acalmar-te, Charlles. Fica bem. – despedi- me.

— Ok. Boa campanha! Estás a dar o fora.

Não menti, ia mesmo sair, tinha de ir depositar o lixo.

O vento continuava cada vez mais forte e o céu escuro anunciava chuva intensa.

Voltei com boas intenções, projetava fazer algumas limpezas domésticas. Mas, em vez disso, deitei – me no sofá, perdida, novamente, nos meus pensamentos...

De repente, lembrei-me de ir ver fotografias antigas.

O telefone tocou, inesperadamente, era a minha amiga Mel.

— Olá, como estás?

— Olá, querida, estou bem. Estou a ver as fotos das minhas últimas férias com o meu ex-marido. – respondi.

— Isso não te faz mal? – perguntou, em jeito de alerta.

— Comecei agora, até acho piada! Daqui a pouco, não sei! – sorri, divertida.

— Vê lá, provavelmente, não te fará bem!

— Sei lá! Acho que depende do estado de espírito. – disse, despreocupada. – Estou a olhar para mim nestas fotos e, apesar de estar em família, parece que eu já não pertencia ali...concluo agora que, nesses últimos meses, eu já estava fora, mas nem me apercebia!

— Conta tudo, Nina!

— Dizem que não devemos falar do passado, mas com o David, acho que não me colocava no meu melhor!

— Então? Porque dizes isso? – continuava Mel, querendo entender-me.

— Apesar de o amar, acho que, nem sempre, consegui ser eu própria. No entanto, não lamento nada! Agradeço cada momento em que estivemos juntos!

— Sim, tu é que te colocavas nesse lugar. Era uma escolha tua! – concluiu.

— É verdade! Sabes Mel, acredito, mais do que nunca, que todas as experiências são bênçãos que chegam até nós, até as mais dolorosas.


— Querida Nina, não tinhas o aprendizado que tens neste momento!

— Deixa... pode ser necessário estar aqui a recordar, para arrumar as ideias, sei lá!

— Pode sim, se estás a ver, é porque precisas, não te questiones! Beijinhos amiga, fica bem!

— Tem uma boa noite, querida Mel.

Entretanto, enquanto confecionava, tranquilamente, o jantar, o telefone voltou a tocar... era uma amiga de infância, a Ísis.

Ao mesmo tempo que conversava com ela, contando todas as novidades, a minha filha Ariel falava com o pai, por videochamada.

O pai de Ariel, o meu ex-marido David, está a viver em Miami. Quando tomámos a decisão do divórcio e ele percebeu que já não havia retrocesso, decidiu ir para o estrangeiro. Tinha concluído uma licenciatura em Engenharia Civil, despediu-se do seu emprego e optou por começar do zero. Calculo que esteja feliz.

O jantar decorreu com normalidade, mais uma vez, ao som de uma boa música clássica.

A hora das refeições é o nosso momento em família, é sempre uma ocasião especial, sem televisão e onde todas as tecnologias são excluídas. São largos minutos de conversações, em que se fazem desabafos, dissertam-se filosofias de vida e, por vezes, contam-se segredos nunca contados.

Ariel aproveitou para desabafar sobre algumas amigas. Referiu que estava preocupada com uma amiga que pensava que estava a ficar com anorexia nervosa.

Eu confidenciei-lhe que, numa fase da minha adolescência, sofrera de distúrbios alimentares, nunca diagnosticados, é certo, mas dos quais tive consciência. Felizmente, ainda fui a tempo! Tinha uma baixa autoestima e sentia que nunca estava bem, magra ou elegante o suficiente. Julgo, agora, que eu própria não me sentia suficiente. Passava a vida em dietas e organizava o meu dia quase em função disso. Era esgotante e comprometia, vincadamente, a minha tranquilidade e alegria.

Conversámos um pouco sobre o assunto, sobre o que poderá levar uma jovem a sofrer esse distúrbio e como é importante ter todo o apoio possível, da família e dos amigos.


“...porque Vós sois o meu auxílio, e à sombra das Vossas asas exulto. A minha alma aperta-se contra Vós e a Vossa mão direita me sustenta.”

Salmo, 63

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